Belo Horizonte, 04 (AE) - A visita do presidente Fernando Henrique Cardoso ao sul de Minas, hoje, serviu de pretexto para mais um round na luta travada pelo governador Itamar Franco (PMDB). "O ato foi demagógico e provocativo", disse Itamar. "O que o doutor, professor, presidente da República fez não pode ter referendo dos mineiros." Fernando Henrique esteve no Estado para sobrevoar as cidades castigadas pela chuva, onde 30 mil pessoas estão desabrigadas.
Itamar chamou o presidente de anfótero (que reúne em si duas qualidades opostas) e mesquinho. "Se quisesse mesmo fazer alguma coisa por Minas não precisava nem sair de Brasília", argumentou. "Bastava desbloquear os recursos do governo de Minas para que fossem usados nas cidades flageladas." Desde a decretação da moratória, há um ano, o Tesouro Nacional vem bloqueando repasses devidos ao Estado para cobrir dívidas não quitadas. "A presença dele é dispensável, o dinheiro não", completou.
Em resposta, Itamar assinou hoje um decreto transferindo a sede do governo mineiro para a cidade de Pouso Alegre, no centro da região alagada. Durante três dias, a partir de amanhã (5), o governador e parte do primeiro escalão estarão despachando no 20º Batalhão da Polícia Militar, em Pouso Alegre. O governador mineiro fez questão de lembrar que em 1997, quando Minas também foi duramente castigada pela chuva, Fernando Henrique não visitou o Estado apesar de o então governador, Eduardo Azeredo (PSDB), ser seu correligionário.
Ressaltou também o fato de a visita de Fernando Henrique ter ocorrido um dia depois da exclusão de Minas Gerais da primeira etapa do encontro de contas com a Previdência. Minas reivindica créditos de R$ 17 bilhões.
Na avaliação do governo mineiro, os R$ 5 milhões liberados pelo presidente para as cidades atingidas pela chuva em Minas, no Rio e em São Paulo estão longe de ser suficientes. De acordo com o vice-governador, Newton Cardoso (PMDB), só para recuperar as rodovias federais que cortam o Estado será preciso mais de R$ 10 milhões. "Foi uma visita relâmpago que teve nenhum sentido prático", avaliou Newton.