Anúncios de construtoras utilizam em profusão as frases ''um novo conceito de morar bem'', ''uma revolução no conceito de morar'', como marketing para a venda de seus empreendimentos. Mas, atualmente, o que significa morar bem?
Segundo o arquiteto Clovis Bohrer, o conceito mudou e continuará mudando. ''Ele se relaciona com o atendimento de necessidades e expectativas de um grupo'', explica. O significado de um espaço ideal hoje é o de tentar atender à complexidade da vida moderna, caracterizada pela corrida contra o relógio e a falta de segurança.
Profissionais das áreas de arquitetura, construção e setor imobiliário ouvidos pela FOLHA são unânimes em apontar a segurança, o conforto e a praticidade como itens essenciais para o bem morar. ''O estresse das grandes cidades e o incremento nos problemas de segurança fazem com que as pessoas saiam cada vez menos. Neste contexto, as residências estão sendo projetadas não apenas para atender às necessidades individuais, mas valorizam-se os espaços de convivência'', afirma Bohrer.
Esta tendência surgiu na passagem da década de 80 para 90, com o forte crescimento do número de condomínios fechados. É o que os arquitetos chamam de conceito ''casulo''. As pessoas têm o máximo de conforto e lazer sem precisar sair de casa.
''Hoje as casas são verdadeiros clubes'', sintetiza o imobiliarista Raul Fulgêncio. De acordo com ele, as construtoras preocupam-se em contemplar todas as idades em seus empreendimentos.
Afinadas com as exigências de seus clientes, as construtoras esmeram-se no desenvolvimento de soluções. ''Não vendemos apartamentos. Vendemos estilos de vida. O cliente deve sentir prazer ao chegar em casa, e para isso investe-se em conforto, segurança, funcionalidade e lazer. Se a pessoa quiser se exercitar, vai até à sala de ginástica; se deseja brincar com o filho, tem o playground, a brinquedoteca. Os pais passam muito tempo fora de casa trabalhando e querem ter a segurança de que o filho está se divertindo em um espaço fora de perigo. Já para a pessoa acostumada a receber amigos, temos a opção de planta que contemple uma sala maior'', define a gerente regional da construtora Plaenge, Célia Catussi.
Valores Localização também é um dos fatores a serem considerados na compra de um imóvel. E o endereço não precisa, necessariamente, estar próximo do centro, trabalho ou da escola das crianças. ''Morar bem também pode estar associado a construir em um local que está em evidência. Em Londrina, por exemplo, é a Gleba Palhano (Zona Sul). No momento, também ocorre uma revalorização do Centro e da região próxima ao Com Tur'', afirma Raul Fulgêncio.
''A pessoa pode considerar morar bem ao residir em uma região afastada do centro porque é símbolo de status. Para isso, terá que abrir mão de algumas coisas, tais como passar mais tempo no trânsito, não usufruir de tanta infra-estrutura próximo a residência'', completa o arquiteto e professor de curso de Decoração de Interiores da Unopar, Marcos Antonio Carnavalle. No entanto, aponta Fulgêncio, muitos ainda se pautam por valores afetivos na hora de escolher o local da moradoria, como a proximidade das residências de parentes.
Também fruto do marketing imobiliário, o conceito de alto padrão não está, necessariamente, atrelado a morar bem, com qualidade. ''Uma casa pode ser cara, mas mal planejada, desconfortável'', ressalta Bohrer. Para o arquiteto, morar bem está muito mais relacionado ao estado de espírito dos moradores. Características culturais, utilização de recursos e equipamentos também influenciam na definição de um padrão, acrescenta Carnavalle.
As comodidades da residência só não podem escravizar o morador, frisa Bohrer. ''Faz-se necessário compatibilizar moradia com estilo de vida. Não adianta a pessoa investir em área de lazer e não conseguir desfrutar das comodidades por falta de tempo ou medo de ter a casa assaltada. Não dá para se tornar refém da própria moradia'', finaliza.