A possibilidade de retomada das aulas nos cursos de graduação da UEL (Universidade Estadual de Londrina) divide acadêmicos e professores. Uma proposta discutida pela Câmara de Graduação prevê a volta das atividades de maneira remota a partir de 29 de junho. Representantes dos colegiados, departamentos e centros de estudo teriam flexibilidade para debater adaptações nas grades curriculares. A proposta inicial deve ser apreciada pelo Cepe (Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão) nas próximas semanas.

Imagem ilustrativa da imagem Volta às aulas na UEL gera impasse entre alunos e professores
| Foto: Gustavo Carneiro

Para a presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes), Ariane Rigate, a discussão foi feita às pressas, sem levar em consideração pesquisas realizadas pela própria universidade que apontaram dificuldades técnicas no acesso à internet por professores e alunos.

“Somos contrários a esse implemento e a forma como ele está sendo repassado, de maneira atropelada. Nós repudiamos essas ações. Tempos excepcionais exigem medidas excepcionais e um debate com seriedade de todas essas questões. Não dá para confundirmos projeto político educacional com proposta emergencial de implementação de ensino EaD ou remoto, ainda mais em universidades públicas e presenciais”, argumentou.

Além da exclusão digital que pode resultar na evasão de universitários, a representante do DCE teme pela queda na qualidade do ensino e pela precarização do trabalho dos docentes. Rigate avalia que a manutenção da suspensão do calendário seria a decisão mais adequada até a retomada, em segurança, das atividades presenciais.

“As universidades públicas estão sob pressão dos governos estadual e federal. O ensino remoto não é diferente do ensino EaD e não existe uma estrutura ou uma metodologia já planejada e organizada. Isso não é automaticamente adaptável à realidade dos estudantes das universidades. Além de ser excludente, a gente tem que pontuar que não é somente o acesso à internet que está em jogo e isso já é um obstáculo imenso aos estudantes. Temos uma desigualdade social cristalizada que não está sendo levada em consideração”, destacou.

A UEL possui mais de 13 mil alunos na graduação. O calendário acadêmico foi suspenso em 17 de março em razão da pandemia do novo coronavírus. Já as atividades nos cursos de especialização, mestrado e doutorado passaram a ser realizadas de forma remota.

O professor do Departamento de História José Miguel Arias Neto considera positiva a discussão sobre a retomada das atividades. “Precisamos dar um encaminhamento nesse contexto da pandemia. Há um mês, a gente já vem fazendo um planejamento para o curso. Existem várias questões que a gente tem que considerar nesse período, mas a retomada é fundamental. Precisamos dar um encaminhamento para a formação desses alunos com a melhor qualidade que a gente possa oferecer.”

Segundo ele, o plano de contingência debatido para o curso de História, por exemplo, prevê adequações ao projeto político pedagógico para a reorganização das disciplinas. “Existem outras questões como o acesso às redes, ao ambiente virtual de aprendizagem, aos treinamentos e à biblioteca. Outro aspecto, tão importante quanto, é a questão do amparo administrativo, sócio-psicológico e a questão dos afastamentos, há muitos docentes em grupos de risco. Há um esforço conjunto dos departamentos para buscar soluções em vários níveis”, apontou.

Já o Sindiprol/Aduel, sindicato que representa os professores da UEL, é contrário às atividades remotas. “O ideal seria que nós ficássemos atentos ao fluxo da pandemia e, assim que houvesse a possibilidade de retomada das atividades presenciais, poderíamos reorganizar o calendário. Achamos fundamental que as aulas sejam presenciais”, frisou o presidente do sindicato, Ronaldo Gaspar.

Ele afirmou ainda que o sindicato pretende pressionar a reitoria e o governo do Estado para garantir condições de trabalho adequadas e a preservação da saúde de alunos e professores. Outra preocupação é com a manutenção dos contratos temporários de docentes. “Defendemos que esses contratos sejam estendidos até o fim da pandemia e, ao mesmo tempo, que se abram essas vagas para concurso para sanar a defasagem”, explicou.

O reitor da UEL, Sérgio Carvalho, ressaltou que a possibilidade de retomada das atividades é discutida há mais de 50 dias pelo Conselho de Administração, já que a pandemia deve se estender pelos próximos meses. “Suspeitamos que nós não vamos conseguir ocupar o campus presencialmente antes de agosto ou setembro. Será uma retomada lenta para desenvolver uma metodologia própria porque desconfiamos que poderemos ter que utilizar essa metodologia em outros anos. Não temos a certeza de que a vacina estará disponível tão rapidamente”, ponderou.

“Sabemos das dificuldades que teremos que enfrentar para a garantia do processo formativo e a garantia das condições aos estudantes que não estão inseridos digitalmente. É um desafio porque senão o período de paralisação vai implicar em um prejuízo muito grande na formação dos estudantes, inclusive dos que ainda desejam entrar na universidade. Apesar de todas as dificuldades, nenhum aluno vai ficar para trás na UEL”, garantiu. A universidade estuda maneiras de viabilizar o acesso à internet e até de realizar o empréstimo de equipamentos, se necessário.

A assessoria da Seti (Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) informou que o governo do Estado acompanha as discussões para a retomada das atividades nas universidades estaduais com a manutenção da qualidade do ensino e a preservação da saúde de alunos e professores.