A morte do papa Francisco comoveu milhões de fiéis em todo o mundo e no Brasil não foi diferente. A relação do pontífice argentino com o povo brasileiro é forte desde o início de seu papado, já que foi aqui o primeiro destino visitado por ele como autoridade máxima da Igreja Católica, em julho de 2013. A 28ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foi realizada no Rio de Janeiro e reuniu 3,7 milhões de pessoas, segundo dados oficiais da época. Entre eles, jovens de uma caravana que saiu de Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina) e que se desdobraram pela oportunidade de ver o primeiro papa sul-americano.

“Eu coordenava o Setor Juventude, que é a junção dos grupos de jovens, pastorais juvenis e movimentos relacionados aos jovens. Organizamos um bingo para pagar o ônibus. Conseguimos arrecadar até mais do que o valor necessário e embarcamos para o Rio de Janeiro”, explicou o jornalista Pedro Marconi, que tinha 18 anos na época e foi um dos responsáveis pela viagem, que reuniu jovens de Londrina e Ibiporã.

A viagem de ônibus foi de mais de 950 km. A caravana, que reuniu 43 pessoas, entre integrantes do Setor Juventude, das Juventudes Feminina e Masculina de Schoenstatt, e do Serviço de Animação Vocacional (SAV), entre outros, saiu de Ibiporã no fim da tarde de quinta, dia 25 de julho, e chegou ao Rio na manhã de sexta-feira, no dia 26.

Os paranaenses ficaram instalados em uma escola no bairro de Santa Cruz e, na madrugada de sexta para sábado, por volta das 3h, iniciaram uma peregrinação para chegar a Copacabana. As dezenas de pessoas se uniram aos outros milhões que se deslocavam nas linhas de trens e metrôs, até chegar ao aterro do Flamengo. Sem outro meio de locomoção viável, o grupo caminhou por 17 km até chegar ao local onde o papa Francisco passaria.

“Eu e minha mãe estávamos do lado da praia. Ficamos aguardando próximas à grade a passagem do papa Francisco, que foi muito rápido, mas emocionante. Transmitia muita paz. Acho que a Jornada Mundial da Juventude foi um marco na minha vida porque vivi experiências que dificilmente terei novamente, especialmente com relação às pessoas que conheci e trocas culturais”, disse Roberta Ponce, que tinha 17 anos, fazia parte da Juventude Feminina de Schoenstatt, e foi uma das organizadoras da viagem. Seus pais, Roberto Fávaro Ledo e Roseli Ponce, eram os coordenadores do SAV e também foram ativos na organização, especialmente no cuidado com os adolescentes.

“Tinha muitos jovens, adultos, pessoas de todas as idades e nacionalidades em Copacabana. E tivemos que ter muito cuidado com nossos jovens. Alguns ainda eram adolescentes, então nos organizamos para andar nos trens e nos metrôs, para ninguém se perder. Eles estavam muito empolgados”, lembrou Roseli Ponce.

Roberta Ponce e Pedro Marconi: "Vimos ele de perto, ouvimos suas palavras na missa"
Roberta Ponce e Pedro Marconi: "Vimos ele de perto, ouvimos suas palavras na missa" | Foto: Arquivo Pessoal

'VER A JUVENTUDE DO MUNDO INTEIRO FOI EMOCIONANTE'

Uma das autoridades que acompanhou o grupo ao Rio para a JMJ foi a irmã Angela Maria Rosa, da Congregação das Irmãs Servas da Caridade e Sociedade São Vicente de Paulo.

“Ver o papa Francisco foi emocionante, muito lindo. Ver a juventude do mundo inteiro ali, vibrando, foi algo inesquecível. Quando fomos à orla de Copacabana, no dia anterior ao grande encontro, o papa passaria às 8h, mas às 6h já estávamos na beira da grade onde ele iria passar. Ficamos naquela expectativa, jovens gritando, chamando pelo papa. Eu o vi de muito pertinho. Ele passou rápido, mas parecia que tinha parado e olhado nos nossos olhos”, relembrou Angela.

'FOI E É UM HOMEM DE MUITA LUZ'

Após o primeiro encontro no sábado, dia 27 de julho, o papa Francisco realizou a Missa de Envio no domingo, último dia do evento, o mais marcante para quem esteve presente.

“Dormimos na praia, de sábado para domingo. Acordamos bem cedo e ficamos grudados na grade para ver o papa passar de perto. Deixamos de ir ao banheiro para não perder o lugar. Vimos ele de perto, acenando, ouvimos suas palavras na missa. Foi muito marcante”, destacou Marconi.

“Muitos jovens subiram em árvores para vê-lo e, naquele momento, eu me lembrei do Evangelho de Zaqueu, que também subiu numa árvore para ver Jesus. Eles subiram para ver o papa. Foi um momento de fé muito importante na minha vida, mas também um momento muito forte de uma Igreja viva, entusiasta, uma Igreja que tem a alegria do Evangelho, como ele mesmo sempre falou: 'tenham sempre a alegria do Evangelho na vida de vocês'. É isso o que eu carrego do papa Francisco. Foi e é um homem de luz, de esperança, um homem que olhou para as pessoas com o olhar de Deus, que tocou o coração de cada um. É isso que eu sinto do Papa Francisco: ele deixou no meu coração essa mensagem de amor que espalhou pelo mundo inteiro”, afirmou Angela.

Jornada no Rio reuniu cerca de 3,7 milhões de pessoas
Jornada no Rio reuniu cerca de 3,7 milhões de pessoas | Foto: Arquivo Pessoal

'ESPERANÇAS RENOVADAS'

Uma das primeiras medidas do papa Francisco quando assumiu o cargo foi confirmar a viagem que faria para a JMJ no Rio de Janeiro, que foi um compromisso assumido pelo papa Bento XVI antes de renunciar ao cargo. "Era para vir o papa Bento XVI, mas houve a transição de papas, e quem veio foi o papa Francisco. Foi muito emocionante ver aquela figura tão impressionante como ele era”, disse a coordenadora do SAV.

“Ver o Papa Francisco, naquela época, significou ver as esperanças renovadas e ver uma cara nova para a igreja, já que ele veio trazendo ideias inovadoras e diferentes do conservadorismo, muito mais parecidas com o que eu esperava e pensava. Foi como ver alguém como nós, pessoas comuns, assumindo o cargo mais alto da Igreja Católica, que mesmo estando no alto, acolhia e olhava os menores”, indicou Roberta.

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