CHARLOTTE (EUA) O fim da pandemia e a volta ao escritório, ao menos por alguns dias da semana, criaram novos desafios para os sistemas de gerenciamento dos chamados prédios inteligentes.

Agora, além da otimização dos mecanismos de segurança e da busca por uma redução dos impactos ambientais dos edifícios corporativos, surgiu a necessidade de monitorar com mais precisão o uso do espaço, principalmente para evitar desperdícios.

Durante uma visita de jornalistas à sede da empresa Honeywell, em Charlotte, na Carolina do Norte (EUA), os executivos Brian Norris e Ryan Romanowski deram alguns exemplos dessas novas demandas.

Além de abrigar diferentes áreas da companhia, a sede no sul dos Estados Unidos funciona como uma central de testes para as tecnologias que ela vende a outras empresas.

No edifício, por meio de sensores ligados a uma central de controle, é possível monitorar indicadores convencionais, como de temperatura e qualidade do ar, e também o percentual de utilização de um determinado andar.

A ocupação pode ser medida por meio de diferentes ferramentas, tais como sensores de movimento, cartões de controle de acesso ou mesmo tecnologias de vídeo.

Assim, com a volta ao escritório ocorrendo por alguns dias da semana, é possível otimizar a utilização do ar-condicionado ou da iluminação acompanhando a demanda nesses dias específicos.

Em dias de reunião, as salas de uso coletivo ganham mais atenção e nas sextas-feiras, dias de menor uso do escritório, parte do equipamento pode ser desligada.

Segundo a empresa, os softwares e as demais ferramentas são usadas em mais de 10 milhões de edifícios, em mais de 75 países, incluindo o Brasil.

A unidade de negócios Honeywell Building Technologies foi responsável por 17% da receita total da empresa em 2022, de US$ 35,5 bilhões (R$ 184,3 bilhões).

No prédio, também é estimulado que cada funcionário use a mesa que quiser. A estação de trabalho é minimalista, sem objetos pessoais, arquivos ou gavetas - há apenas mesa, cadeira, computador e um gancho para pendurar a bolsa ou o paletó.

Segundo os executivos, isso traz mais flexibilidade e otimização do espaço. Assim como em muitas empresas brasileiras que adotam o modelo híbrido, lá os dias de maior ocupação são os do meio da semana - de terça a quinta-feira.

"Os dados são a parte mais importante de tudo isso", diz Norris. "Se sabemos, por meio dos números de ocupação do prédio, que as pessoas estão usando menos a estação de trabalho e mais os espaços colaborativos, podemos adaptá-los de forma dinâmica, aumentá-los ou diminuí-los para que eles se tornem mais úteis. Queremos que o próprio ambiente de trabalho seja, por si só, híbrido."

Questionado sobre a percepção dos empregados que usam o prédio, que poderiam ver na otimização do espaço a criação de um ambiente impessoal, um executivo da empresa diz que os feedbacks foram positivos até agora.

A falta de itens pessoais nas estações de trabalho, como um porta-retratos da família sobre a mesa, seria compensada pelas fotos no celular. A empresa também promove dias de visita da família ao escritório.

Outro objetivo das ferramentas de monitoramento é auxiliar os funcionários a se ajustarem aos horários e aos protocolos de trabalho híbrido, facilitando o agendamento de espaços.

Já a necessidade de afastamento, ainda fresca na memória após a pandemia, também levou a tecnologia a se adaptar, com mais ferramentas de controle de acesso que funcionam por reconhecimento facial.

Por meio de um aplicativo, o funcionário estaciona seu carro, passa pela segurança do saguão, acessa elevadores e entra no espaço de escritório desejado sem tocar em uma única superfície.

Além da pandemia, a demanda por maior bem-estar no escritório foi impulsionada pela chamada "grande renúncia", quando o abandono de empregos após a pandemia atingiu o maior patamar em 20 anos.

O fenômeno de abandono de emprego parece ter acabado: em julho, uma reportagem do "New York Times" apontou que o número de trabalhadores que deixaram voluntariamente seus empregos teve uma queda drástica e em agosto estava em 3,6 milhões, próximo ao patamar de antes da pandemia.

Ainda assim, a desocupação dos escritórios no pós-pandemia é uma questão que ainda aflige as maiores cidades do mundo.

Em grandes cidades, como Nova York, a ocupação gira em torno de 50% do nível pré-Covid. Uma estimativa recente apontava que os escritórios vazios na cidade equivalem a 26 prédios como o Empire State Building.

Em São Francisco, a taxa de escritórios desocupados foi de praticamente zero antes da pandemia para 31,8%, segundo levantamento da imobiliária CBRE divulgado pela BBC. No centro de Londres, a desocupação é o dobro da média histórica.

O repórter viajou a convite da Honeywell