Véspera de Ano-Novo em Manaus tem recorde de internações por Covid e abertura de covas
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sexta-feira, 01 de janeiro de 2021
MONICA PRESTES
MANAUS, AM (FOLHAPRESS) - A véspera de Ano-Novo (31) em Manaus teve 128 pessoas internadas com Covid-19 em um período de 24 horas, o maior número desde o início da pandemia, segundo dados do boletim epidemiológico da FVS-AM (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas).
Dois dias antes, Manaus já havia batido o recorde de internações, com 112 internados em 24 horas. Até então, o dia com maior número de internações era 4 de maio, no pico da pandemia, com 105 internações por Covid-19.
Após a revogação, na última segunda (28), do decreto que restringia comércios e serviços não essenciais até 10 de janeiro, o governo do estado iniciou a instalação de contêineres com câmaras frias para acondicionar os corpos de vítimas de Covid-19 nos hospitais de referência e de tendas para a triagem dos pacientes e atendimento a familiares.
Em outra frente, a Prefeitura de Manaus anunciou a preparação de um novo terreno no maior cemitério municipal, com a abertura de espaço para mais de mil covas, e a construção de gavetas funerárias para atender a demanda por enterros, que em dezembro foi 21% maior do que no mesmo mês do ano passado.
Segundo a Semulsp (Secretaria Municipal de Limpeza Urbana e Serviços Públicos), dezembro foi o terceiro mês com maior número de enterros em 2020, abaixo apenas de maio e abril. Foram 1.081 sepultamentos, média de 34 por dia. Em abril foram 2.433 e, em maio, 1.899.
O primeiro contêiner foi instalado no HPS (Hospital Pronto Socorro) Platão Araújo, na zona leste, na quarta (30), para abrigar setores administrativos, que deram espaço a uma nova ala de leitos dentro da unidade.
Na quinta (31) foram instalados contêineres com câmaras frias nos HPS 28 de Agosto, na zona centro-sul, e João Lúcio, na zona leste. Segundo a SES-AM, nos próximos dias devem ser instaladas câmaras frias em contêineres também no HPS Platão Araújo e no Hospital Delphina Aziz, na zona norte.
Além dos contêineres, o governo estadual anunciou que vai instalar câmaras mortuárias permanentes nos necrotérios dos prontos-socorros de Manaus. No HPS 28 de Agosto, a câmara será ampliada.
RECOMENDAÇÃO NÃO ACATADA
Ainda na terça (29), órgãos de controle do estado do Amazonas, como o MPE (Ministério Público Estadual), o MPT (Ministério Público do Trabalho), a DPE (Defensoria Pública do Estado) e a DPU (Defensoria Pública da União) entregaram uma carta ao governador Wilson Lima (PSC) com a recomendação do fechamento dos comércios e serviços não essenciais, como lojas, shoppings, bares, restaurantes, flutuantes e casas noturnas enquanto a taxa de ocupação dos leitos de UTI exclusivos para Covid-19 na rede pública estiver acima de 85%.
No dia em que a recomendação foi feita, a taxa de ocupação dos leitos de UTI Covid em Manaus estava em 92%. Lima chegou a anunciar nas redes sociais que a recomendação seria avaliada pelos técnicos do estado, mas não a acatou.
No dia seguinte novos leitos de UTI foram abertos nos hospitais públicos, e a taxa de ocupação divulgada pela FVS-AM caiu para 85%. Na véspera de Ano-Novo (31) a taxa de ocupação de leitos de UTI para Covid estava em 81% na rede pública.
Na rede privada, a taxa seguiu crescendo e, na quinta (31) estava em 93% para leitos de UTI e 91% para leitos clínicos. Pelo menos 7 dos 11 hospitais particulares de Manaus já anunciaram que chegaram à lotação máxima de leitos.
Apesar da queda na taxa de ocupação na rede pública, o governo estadual não descarta a possibilidade de uma paralisação das atividades comerciais nos próximos dias.
Segundo o secretário de saúde do estado, Marcellus Campêlo, o plano de contingência tem cinco fases e, com a revogação do decreto e o aumento das internações, a quarta fase precisou ser antecipada. A quinta fase, de acordo com ele, prevê a suspensão de todos os atendimentos de saúde não Covid e a paralisação de todas as atividades não essenciais.
"Se não houver consciência das pessoas da necessidade de se evitar aglomerações, vai chegar um momento em que o estado não vai ter condições de atender a todos", alertou o governador Wilson Lima.
Epidemiologista da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana afirma que o ideal era que uma restrição maior tivesse sido imposta no início do mês de novembro, especialmente por causa do período de compras e de festas de fim de ano.
"Teríamos freado o avanço das novas contaminações e, ao fim de dezembro, não precisaríamos fechar o comércio. Fazer isso no Natal e no Ano-Novo é dar um tiro na nuca da economia", ponderou.
Mas diante do atual cenário de descontrole, o pesquisador defende uma restrição mais severa à circulação de pessoas e aos serviços e comércios não essenciais para evitar um novo colapso do sistema de saúde, como aconteceu em maio. "Agora o que se vê é o caos. Recordes de internações novas, colapso da rede hospitalar, aumento forte de mortes e desmandos de toda sorte."
O governo do Amazonas chegou a publicar um decreto que proibia o funcionamento de comércios e serviços não essenciais de 26 de dezembro a 10 de janeiro, mas ele foi revogado dois dias depois de entrar em vigor, após uma série de protestos com aglomerações lideradas por comerciantes e empresários contrários à medida.