Walkiria Moreno, a Wal, desenvolveu trabalhos sociais por seis anos na zona norte de Londrina
Walkiria Moreno, a Wal, desenvolveu trabalhos sociais por seis anos na zona norte de Londrina | Foto: Isaac Fontana/Divulgação

Faleceu no último sábado (15), aos 43 anos, vítima de infarto, a líder comunitária Walkiria Moreno, a Wal. Por mais de seis anos, suas ações contribuíram para dar visibilidade aos moradores das comunidades São Jorge, Aparecidinha e Novo Horizonte, na zona norte de Londrina, e era ela quem comandava o grupo Amigas do São Jorge, criado por mulheres para beneficiar uma população desassistida, carente de recursos e em situação de extrema vulnerabilidade.

A líder comunitária estava sempre à frente de tudo na favela. Organizava campanhas de arrecadação de material escolar, chinelos, roupas e brinquedos para as crianças, corria atrás de telhas para reparar as casas descobertas por vendavais, madeiras para construir barracos, botijões de gás, remédios, cestas básicas. Distribuía refeições, planejava cursos profissionalizantes. Seu trabalho era incansável e com ele supria a lacuna deixada pelo poder público. Quem se sentia desamparado pelas políticas sociais encontrava em Wal o apoio necessário.

“Não sei falar se eu perdi uma mãe, uma filha, uma irmã, uma amiga. Ela era sensacional. Não só o São Jorge, mas vários outros bairros, até da zona sul, tiveram uma grande perda. Onde precisava, a Wal estava. Ela conseguia as coisas pela bondade. Ligava para um, para outro. Tinha um coração que eu nunca vi igual”, contou a cuidadora de idosos Benedita de Fátima Oliveira, que trabalha como cozinheira no projeto.

Segundo as companheiras do grupo Amigas do São Jorge, Wal sabia comandar como ninguém. Delegava funções, cobrava resultados, recrutava voluntários e não media esforços para ver concretizadas as suas ideias. Tinha uma extensa lista de contatos que acionava para pedir doações e quando faltava, tirava dinheiro do próprio bolso para ajudar quem precisava. “Ela enchia a geladeira de iogurte para dar para as crianças que chegavam na porta dela. Não importava quem fosse. Era amor que ela conseguia passar para as pessoas, principalmente para as crianças. E era pelo amor que as coisas vinham”, recordou Oliveira.

“Ela punha todo mundo para trabalhar, era uma pessoa firme. Ninguém tinha coragem de desobedecer. Ela brigava, xingava a gente se precisasse, mas era muito boa, uma pessoa maravilhosa, um coração enorme. Eu espero que a gente tenha forças para continuar com o projeto, senão muita gente vai passar fome”, disse a cozinheira Grazieli Barbosa.

A voz de trovão que fazia tremer aqueles que desconheciam o tamanho de sua generosidade calou-se, mas seu legado continua através dos ensinamentos que deixou entre aqueles com quem conviveu. Além das ações de solidariedade, Wal incentivava as mulheres a se posicionarem na sociedade, dando a elas voz ativa dentro da comunidade. “O machismo ainda existe e na nossa comunidade, é mais nítido. São mulheres negras, pobres e ela jamais deixou que a gente abaixasse a cabeça. Incentivava a gente a ter a nossa independência, era contra a submissão feminina. Ou você gostava dela ou odiava. Não tinha meio termo”, contou a babá Greice Crismara Santos, também voluntária no projeto.

O corpo de Wal foi sepultado na manhã deste domingo (16), no Cemitério Jardim da Saudade, na zona norte. Ela deixa quatro filhas e duas netas.