Biofilia, conforto e bem-estar redefinem o mercado imobiliário
Da cozinha ao coworking, conheça as tendências e o novo jeito de morar do brasileiro, que refletem a busca por qualidade de vida
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 17 de dezembro de 2024
Da cozinha ao coworking, conheça as tendências e o novo jeito de morar do brasileiro, que refletem a busca por qualidade de vida
Jessica Sabbadini - Especial para a Folha

É fato que a pandemia trouxe inúmeras mudanças e o mercado imobiliário não ficou de fora. A biofilia, o conforto e apreço pelo bem-estar foram tendências que ganharam e estão ganhando cada vez mais espaço dentro das casas com moradores buscando um lar que reflita suas personalidades.
Arquiteto e professor do departamento de Arquitetura e Urbanismo da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Manfreid Martinez explica que a pandemia trouxe mudanças, tanto nas relações entre as pessoas quanto na relação delas com a casa. Ele conta que sempre se incomodou ao ouvir que muitos voltavam para a casa apenas para dormir, como se o local fosse uma hospedagem.
Com a reclusão que veio junto à pandemia, o professor aponta que as pessoas começaram a vivenciar mais o cotidiano e a casa. “Então as pessoas se voltaram mais para o uso constante da casa, suas funções práticas e simbólicas, reformando ou redecorando, prestando mais atenção à moradia, que é nosso lugar de fato no mundo”, aponta. Para ele, esse movimento foi uma forma de lidar com o tédio dos incontáveis dias dentro de casa durante as restrições da Covid-19.

Com um movimento de redescoberta da casa, a cozinha virou um dos cômodos preferidos de muita gente. É ali que o bate-papo e as celebrações ganharam espaço após o fechamento de bares e restaurantes. As salas e quartos também vieram com tudo, sendo o local ideal para ver aquele filme ou série em família e até mesmo para trabalho ou para a prática de exercícios físicos.
Todos esses movimentos mostram que esse é um momento eclético, segundo o professor da UEL, em que várias tendências convivem e manifestam, refletindo o estilo de vida do morador. “A casa reflete nossa visão de mundo”, afirma. E falando em tendência, o professor conta que elas costumam surgir nas grandes metrópoles para, depois, serem adaptadas às demais regiões. “Com a internet e o acesso à arquitetura, o gosto das pessoas vai sendo construído mais rápido, embora exista um gosto universal, que é o classicismo, ou um certo ar clássico e moderno”, explica.
O que vem de dentro
Diretora da Vectra Construtora, Roberta Nunes Mansano concorda que a pandemia foi um ‘divisor de águas’ para o mercado imobiliário, sendo que, desde então, a busca foi por criar espaços para todas as famílias e suas demandas, como o trabalho remoto, por exemplo, como os coworkings.
Os espaços dedicados aos pets também vieram para ficar, segundo ela, como áreas para dar banho, lavar a pata após o passeio ou locais para que os animais possam brincar e gastar energia. Também de olho no que está em alta, a construtora entregou recentemente um empreendimento que conta com um estúdio de gravação de conteúdos digitais, além de espaço para coworking e um mercadinho.

Quando se fala em tendência, Mansano afirma que elas nascem a partir de observações comportamentais dos clientes, assim como da expertise das construtoras e incorporadoras em apostar em determinados segmentos, como no caso do estúdio de gravação. “A gente não via isso como uma tendência, o que a gente via era uma valorização dessas novas tecnologias”, esclarece. Além disso, muitas referências vêm de fora, como das capitais, sendo São Paulo a principal.
A biofilia é conceito que ficou mais conhecido nos últimos anos por integrar a natureza ao ambiente que foi construído. A diretora destaca a instalação de uma floreira em todos os andares de um empreendimento lançado há pouco mais de um ano, em que deve ser instalado um sistema de irrigação automático para que a fachada permaneça com o verde do conceito original. “A gente tem visto o crescimento do interesse do cliente”, aponta.
Ao refletir as tendências que ganharam outros segmentos, ela garante que o mercado imobiliário deve seguir em busca da valorização do que é essencial e o que traz valor para cada pessoa. A aposta, segundo Mansano, é traduzir o que é especial para os clientes, como ambientes espaçosos ou um lar que traga uma sensação de paz, com uma decoração mais minimalista. “A gente está em busca do que é o verdadeiro valor da vida”, adianta.
Um DNA londrinense
Quando se fala em tendência, muitas vão além das fronteiras dos empreendimentos, invadindo os espaços comuns e beneficiando toda a comunidade. Na Nova Prochet, uma das áreas em pleno desenvolvimento em Londrina, a Vectra vem trazendo um dos principais pontos que refletem a identidade urbana da cidade: o Calçadão.

“Esses detalhes urbanos criam um sentimento de pertencimento das pessoas, de referência”, destaca o engenheiro agrônomo paisagista, Ivan Pona, mencionando a alegria de desenvolver esse projeto no ano em que Londrina completa nove décadas de história. A ideia, segundo ele, é fortalecer a relação de conexão entre os empreendimentos e os espaços adjacentes que contornam.
Em busca de referências que contassem um pouco da história de Londrina, Pona destaca que o objetivo foi homenagear a cidade. Segundo ele, o projeto envolveu o design de mobiliários urbanos, durabilidade, iluminação, entre outros, sendo a paginação do piso a principal protagonista, que resgatou com força as características do Calçadão do centro de Londrina.

