A auxiliar de enfermagem Cidnéia Aparecido Mariano da Costa morreu na noite do último domingo (30), aos 35 anos. Vítima de violência doméstica, Néia, como era conhecida, ficou tetraplégica após tentativa de feminicídio praticada em 2019 pelo seu ex-companheiro, Emerson Henrique de Souza. Ela lutou pela vida por dois anos, mas as sequelas deixadas pelo ato criminoso fizeram sua saúde debilitar.

Souza foi julgado em fevereiro e condenado a 23 anos, dez meses e um dia de reclusão
Souza foi julgado em fevereiro e condenado a 23 anos, dez meses e um dia de reclusão | Foto: Viviani Costa/5-2-2021

Casos de violência contra a mulher já são trágicos pela sua natureza, mas a história de Néia ganhou ainda mais notoriedade pela crueldade com que foi praticada. Ela tentava se desvencilhar de um relacionamento conturbado, mas o companheiro não aceitava a separação e, inconformado com a decisão da mulher, tentou matá-la por asfixia e a abandonou em uma estrada rural na zona norte de Londrina.

O crime aconteceu em 8 de abril de 2019 e Souza foi julgado neste ano. O júri popular foi realizado no último dia 4 de fevereiro e o réu foi condenado a 23 anos, dez meses e um dia de reclusão. Além da tentativa de feminicídio, ele respondeu por outras qualificações relacionadas ao crime.

Néia perdeu a fala e a falta de oxigenação no cérebro gerou uma síndrome neurológica chamada encefalopatia hipóxico-isquêmica, que a fez perder os movimentos. Em razão das graves sequelas, houve a desestruturação do núcleo familiar da auxiliar de enfermagem. Os quatro filhos dela tiveram de se separar e foram morar com parentes.

"Ela foi ficando mais fraca ao longo desses últimos períodos. Os músculos estavam atrofiados e, nas últimas semanas, ela começou a recusar alimentação e, nos últimos dias, recusava inclusive líquidos. Estava sendo mantida com vitaminas por meio intravenoso, mas aí, foi apagando. Tentamos elevar o ânimo, mas não conseguimos. Ela foi se desligando", relatou, emocionada, a irmã Silvana Mariano.

Néia acompanhou de casa o julgamento e soube da condenação do ex-companheiro. Tinha consciência da decisão da Justiça e segundo a irmã, ficou muito animada naqueles dias. "Acho que ela teve energia até ali (julgamento). Conseguiu assistir à condenação de seu algoz, mas foi declinando desde então. Nas últimas duas ou três semanas, se acelerou. No fim, se consumou o feminicídio. Encaramos hoje como um feminicídio consumado. A Néia, desde o que aconteceu, nós já não tínhamos mais. Agora, não temos nenhuma", disse a irmã.

A violência vivida por Néia deu origem ao Néias Observatório de Feminicídio Londrina, organizado por um grupo de feministas ativistas com o objetivo de dar visibilidade e acompanhar o julgamento da auxiliar de enfermagem. "De toda essa tragédia que seria evitável se não vivêssemos em uma cultura machista, restou o engajamento para que outras mulheres não passem por isso", afirmou Silvana Mariano.

O corpo de Néia começa a ser velado às 14 horas desta segunda-feira (31), no município de Nossa Senhora das Graças (Noroeste). O sepultamento está marcado para às 16 horas, no cemitério municipal.