Days Gone: Zumbis sem clichês
Jogo chega ao mercado de games justamente quando há um questionamento sobre a enxurrada de lançamentos desnecessários sobre a temática “mortos vivos”; exclusivo de PS4 consegue fugir do “mais do mesmo”?
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 09 de maio de 2019
Jogo chega ao mercado de games justamente quando há um questionamento sobre a enxurrada de lançamentos desnecessários sobre a temática “mortos vivos”; exclusivo de PS4 consegue fugir do “mais do mesmo”?
Victor Lopes - Grupo Folha

Do filme a Noite dos Mortos Vivos (1968), do aclamado diretor George Romero, até a série blockbuster The Walking Dead, na TV há nove anos, a indústria pop usou e abusou dos zumbis. Nos games, quem trabalhou o tema magistralmente – com alguns percalços, é verdade – foi a Capcom na franquia Resident Evil, um clássico do survival horror, e também a Naughty Dog, com o super premiado The Last of Us (2013). Mas entre tantos filmes, séries e jogos recentes, é preciso dizer: os zumbis se tornaram commodity com uma enxurrada de lançamentos desnecessários, deixando o temática massante e repetitiva.
E foi neste cenário cheio de clichês, até porque é difícil criar algo novo sobre o assunto, que a Bend Studio, da Sony, lançou no final do mês passado o game Days Gone. Mundo aberto pós-apocalíptico, facções se matando para conseguir sobreviver no caos, e frenéticos (os zumbis do game) para todos os lados são os alicerces do jogo exclusivo para Playstation 4. A reportagem da FOLHA recebeu uma cópia do game para avaliação e responde a pergunta vital: precisamos de mais um game sobre zumbis?
Bem, a publisher mostrou que ainda é possível criar algo interessante sobre o assunto, mas não totalmente inédito. Ainda que o game fique abaixo dos exclusivos da Sony lançados nos últimos anos – como God of War ou Homem Aranha – o jogo cumpre bem seu papel principal com os jogadores, que é prender com uma boa narrativa (às vezes arrastada) e com um gameplay fluído, que dá vontade de jogar mais e mais. Elencamos agora, por tópicos, o melhor e o pior de Days Gone.
Moto na estrada
Days Gone se passa em mundo aberto num mapa gigantesco, permeado de mistérios, fauna e flora abundante e claro, frenéticos e mercenários por todos os lados. Para se locomover neste local, o personagem Deacon St John, ex-militar e agora motoqueiro 'out of law', precisa de sua possante a todo instante. A motocicleta de Deacon é o ponto algo do game.

A grande sacada é que a moto do personagem sofre avarias e vai perdendo combustível ao longo da jornada. Portanto, o jogador precisa a todo tempo encontrar sucatas para consertá-la e também gasolina nos lugares mais inóspitos. As tarefas são um pouco repetitivas, mas não nego que é gostoso explorar locais sujos, cheios de colchões velhos, escuros, sempre na expectativa de acontecer algo perigoso. Os 'jumpscares' estão garantidos.
Missões e mais missões
Bem, o enredo do jogo se passa dois anos após a infestação que tornou os seres humanos em freakers. Como na série The Walking Dead, o mais perigoso não são os zumbis, mas os seres humanos sobreviventes – que também se tornaram “monstros”, de alguma forma – que estão vivendo numa selvageria absurda. Portanto, cabe a Deacon lidar com facções, negociar com gente perigosa, matar mercenários e, no meio disso, ainda encarar a zumbizada e suas hordas, o que é divertido e bem estratégico em alguns momentos e chato em outros.
O grande problema é que o enredo, que trata da perda de pessoas próximas e a busca por um lugar melhor, acaba se arrastando. Em meio às missões principais, acabamos lidando com missões que parecem secundárias, mas que são obrigatórias. Exemplo? Ir até um lugar e salvar uma pessoa, queimar seis “ninhos de zumbis” ou matar dez bandidos perigosos que estão rondando seu acampamento. Isso ao longo do tempo se torna enfadonho, o que é comum em jogos de mundo aberto que prometem muitas horas de gameplay. Se o game foca na história, ela precisava ser mais bem contada. Menos horas de jogatina ajudariam bastante Days Gone.
E os personagens?
Muito gente achou que os personagens de Days Gone são genéricos. Concordo em partes. A relação entre Deacon e Boozer, seu melhor amigo no game, é bacana no começo do game e prende a atenção, apesar da conversinha fiada de vez em quando.
Gameplay aprovado
Apesar do número exagerado de cutscenes fora de hora e loads demorados, quando a ação começa Days Gone vai bem. É prazeroso e intuitivo equipar a moto, trocar de armas, lidar com a árvore de habilidades e claro, picar a bala em zumbis e outros inimigos com um arsenal bacana, além da furtividade que é gostosa. Três pontos me incomodaram na jogatina, mas que não atrapalham de forma geral: a inteligência artificial dos inimigos é pobre, a mira da arma é ruim e o sistema de cobertura esquisito.
Days Gone, sem dúvida, não consegue fugir de todos os clichês da temática zumbi. Tem muitos acertos – principalmente de gameplay - mas às vezes peca pela repetição das missões e horas extras de jogatina. Talvez, se o jogo tivesse sido lançado no início da geração, a receptividade seria outra. |Mas se o leitor é apaixonado pelo tema zumbis, o jogo é indispensável.
Entre os gamers, nota 8
As avaliações de Days Gone feitas pela crítica especializada ficaram abaixo da média esperada – fechou na média 72 – principalmente quando se trata dos “exclusivos queridinhos” da Sony. Os “triple A” da empresa japonesa geralmente atingem outro patamar de notas. Não foi o que aconteceu com Days Gone no Metacritic, site que reúne reviews do mundo todo.
Mas o que importa mesmo são o que os jogadores estão falando dos games. A reportagem acredita que a nota 8 dada pelos fãs no site – de exatas 800 avaliações – é mais condizente com o que o jogo entrega.
O estudante de direito, Rodrigo Lino, comprou o jogo no lançamento e dá sua nota final: 8,5. Para ele, o game tem uma liberdade de exploração bacana, sendo a limitação de gasolina e os danos na motocicleta bastante realistas. “Não acho que o jogo trouxe novidades no assunto, o game se parece muito com The Walking Dead, inclusive o personagem lembra muito o Daryl da série, o que deixa o jogo sensacional. Você explora locais abandonados com suprimentos, as comunidades, estradas com emboscadas... Eu curto demais a temática zumbi e não enjoo.”

