No modelo da LG, com o uso do ToF é possível abrir aplicativos, capturar telas, aceitar ou rejeitar chamadas e controlar o volume de mídias
No modelo da LG, com o uso do ToF é possível abrir aplicativos, capturar telas, aceitar ou rejeitar chamadas e controlar o volume de mídias | Foto: Divulgação

Os mais recentes lançamentos de smartphones escondem no seu interior um recurso com um nome diferente: ToF, ou Time of Flight, que pode ser traduzido como “tempo de voo”. Trata-se de um sensor que emite pulsos de luz led infravermelha (a mesma emitida por controles remotos) ou laser e permite que a câmera “enxergue” de forma tridimensional. Isso é possível porque o sensor mede a distância do aparelho para objetos ou pessoas à sua frente. A distância é calculada a partir do tempo que a luz infravermelha leva para “viajar” do aparelho até “bater” nos objetos ou pessoas. O cálculo é feito em apenas uma fração de milésimo de segundos. Dessa forma, a câmera é capaz fazer um “mapa tridimensional” do cenário.

“Com isso, é uma câmera que mede a profundidade. Com o processamento dessa imagem, a gente consegue medir a distância da câmera para objetos, área, volume ou até mesmo tirar fotografias tridimensionais”, explica Marcelo Zuffo, professor da USP (Universidade de São Paulo) e membro do IEEE (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos).

Segundo Zuffo, a ToF começou a ser usada nos smartphones apenas recentemente, com o barateamento da tecnologia. Até então, tinha, por exemplo, aplicações militares.

A tecnologia também é utilizada nas práticas esportivas, para medir o alcance no tiro esportivo e distâncias no golfe; na robótica, para que os robôs “enxerguem”, e em carros autônomos e na aviação, impede que carros e aviões colidam entre si, acrescenta Fabrício Habib, gerente geral de Produtos Móveis da LG Electronics do Brasil. “Isso abre um mundo de oportunidades.”

Mas o ToF também já estava em produtos bastante conhecidos do público, como o Kinect, da Microsoft. O sensor é usado pelo aparelho para que o Xbox, console da Microsoft, possa reconhecer os movimentos e a posição do jogador.

Os sensores TOF conseguem atingir uma boa extensão, com alta precisão e leituras rápidas, além de não consumir muita energia, afirma Fabrício Habib, gerente de Produtos Móveis da LG
Os sensores TOF conseguem atingir uma boa extensão, com alta precisão e leituras rápidas, além de não consumir muita energia, afirma Fabrício Habib, gerente de Produtos Móveis da LG | Foto: Mie Francine Chiba

“Parte da razão para os sensores TOF terem entrado no radar dos smartphones tem relação com o fato de eles conseguirem atingir uma boa extensão, com alta precisão e leituras rápidas – tudo isso em um componente que não chega perto de ser grande e que não consome muita energia. É a combinação perfeita para colocar algo dentro de um celular”, comenta Habib. O ToF está presente no modelo G8S ThinQ da marca, que é considerado o primeiro com o dispositivo acoplado à câmera frontal do smartphone.

Nos aparelhos da Samsung, o recurso está presente no Note10. “A tecnologia em si já existe há algum tempo. Mas como os sensores estão cada vez menores, foi possível colocar num smartphone pelo tamanho e consumo baixo de bateria”, afirmou Renato Citrini, gerente sênior de Produto da Divisão de Dispositivos Móveis da Samsung Brasil.

Apesar de imperceptível aos olhos – e mãos – do usuário, o ToF pode ter aplicações interessantes. No momento, o sensor é utilizado pelos smartphones principalmente para gerar efeitos nas fotos, como o conhecido efeito bokeh, que destaca os objetos ou pessoas em primeiro plano e deixa o fundo desfocado. Por meio do sensor ToF, o efeito é aplicado nas fotos com mais precisão, afirmam as fabricantes, já que o dispositivo permite que a câmera consiga determinar melhor o que está mais próximo e o que está mais distante. “O sensor é melhor aplicado no efeito desfocado das fotos, pois funciona de forma que o objeto principal é 'separado' do fundo (background)”, explica o gerente da LG.

“Antes do ToF, o efeito bokeh era feito pelo processamento da foto sem nenhum tipo de medição real da distância. O resultado não era tão bom, nem tão preciso”, afirma Daniel Dias, gerente de produtos da Huawei Consumer Business Group Brasil.

No modelo da LG, o ToF associado à câmera frontal permite que o usuário dê comandos ao smartphone por meio da detecção de gestos. É possível abrir aplicativos, capturar telas, aceitar ou rejeitar chamadas e controlar o volume de mídias usando o recurso. Também possibilita fazer o desbloqueio do celular pelo reconhecimento do padrão de veias da mão à prova de fraude por meio de imagens em 2D, e independentemente da luminosidade do ambiente.

Em demonstração no lançamento do Samsung Note10, um bicho de pelúcia foi escaneado em três dimensões pela câmera com sensor ToF e aplicado a vídeos em que o bicho “dançava” de acordo com os movimentos de uma pessoa em uma aplicação de Realidade Aumentada.

Porém, no futuro, a ideia é que o ToF tenha outros tipos de aplicações. “Essa tecnologia no futuro vai permitir que o celular possa fazer muito mais coisas com a câmera do que a gente pode imaginar. Escaneamento 3D de objetos, processamento tridimensional de fotos, dentre outras possibilidades”, destaca o professor da USP, Marcelo Zuffo.

“O sensor no smartphone pode ser usado para ajudar a fazer um mapeamento facial do usuário e contribuir para aumentar a segurança em aplicações que usam o desbloqueio facial”, exemplifica Daniel Dias, da Huawei Consumer.

Para Citrini, da Samsung, o sensor pode ser utilizado para medir objetos e espaços por meio do smartphone. Assim, o usuário pode medir uma mesa e, com Realidade Aumentada, saber se o móvel caberá em um cômodo da sua casa, por exemplo. Vai depender da criatividade dos desenvolvedores o surgimento de novas aplicações para a tecnologia.