“A casa precisa te abraçar”. É com essa frase que Fernanda Carrara Pires, engenheira civil e diretora de incorporação e novos produtos da Quadra Construtora, sintetiza as mudanças no olhar das pessoas sobre a moradia no contexto durante e pós-pandemia.

Por causa das medidas sanitárias de isolamento social, a vida passou a acontecer muito mais dentro do que fora de casa, o que fez com que as pessoas repensassem a relação com sua própria residência. “Tudo isso se reflete nos revestimentos, nos acabamentos, nos móveis, que precisam garantir aconchego, facilidade de limpeza e de manutenção”, arremata ela.

“A casa se tornou espaço de trabalho, estudo, descanso e lazer. Então a gente precisa que os espaços sejam plurais”, aponta Fernanda Pires
“A casa se tornou espaço de trabalho, estudo, descanso e lazer. Então a gente precisa que os espaços sejam plurais”, aponta Fernanda Pires | Foto: Divulgação

Segundo as estatísticas mais recentes elaboradas pela Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), em 2021 o mercado imobiliário registrou, nos sete primeiros meses do ano, uma alta de 58,7% nas vendas, em comparação com o mesmo período de 2020. Entre setembro de 2020 e de 2021, data de publicação da última pesquisa do órgão, 82,7% dos imóveis foram comprados por meio do programa Casa Verde Amarela.

Contudo, a mudança não é apenas quantitativa, mas qualitativa. A arquiteta Carolina Germana Alves viu sua demanda de trabalho aumentar durante a pandemia. “Mesmo quando a pessoa não tem condições de ir para um espaço maior, ela quer adequar o que tem à sua nova realidade. Criar um cantinho para trabalhar, para o filho estudar, trazendo o máximo de qualidade para dentro daquele espaço”, conta a profissional. Os projetos de espaço para home office, por exemplo, que antes eram quase sempre resolvidos com consultorias, passaram a protagonizar os projetos feitos pela arquiteta.

Segundo Bruno Catarino, pet place, personal studio, coworking, mercado interno e sala para entrega de encomendas são novos diferenciais
Segundo Bruno Catarino, pet place, personal studio, coworking, mercado interno e sala para entrega de encomendas são novos diferenciais | Foto: Divulgação

Outros tipos de demandas também surgiram. O engenheiro e gerente de vendas da unidade londrinense da Yticon, Bruno Catarino, observa que um novo perfil de compra vem se consolidando: “Espaços como pet place, personal studio (espaço para gravação de vídeo e áudio), coworking (espaço compartilhado de trabalho), mercado interno e sala para entrega de encomendas são novos diferenciais procurados e que têm sido muito valorizados por nossos clientes”.

Embora antes mesmo da pandemia já trabalhasse com imóveis com espaços compartilhados, como como piscinas, espaço gourmet, bicicletário, oficina de ferramentas, áreas esportivas, o engenheiro tem percebido que “hoje são fatores determinantes no fechamento de uma venda”.

Uma outra busca que também passou a ser mais acentuada é a de espaços mais ecológicos e integrados à natureza. “A gente vê uma crescente vinda da vegetação para dentro do lar, pessoas procurando ter mais plantas dentro de casa e algum contato com a natureza”, comenta Alves.

Pires também observou questões similares no seu dia a dia profissional: “Consumo consciente e sustentabilidade começaram a ficar mais fora do imaginário, do futuro, e passaram a ser demandas urgentes”.

As duas profissionais notam que as pessoas têm buscado ferramentas que facilitem a higienização, como, por exemplo, espaços específicos para delivery que permitam a higienização da entrega, ventilação mais ampla, acabamentos de fácil limpeza, locais específicos para instalação de álcool em gel, para deixar sapatos e máscaras já utilizadas. A tecnologia também, antes mais voltada para a questão da segurança, tem sido pensada como uma ferramenta para tornar a casa mais funcional.

Mesmo com os índices de contágio pelo novo coronavírus diminuindo, as pessoas continuam buscando melhorar seu ambiente doméstico, o que fica bastante evidente para os profissionais que trabalham com o setor. Para Alves, “é uma mudança que veio para ficar”. Mudança essa de perspectiva que se deve, em grande parte, ao fato da casa ter reunido todos os espaços da vida das pessoas. “A casa se tornou espaço de trabalho, estudo, descanso e lazer. Então a gente precisa que os espaços sejam plurais”, aponta Pires.