Quito, 22 (AE-AP) - O vice-presidente equatoriano, Gustavo Noboa, assumiu hoje (22) a presidência do país, dando um verniz de constitucionalidade ao golpe de Estado que depôs, durante a madrugada, o presidente Jamil Mahuad.
Noboa recebeu a presidência das mãos dos militares. Numa cerimônia simples, realizada no quartel-general do Comando Conjunto das Forças Armadas, prometeu manter o plano de dolarização - proposto há duas semanas por Mahuad -, combater a corrupção e restabelecer a ordem no país.
A sorte de Mahuad tinha sido selada numa reunião mantida durante a madrugada de hoje no Palácio de Carondelet entre os comandantes militares do país e os líderes do movimento indígena que, pela manhã, com o apoio de alguns oficiais, tomaram a sede do Parlamento. Um pouco antes, diante de uma crise cada vez mais profunda, o chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas, general Carlos Mendoza, instou publicamente Mahuad a renunciar.
"Não renunciarei. Se esse é um golpe de Estado e eles (os militares) pretendem tomar o poder pela força, que tomem pela força", reagira o presidente, no poder havia 15 meses, em discurso transmitido por rádio e TV.
Mas com a saída do presidente constitucional do palácio do governo, o presidente do Congresso, Juan José Pons, declarou o cargo vago. Noboa, que estava em Guayaquil, foi trazido às pressas a Quito num avião da Marinha. Os comandantes militares entraram então na sede da presidência, entre rumores de que já tinham tomado o poder.
No edifício do Parlamento, os manifestantes indígenas, que tinham proclamado uma "junta de governo de salvação nacional", preparavam-se para marchar em direção ao palácio. Uma comissão do movimento - integrada pelo presidente da Confederação das Nações Indígenas do Equador (Conaie), Antonio Vargas, pelo ex-presidente da Corte Suprema Carlos Solórzano e pelo coronel do Exército Lucio Gutiérrez, proclamado "presidente da junta" pelos manifestantes - foi antes ao Carondelet para negociar com os comandantes das Forças Armadas a tomada do poder.
Obtiveram um acordo que permitia uma solução mais próxima da constitucionalidade. O chefe das forças militares, general Mendoza, foi integrado à junta que se autoproclamara governo. A providência deixaria claro que Mahuad já não mandava no país.
Mas a junta permaneceria no poder apenas o tempo suficiente para que Noboa assumisse a presidência. Nas primeiras horas após o amanhecer, Mendoza anunciava a dissolução da junta e sua passagem para a reserva.
Segundo versões, Mahuad - que abandonara o palácio do governo
o Carondelet, na noite de sexta-feira - está nas dependências da missão chilena, onde teria pedido asilo político a Santiago.