Vítimas procuram MP para denunciar abusos de 'líder espiritual'
Homem foi preso na última sexta, suspeito de cometer abusos sexuais aproveitando da condição de vulnerabilidade emocional das mulheres
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 14 de abril de 2025
Homem foi preso na última sexta, suspeito de cometer abusos sexuais aproveitando da condição de vulnerabilidade emocional das mulheres
Matheus Camargo

A promotora de Justiça Tarcila Santos Teixeira, coordenadora do Núcleo de Apoio à Vítima de Estupro (Naves) do Ministério Público do Paraná, informou nesta segunda-feira (14) que mais pessoas procuraram o MPPR para denunciar um homem que se valia condição de líder espiritual para cometer abusos sexuais e outros atos de conotação libidinosa contra alunas.
Pelo menos cinco mulheres já haviam registrado queixas e relatado os abusos, o que deu início à investigação contra o professor de ioga de 63 anos que foi preso na sexta (11), em Florianópolis.
“Temos uma agenda para esta semana com muitas outras que dizem ter sido vítimas. Já recebemos, no final de semana, e-mails e mensagens de outras pessoas dizendo: ‘Eu sei quem foi’, ‘Eu sei do que se trata’, ‘Eu fui vítima’", detalhou a promotora. "Vamos ser bastante céleres nessa instrução, porque temos um prazo a partir da prisão do acusado. A prisão foi motivada justamente para que as pessoas se sentissem seguras para relatar os fatos. É nítido o medo que muitas delas ainda têm”, acrescentou.
“Além dessas pessoas que estão nos procurando, temos outra lista com nomes para as quais faremos uma busca ativa, convidando-as para o acolhimento e nos colocando à disposição para ouvir suas histórias, caso assim desejem", explicou. Segundo ela, há suspeita também de casos envolvendo crianças e adolescentes. "Há indícios da prática de estupro de vulnerável, com base em relatos feitos por outras vítimas. No entanto, até o momento, não há nenhuma prova concreta, nenhum depoimento formal ou vítima identificada. Vamos buscar essas pessoas."
Ainda de acordo com Tarcila, "a maioria dos nomes indicados hoje já atingiu a maioridade, o que torna a condução do processo um pouco mais simples." O “guru” irá responder inicialmente pelo crime de posse sexual mediante fraude.
'ESTELIONATO SEXUAL'
Segundo o MPPR, o homem de 63 anos também atuava como psicanalista em uma clínica em Curitiba. O local pertencia a uma das vítimas, que alugava uma sala para os atendimentos. Há registros de que, nesse ambiente, houve a prática de crimes sexuais, mas que a maioria dos abusos era cometida em uma chácara em Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba, onde era a unidade principal das reuniões.
“Tudo indica a prática de fraude sexual, o que se configura como estelionato sexual. Trata-se, justamente, de um engodo, um envolvimento. Já tivemos vários casos nesse contexto, em que o líder possui uma facilidade em identificar as fragilidades das vítimas, as mazelas emocionais nas quais cada uma está envolvida. Ele se aproveita disso para gerar envolvimento e abusar da fé dessas pessoas. Muita gente pode pensar: ‘Por que permitiram?’, ‘Por que deixaram?’. Mas é importante lembrar que estamos lidando com pessoas em condição de vulnerabilidade emocional", destacou a promotora.
ESTRATÉGIAS
"Trata-se de um líder espiritual e religioso com notável poder de persuasão, a ponto de envolver inclusive os maridos dessas mulheres, que desconheciam as práticas sexuais, mas que se submetiam a muitas outras situações abusivas”, revelou Tarcila Santos Teixeira durante entrevista coletiva na sede do MPPR, em Curitiba. Houve cumprimento de mandado de busca e apreensão na chácara e os itens apreendidos, como documentos, equipamentos eletrônicos e armas, serão analisados no curso das apurações.
“Ficou muito claro nos depoimentos algumas estratégias dele no sentido de plantar nessas vítimas a ideia de que eram únicas, escolhidas por ele. Dizia ser um líder espiritual de ‘grau 5’, enquanto, segundo elas, Jesus Cristo seria ‘grau 7’. Ele embutia essa ideia nelas: que as havia escolhido isoladamente para que recebessem sua energia como líder, como um ser espiritualizado, elevado, que já não se apegava às questões carnais, e que tudo aquilo que fazia era ‘por elas’. E, quando elas demonstravam qualquer dúvida ou questionamento, ele as desestabilizava, dizendo: ‘Você duvida? Quem duvida não merece o que estou fazendo.’ E isso as fragilizava ainda mais”, seguiu a promotora.
DENÚNCIAS E ORIENTAÇÕES
As pessoas que quiserem orientação e atendimento sobre o caso podem entrar em contato com o Ministério Público. Os contatos podem ser feitos pessoalmente, na sede do Núcleo de Apoio (Rua Marechal Hermes, 751, 5º andar), pelo telefone 32250-4022 ou pelo e-mail: [email protected]. A partir do prosseguimento das investigações, que contarão com a análise dos eventuais elementos de prova colhidos nas buscas, o MPPR trabalhará para o possível oferecimento de denúncia contra o investigado. (Com MPPR)

