Fachada merece atenção e planejamento
PUBLICAÇÃO
domingo, 30 de janeiro de 2000
Célia Baroni
De Londrina
Todo mundo que sonha ter uma casa sabe exatamente como a quer por dentro, e com detalhes. É um sonho que vai sendo montado ao longo da vida através de referências culturais e experiências.
As divisões (número de cômodos), e a prioridade para determinadas áreas (cozinha, sala, sala de jantar) costumam estar claras. Mas a cara da casa, a fachada, tem sempre uma imagem desfocada, pouco definida. Ela acaba ficando por último nas nossas preocupações. Chega a parecer que ela vem em segundo plano, é uma parte menos importante do projeto.
A final fachada é importante ou não? Estudos confirmam que a fachada das casas reflete a visão social do morador e a influência do arquiteto que idealizou o projeto. Normalmente, pessoas que estão integradas à comunidade e à cidade onde vivem, dão preferência a fachadas mais abertas e que ofereçam uma visão melhor do movimento externo.
Os mais intimistas costumam escolher fachadas fechadas para a rua, com a casa voltada para os fundos, protegendo seu modo de viver e conviver com a família (estes são apenas alguns exemplos).
Os arquitetos Mônica Prison e Paulo Letti concordam que a fachada é importante e merece uma atenção especial. Para os dois arquitetos, ela é um elemento de design que permite ser trabalhado com jogo de volumes, luz e cores. O projeto exterior, enfatizam, tem de seguir a mesma linguagem proposta para o interior. É esta harmonia que dá personalidade à casa.
Construir uma casa é mais que levantar paredes. É realizar um sonho que tem forma e vida própria. Cada casa é uma casa, analisam. Esclarecem que é natural sonhar a casa de dentro para fora. Todos querem viver bem, e cada um tem anseios diferentes. Nada mais correto que pensar primeiro nos espaços internos onde a convivência se dá, argumentam.
Deixam claro que a fachada, como o interior da casa, é uma consequência do estilo de vida dos moradores. A diferença é que a parte de dentro pode ser trabalhada da forma como o dono sonha. Enquanto a fachada depende de uma série de variantes.
Além de depender da disposição das áreas internas, o projeto tem de ser trabalhado de acordo com a localização e topografia do terreno, orientação do sol com relação ao terreno, massas de ar e outros fatores. São eles que definem para onde a casa vai estar voltada e até a sua volumetria (forma). Mesmo o estilo de construções que cercam o terreno devem ser analisadas para que a casa ofereça o tão sonhado conforto.
Mônica Prison conta que apesar de as pessoas não falarem diretamente da fachada, elas dão indícios de como gostariam que ela fosse, durante as conversas com o profissional. São estes dados que orientam os arquitetos a compor o visual da fachada.
Não se iluda, na hora de concretizar o seu sonho, alguns itens vão ter de ser adaptados à realidade. As mudanças são para garantir a funcionalidade e comodidade indispensáveis para o morar bem. O sonho é a base do projeto, mas quem manda é o programa de necessidades da família.
A partir do sonho, o profissional estabelece uma linha de trabalho para todo o projeto. A linha escolhida permite a utilização de elementos com influência de outros estilos, desde que estes elementos estejam dentro da linguagem definida inicialmente.
A harmonia é vital. Não há como construir uma planta em estilo mediterrâneo por dentro e colocar uma fachada clássica por fora. As curvas típicas de um estilo não vão harmonizar com as linhas do outro. O contraste é muito grande, e o resultado não ficaria bom, exemplifica Paulo Letti.
Como tudo, a arquitetura também sofre com modismos. Novos lançamentos colocam em evidência um ou outro estilo e, envolvidas pelos meios de comunicação as pessoas tendem a se deixar levar. As pessoas procuram o profissional e pedem elementos que tendem a desaparecer e a se tornar cansativos. Ao profissional cabe mostrar que a casa é para sempre, argumenta.
Lembram que a casa não é como uma roupa que pode ser encostada quando sai da moda. O ideal, afirmam, é fazer uma pesquisa selecionando os elementos que fazem parte do seu sonho, priorizando sempre referências que dêem prazer. Não existe o fora de moda na arquitetura. O que vale é a harmonia do conjunto (interior e exterior), o prazer de morar bem, com qualidade e a alegria de realizar um sonho, frisam.
Outro ponto importante na composição formal do espaço externo e fachadas é o paisagismo. O uso adequado da vegetação e elementos naturais complementam a composição final da fachada.É ela que retrata, a primeira vista, o estilo de vida dos moradores, reflete sua visão e relação com a sociedade
TRADIÇÃOLinha arquitetônica rústica, com materiais e cores da terra, e reboco com texturas e pedras aparentesMODERNIDADEEstilo contemporâneo com linguagem arrojada, baseada nos conceitos Feng Shui, harmonizando linhas retas e sinuosas