Mulheres de funcionários desaparecidos na explosão da plataforma P-36 disseram ontem que os maridos relatavam fortes pressões da Petrobras para aumentar a produção no Campo de Roncador. Para elas, essa pode ter sido uma das causas do acidente. A empresa reviu sua projeção de produção de 1.850 mil barris/dia, em 2005, para 1.900 mil barris/dia, por causa de um anunciado desempenho acima do esperado na P-36.
O gerente-geral da estatal na Bacia de Campos, Carlos Eduardo Bellot, admitiu ontem que a plataforma estava produzindo mais petróleo do que o projetado inicialmente, mas desmentiu a pressão sobre os trabalhadores. O presidente do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, Fernando Carvalho, confirmou que a pressão sobre os trabalhadores para que produzissem mais era muito forte.
‘‘Um engenheiro da plataforma disse uma vez para meu marido que eles eram pagos para fazer o possível, mas tinham obrigação de fazer o impossível’’, contou a dona de casa Ivany Peixoto dos Santos Couto, mulher do operador de produção Ernesto do Azevedo Couto. Ivany foi uma das quatro mulheres de desaparecidos que convocou uma entrevista coletiva para exigir da Petrobras mais empenho na tentativa de resgatar os corpos.
‘‘Eu não saio de Macaé sem o corpo do meu marido’’, declarou Vanúsia de Souza Oscar, mulher do operador de produção Charles Roberto Oscar. ‘‘Imagine só a gente não poder saber que o corpo de uma pessoa amada está num lugar onde a gente pode visitar. O que eu digo para o meu filho quando ele perguntar onde é que o papai está?’’, disse Ivany.
As mulheres afirmaram que a indenização não está entre as principais preocupações do grupo. ‘‘É claro que queremos o que é o nosso direito. Mas exigimos respeito pelas famílias e que a Petrobras resgate os corpos’’, disse Rita de Cássia Lopes Araújo, mulher do técnico de segurança Mário Sérgio Mateus, que, em 1984, sobrevivera à explosão da plataforma de Enchova, que deixou 37 mortos.
Bellot rechaçou as acusações das mulheres dos trabalhadores e garantiu que a empresa não está orientando as mulheres a irem embora de Macaé. Ele explicou por que o Campo de Roncador estava produzindo mais petróleo do que o projetado inicialmente. ‘‘Tivemos, nos Campos de Roncador e de Marlim, poços produzindo mais do que o esperado, o que adiantou a curva de aumento de produção da plataforma’’, afirmou. Ele contestou, no entanto, a suposta relação entre a produção acima da expectativa e um excesso de atividade dos trabalhadores. (A.F.)