Praça do Relógio, em São Paulo: paisagista diz que os jardins urbanos precisam ter árvores
Praça do Relógio, em São Paulo: paisagista diz que os jardins urbanos precisam ter árvores | Foto: Adriano Vizoni/Folhapress

São Paulo - Em vez de um carro estacionado, uma minipraça com vegetação. No lugar de um canteiro central feito de concreto, um jardim com plantas nativas. A prefeitura da maior cidade do Brasil está apostando em pequenos respiros verdes - diversos tipos de jardins - que têm o objetivo de amenizar a falta de vegetação e as enchentes. São dois problemas bem comuns na cidade de São Paulo e outras localidades de médio e grande porte. A experiência pode servir de exemplos para municípios que buscam soluções simples e baratas para essas questões.

Esse tipo de intervenção está, atualmente, mais concentrada na região central de São Paulo. A gestão do novo prefeito da ccidade, Ricardo Nunes, do MDB, pensa em espalhar esses respiros verdes em outras regiões do município.

Entre os tipos de projeto estão a criação de vagas verdes (no espaço que seria ocupado por um ou mais carros), jardins de chuva, escadarias verdes, biovaletas e bosques. Na região central, o programa foi batizado de Gentileza Urbana.

Até o momento, a cidade teve um total de 164 intervenções do tipo, tentando reaproveitar materiais e usar a mão de obra municipal. A ideia é complementar as caras e demoradas obras de estruturais de drenagem com alternativas mais rápidas, de microdrenagem.

O secretário das Subprefeituras, Alexandre Modonezi, diz que as obras acabam ajudando a resolver o problema de aridez das cidades. "Os jardins de chuva têm como diferencial a capacidade de drenar a água que até então ficava acumulada no asfalto. É mais uma medida para diminuir os pontos de alagamentos", diz.

Atualmente estão planejadas 500 obras do tipo, mas o objetivo é conseguir financiamento internacional para chegar a 2.000. A cidade tem hoje 128 jardins de chuva -que são espaços verdes rebaixados, geralmente aproveitando os canteiros centrais da cidade.

A arquiteta da pasta de Subprefeituras Caroline Rodrigues explica que a intervenções começam com a quebra da camada de concreto que impermeabiliza a cidade. As aberturas, de cerca de 60 cm, incluem material de demolição, brita, terra e areia, entre outros. O objetivo da composição é criar o tipo de solo mais permeável possível.

"Nesse projeto tomamos como premissa o grande problema de alagamento na cidade. O jardim de chuva é um jardim rebaixado, que capta, limpa e filtra água da chuva", diz. A ideia da prefeitura é reaproveitar o máximo de materiais na construção desses espaços. O material de demolição pode ser o próprio concreto quebrado, e as mudas plantadas são as do viveiro municipal.

O maior jardim de chuva da cidade fica na rua Major Natanael, na região do Pacaembu. Trata-se de um sistema com 11 jardins, com mais de 2.700 m² de área verde, com capacidade de absorver 5% da capacidade do piscinão do Pacaembu. Além desses jardins, na região central um projeto-piloto tem espalhado outras propostas. Até agora, são 23 vagas verdes, em que o espaço da via antes usado como estacionamento vira uma minipraça, com jardim, banco e, em alguns casos, uma mesa de concreto.

Também foram instaladas as chamadas biovaletas (em que parte da calçada passa a ter um espaço para vegetação), escadarias verdes (com espaço para plantas nas laterais) e bosques urbanos (estes, espaços maiores). Segundo a prefeitura, além de nativas as plantas escolhidas são rústicas, daquelas que resistem tanto aos períodos de muita chuva quanto aos de seca na cidade.

FLORESTA URBANA

O botânico e paisagista Ricardo Cardim diz que medidas nesse sentido ajudam na tarefa de reverter opções adotadas no século passado que visavam apenas os automóveis, às custas de rios e áreas verdes. Para ele, mesmo sendo espaços pequenos, vagas verdes e jardins de chuva podem ser mais eficazes até que praças e parques se adotados como política.

"Se São Paulo tivesse uma política de vagas verdes em toda a malha urbana, com jardins de chuva, a gente teria uma floresta urbana mais eficiente, o que ajudaria a diminuir a temperatura da cidade, a evitar ilhas de calor e tempestades fortes, e a aumentar a qualidade do ar", diz ele, acrescentando que a medida também ajudaria no combate à escassez hídrica. Cardim alerta, porém, que é preciso que haja árvores nos espaços -o que nem sempre acontece. "Na minha opinião, essas medidas são eficazes de verdade com árvores. Aí é que se tem biomassa, matéria para causar benefícios ambientais impactantes. É importante também que sejam plantas nativas da cidade de São Paulo", disse.