Vitória de McCain deixa Bush vulnerável Do correspondente Paulo Sotero
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quarta-feira, 02 de fevereiro de 2000
Washington, 02 (AE) - A subida do senador John McCain, do Arizona, nas pesquisas de opinião nas últimas semanas já havia trincado a aura de inevitabilidade da candidatura à Casa Branca do governador do Texas, George W. Bush, filho do ex-presidente George H. Bush e o preferido do establishment republicano para disputar a sucessão de Bill Clinton em novembro próximo.
A humilhante surra que McCain aplicou em Bush nas urnas de New Hampshire, batendo-o por uma diferença de 19 pontos percentuais na eleição primária presidencial de New Hampshire, deixou o governador do Texas numa posição vulnerável.
"Esse é o começo do fim da política de distorcer a verdade de Bill Clinton e Albert Gore", disse McCain, em seu discurso da vitória, na cidade de Nashua, já falando como candidato de seu partido.
Entre os democratas, o vice-presidente Albert Gore venceu seu único desafiante, o ex-senador Bill Bradley, de Nova Jersey, pela segunda vez consetuiva em pouco mais de uma semana e confirmou seu favoritismo para disputar a presidência pelo Partido Democrata.
Mas a margem de sua vitória, de apenas 4%, não foi suficiente para que ele nocauteasse Bradley, e isso sinaliza problemas também Gore. Bradley, que liderava as pesquisas em New Hampshire até duas semanas atrás, perdeu terreno depois da dura derrota que sofreu na prévia de Iowa, na semana passada, mas voltou a subir nas vésperas da eleições em New Hampshire atacando a integridade de Gore.
Antes mesmo de os resultados serem anunciados, o ex-senador avisou que não ouvirá os apelos de seus correligiários democratas para que desista em favor de Gore, em nome da unidade do partido, e levará adiante ua campanha. Esta é uma má notícia para o vice-presidente, pois abre a perspectiva de uma briga pela indicação partidária dominada menos pelas diferenças das propostas dos candidatos, que são mínimas, mas pela forte animosidade pessoal que existe entre ele e seu rival. No passado
as divisões entre os democratas nas eleições primárias foram seguidas por derrotas pelo candidato do partido nas eleições gerais.
A ascensão potencial de McCain é mais uma ameaça para Gore, pois o senador do Arizona tem uma biografia que lhe permite, com mais credibilidade do que Bush, levar adiante os ataques de Bradley contra a integridade do vice-presidente.
Um ex-prisioneiro da guerra do Vietnã, de 63 anos, e um político respeitado no Capitólio na discussão dos grandes temas da política doméstica e externa, McCain fez campanha como conservador reformista, mantendo distância da extrema-direita do partido em questões como o aborto e de divergir do establishment republicano, denunciando a proposta de Bush de corte de impostos
em favor de uma plataforma mais centrista.
Ele disse, por exemplo, que usaria a maior parte dos saldos orçamentários projetados para pagar a dívida pública de mais de US$ 5 trilhões que os Estados Unidos acumularam nos últimos 40 anos para reformar os seguros federais de saúde e o sistema previdenciário.
O estilo direto e bem humorado que McCain usou nos mais de 70 dias de campanha em New Hamphsire, transformou-o no candidato preferido da imprensa e o ajudou a firmar a imagem de político corajoso e líder genuíno, capaz de assumir posições politicamente incorretas.
Graças a isso, ele atraiu o eleitorado independente, que é especialmente numeroso em New Hampshire, mas deve ter uma participação importante nas eleições gerais.
Numa eleição apertada, esses eleitores, que hoje incluem muitos democratas desapontados com Clinton por causa de sua conduta pessoal no affair Lewinsky, poderiam dar os votos decisivos.
Próxima etapa - As prévias da Carolina do Sul, próxima etapa do calendário de primárias para as eleições norte-americanas, realizam-se dia 19.