A polícia investiga se as mortes de pai e filho em uma grave colisão envolvendo um carro e uma carreta, na rodovia PR-445, sentido Irerê, na última sexta-feira (13), foram motivadas por vingança. Os dois ocupantes do carro, Marco Antônio Alves Marcondes, de 45 anos, e seu filho, de nove, morreram na hora. Antes do ocorrido, a mãe do menino, Erika Kuasne, 36, havia entrado em contato com a delegacia de Jataizinho (Região Metropolitana de Londrina) relatando sequestro do filho e ameaças sofridas pelo ex-marido via mensagens de celular.

Imagem ilustrativa da imagem Vingança pode ter motivado mortes de pai e filho
| Foto: Arquivo FOLHA

O delegado responsável pela investigação, Algacir Ramos, informou que a mãe ainda não foi ouvida, mas que a suspeita é de que a colisão tenha sido executada propositalmente por Marcondes como forma de vingança contra a ex-esposa. “Possivelmente, ele cometeu essa besteira para se vingar da ex-mulher, mas não sabemos o porquê. Precisamos conversar com a mãe do menino para dar seguimento às investigações”, contou o delegado, que estava em busca do depoimento da mulher.

Desde sábado (14), quando sepultou o filho, Kuasne optou por não ficar em casa e saiu com seus dois filhos, um de 14 e outra de 18, para ter apoio de família e amigos. Por conta disso, não tinha sido contatada para dar depoimento. Ela contou que pretende ser orientada para que algo seja feito pela morte do filho. “Não foi um acidente. Que isso saia da cabeça das pessoas. Eu não vou me calar, vou fazer o que estiver ao meu alcance para que haja justiça em honra do meu filho. É uma briga que estou comprando até o fim”, declarou.

De acordo com a mãe do menino, o casal viveu um relacionamento conturbado, envolvendo denúncias e prisão de Marcondes sob a Lei Maria da Penha. Ela contou que há nove anos sofria violência, mas que há três já não estavam mais juntos e que o homem não aceitava o fim do relacionamento. “Ele foi preso há mais ou menos uns sete anos, eu cheguei a ter medida protetiva contra ele, mas fui verificar e não estava mais em vigência, já tinha vencido o prazo”, comentou.

COLISÃO

No dia da colisão, Erika Kuasne procurou a delegacia de Jataizinho para pedir ajuda após receber ameaças do ex-marido pelo celular. Ela contou à reportagem que Marcondes pegou o filho na escola, o deixou em casa, mas que minutos depois voltou para buscá-lo e passou a enviar vídeos e fotos pelo celular. “Ele me mandou mensagens, vídeos me xingando, mostrando que estava com meu filho e dizendo que iria acabar com a vida dele”, relatou.

Com apoio da polícia, ela marcou um encontro com o pai da criança para tentar resolver a situação. "Meu último contato com ele foi às 15h17. A gente foi para o ponto de encontro, conforme o combinado, mas ele não apareceu", ressaltou. Horas depois, a mãe ficou sabendo sobre a colisão que teria tirado a vida dos dois na PR-445.

O major Nelson Villa Junior, comandante do 5º BPM (Batalhão da Polícia Militar), informou que, naquele dia, foi criado um sistema para interceptá-lo. "No entanto, em seguida, chegou a notícia de que ocorreu um acidente na 445, lugar absolutamente diverso daquele que ele disse que iria. E as características do veículo eram as mesmas. As equipes foram fazer a verificação e constataram que era o menino e o homem, que já vinha mandando áudios ameaçando a mulher e o menino", esclareceu.

Ela contou que o filho não sofria violência física do pai, mas que presenciava as brigas entre o casal. Inclusive, na quarta-feira (11), Kuasne teria feito o mesmo trajeto que o ex-marido fez com o filho, também sob ameaça e tortura, mas conseguiu reverter a situação antes de uma fatalidade. Depois desse caso, ela foi para casa de parentes em Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina).

NA ESCOLA

Na manhã dessa segunda-feira (16), psicopedagogas e psicólogas da SME (Secretaria Municipal de Educação) visitaram a Escola Municipal Cláudio de Almeida e Silva, onde o menino estudava. “A escola pediu que a gente fosse até o local para conversarmos com os alunos, que estavam chorando,sofrendo, pelo ocorrido e fizemos um trabalho na sala", comentou a psicopedagoga Zenilda Aguilar Bueno.

Na ocasião, as crianças puderam falar da situação e conversar sobre o amigo com o apoio das profissionais. “Muitos se manifestaram dizendo que o amigo era engraçado, querido e que ele gostava de brincar bastante, outros disseram que ele ficava bravo, natural da criança. Depois lemos a história: O Pato, a Morte e a Tulipa (Wolf Erlbruch), para lidar com a morte, que vem para todos e faz parte da vida”, disse Bueno.

Esse trabalho é oferecido pela SME para todas as escolas que sentirem necessidade de lidar com situações delicadas. Os alunos são da mesma faixa etária que o menino, nove anos, e tiveram a oportunidade de expressar os sentimentos sobre o caso.