Dezenas de pessoas procuraram o Cemitério Municipal São Lucas, em Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina), a Prefeitura da Ibiporã e o Núcleo de Combate à Corrupção em Londrina após a operação que resultou na prisão de 13 suspeitos de venda ilegal de terrenos em cemitério público. As famílias reuniram documentos e saíram em busca de informações sobre pagamentos realizados a representantes da administração municipal de Ibiporã, ossadas removidas dos jazigos sem autorização e outras possíveis irregularidades investigadas pela Polícia Civil.

.
. | Foto: Viviani Costa/Grupo Folha

O auxiliar administrativo Marcio José Fiori protocolou um pedido de informações na Prefeitura de Ibiporã e apresentou recibos dos pagamentos realizados pela família a um dos funcionários presos. Segundo ele, o servidor teria recebido R$ 4 mil por meio de depósito bancário, além de R$ 1 mil em dinheiro.

“Ele orientou a gente a voltar na outra semana para comprar o terreno e mostrou um terreno limpo no cemitério. Ele disse que a família que era proprietária queria vender e que ele estava só intermediando”, explicou Fiori. Os pagamentos foram realizados em agosto de 2017.

Entre os presos na operação desencadeada nesta quinta-feira (3) estão o coordenador da Divisão de Cemitérios de Ibiporã, Paulo Ribeiro, e dois servidores que atuavam no Cemitério Municipal São Lucas, em Ibiporã. Familiares da costureira Suzeslaine Breda também efetuaram pagamento por um dos jazigos.

“Minha avó comprou um terreno no cemitério. Já fui lá e consta nos registros que ninguém é proprietário desse terreno, mas também consta que nesse terreno está a ossada do meu avô. Minha avó nunca autorizou a retirada dessa ossada do outro túmulo da família. Não sei o que aconteceu”, estranhou. Foram pagos R$ 4 mil em outubro de 2018.

Segundo investigação da Polícia Civil, o grupo suspeito retirava e se desfazia de ossadas de jazigos antigos para comercializar os espaços aos compradores. Terrenos nunca utilizados também teriam sido oferecidos às famílias. Ao menos 30 vítimas foram identificadas. As transações variaram entre R$ 2 mil e R$ 22 mil. Representantes de funerárias, um empresário e um homem que se passava por advogado também estão entre os detidos. O grupo é investigado por organização criminosa, lavagem de dinheiro, concussão e vilipêndio a cadáver.

O prefeito de Ibiporã, João Coloniezi (MDB), reforçou que os fatos serão apurados também de forma administrativa. “Tínhamos alguns indícios de que alguma irregularidade estava acontecendo por informações que chegavam, mas que eram recentes e não tinham materialização. Ninguém chegou a protocolar algum requerimento, ninguém trouxe provas. [...] Vamos fazer um processo de investigação contra todos os servidores envolvidos. O primeiro ato é o afastamento deles das funções para elucidar os casos com clareza e com transparência sem influência de outros servidores”, destacou. Outros servidores foram remanejados para não haver a interrupção dos trabalhos no cemitério municipal.

As famílias foram orientadas a protocolar os documentos e pedidos de informações junto à prefeitura. Quem pagou pelos terrenos públicos no cemitério de Ibiporã deve reunir a documentação e entrar em contato com o Núcleo de Combate à Corrupção em Londrina para agendar um horário de atendimento. O telefone é (43) 3343-2251.