Imagem ilustrativa da imagem Caixas que viram casas
Em Quatro Barras, casa de 309 m² foi erguida em apenas cinco meses com a transformação de seis contêineres


Morar em uma mala parece impossível. Mas as malas gigantes de cargas marítimas, os chamados contêineres, têm se mostrado uma alternativa para quem procura um abrigo rápido, barato e móvel. Essas caixas metálicas possuem vida útil de 10 a 15 anos como transportadoras no mar, porém podem ser reaproveitadas como estruturas arquitetônicas em terrenos.

Entre os exemplos está uma Casa Contêiner finalizada em agosto deste ano, na cidade de Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba. A obra é resultado da transformação de seis contêineres descartados na natureza em uma residência de 309 m². O projeto, assinado pelas arquitetas Denise e Carolina Leal Rias, nasceu do desejo de construir uma casa com rapidez - cinco meses - e baixo impacto na topografia do solo.

Segundo o empresário do ramo Arislan Badaoui, o reuso de contêineres é uma tendência em desenvolvimento nos últimos anos no País. "O Brasil está engatinhando na questão de contêineres. Nos Estados Unidos e na Europa o uso em estruturas já existe há muito tempo. No País, chegou há uns dez anos", afirma ele complementando que sua empresa foi a primeira a trabalhar com locação e venda desses módulos em Londrina, há cinco anos.

Atualmente, os grandes caixotes estão sendo reaproveitados pela loja do empresário para "dar vida" a banheiros coletivos, escritórios, capela, sala de aula para circo, guaritas, casas de campo, entre outras dependências. "Agora tem até rede de restaurante trabalhando com loja-conceito em contêiner", completa a arquiteta Amanda Salvioni.

"Os materiais estão ficando mais caros e as pessoas estão vendo mais os contêineres como alternativa", explica Badaoui. Dependendo do acabamento dos cômodos, reutilizar os dispositivos descartados pode gerar uma economia de aproximadamente 50% em relação a uma construção tradicional.

Esse foi o caso do comerciante Marcelo Zanluchi. Junto com o sócio, ele buscou nos contêineres uma maneira de economizar no seu garden e orquidário em Londrina. Foram instaladas duas caixas metálicas sobrepostas no terreno do estabelecimento, utilizadas como depósito de mercadorias e escritório.

"Se fossemos fazer um sobrado, eu acredito que, brincando, íamos gastar de R$ 40 a R$ 50 mil. O contêiner de baixo custou R$ 6 mil e o de cima, R$ 8 mil", revela Zanluchi. Os módulos têm, respectivamente, 14 e 29 m². Os empresários calculam um custo total de R$ 20 mil, incluindo acessórios e materiais necessários para a adaptação dos caixotes.

De acordo com Badaoui, uma casa contêiner de 14m² (2,4m x 6m) com revestimento e cômodos custa em média R$ 25 mil. Ela pode ser montada em 20 dias na oficina. Já contêineres simples, como o de Zanluchi, sem revestimento, divisórias prontas e preparação para a rede de água e esgoto, levam uma semana para serem entregues.

A instalação é feita em minutos e a necessidade de fundação varia de acordo com o projeto. "Do início das brocas até aos acabamentos foram dois dias. Sem as brocas, acho que não deu 40 minutos. Até a conclusão dos banheiros, instalação hidráulica e elétrica, levamos uns dois meses", conta o empresário.

TRATAMENTO
Os contêineres tratados passam pelos processos básicos de retirada de adesivos, lixamento, aplicação do convertedor de ferrugem em ferro, lavagem e pintura. Os revestimentos também são importantes para melhorar a aparência e a proteção térmica interna das caixas metálicas. Entre as opções de revestimento, estão a placa cimentícia, o drywall, o PVC e o USB. A placa cimentícia é considerada um material mais resistente, afirma a gerente da empresa, Ana Lúcia Campos.

Segundo a arquiteta Amanda Salvioni, que já elaborou projetos reutilizando contêineres, em dias quentes as paredes de lata chegam a queimar a mão dos usuários do espaço. Os revestimentos servem para amenizar parte do calor, mas não funcionam como isolantes da temperatura. Neste caso, e necessário utilizar ferramentas específicas, como isopor ou manta de lã de rocha ou de vidro.
"Recomendo trabalhar com telhados elevados para garantir ventilação entre o contêiner e as telhas. Outra recomendação é que o contêiner seja posicionado em terrenos arborizados, priorizando áreas de sombra", sugere. Para ela, tais medidas podem dispensar o uso de ar-condicionado em dias mais amenos e garantir conforto dentro das caixas.