Cabo Verde, 30 (AE) - Os participantes da Regata do Descobrimento acham que terão pela frente, na região dos Doldrums, uma extensa calmaria - isso em função do vento fraco que vem empurrando os veleiros até agora na terceira perna, entre Mindelo e Salvador. Hoje, o navio-veleiro Cisne Branco, da Marinha, que leva a reportagem da Agência Estado) velejava com vento de 14 nós (26 km/h).
Doldrums (desânimo em inglês) é a região das calmarias equatoriais que fez a frota de Pedro álvares Cabral, há 500 anos
ficar cerca de 10 dias velejando a 1 nó (1,85 km/h). Os veleiros da regata devem chegar à linha do Equador no início da próxima semana.
"Aqui a bordo está tudo tranquilo, o único problema é a falta de vento. Pelo jeito, vamos ter muita calmaria pela frente", acredita Luiz Alberto Ballarin, comandante do Corumii, que já está sentindo os efeitos do calor à medida em que se aproxima do Hemisfério Sul: "A água está bem quente, em torno de 28 graus, o que esquenta bastante o barco." Só quem tem ar-condicionado são os veleiros grandes, como o Cisne Branco e o Sagres, com geradores potentes. Nos outros, o jeito é tirar a roupa. "Nós aqui já estamos todos em clima de Brasil", conta Ballarin: "Tomo mundo sem camisa e tomando banho de protetor solar." Em alto-mar, o sol queima muito.
"É bem provável que a calmaria seja grande, mas não se pode afirmar", opina Vera Sanada, do Clach na Sula: "De qualquer maneira, não era esperado esse vento fraco." Enquanto os veleiros reclamavam da falta de vento, o capitão-de-mar-e-guerra José Sadi Cantuária, comandante do Cisne Branco, mostrava na previsão do tempo que tudo está dentro do normal. O fax recebido no passadiço (cabine de comando) indicava vento de norte/nordeste de 3 a 4 graus na escala Beaufort: 7 a 16 nós (13 a 30 km/h).
De qualquer maneira, vento fraco não é problema para os veleiros que apenas realizam a viagem sem objetivo de competição
caso do Corumii e do Clach na Sula - esse último se rendeu ao motor na noite de quarta-feira, segundo Vera Sanada: "Motoramos por duas horas porque chegamos a fazer apenas 1 nó (1,85 km/h) de velocidade." Se Cabral tivesse motor...
José Pinto Ribeiro, do veleiro português Akymoro, conta que também está pronto para dar a partida, assim que necessário: "Penso que vamos ter uma grande calmaria, mas temos bastante combustível. Não estamos na regata e podemos usar o motor." Ribeiro falou também de uma pescaria bem estranha: "Apanhamos um marlin de 20 a 25 quilos. Tivemos com ele no convés, mas não conseguimos matar e ele fugiu. Tinha mais de 1,20m. Deu uma canseira tremenda e arrebentou a linha." Na hora, Ballarin, do Corumii, entrou na frequência do rádio: "Isso é história de pescador." Sem muito tempo de pensar em peixes e sem poder usar o motor - pelo menos em tese -, os veleiros que efetivamente disputam a regata seguem em busca da vitória na maior perna da regata - de Mindelo a Salvador, serão cerca de duas semanas.
Hoje, o brasileiro Viva levava ligeira vantagem, velejando na latitude 11o56 norte com velocidade de 5,4 nós (10 km/h). O Papa Léguas estava a 12o03 norte com 5,3 nós (9,8 km/h) de velocidade. E o Marujo fazia velocidade de 5 nós (9,3 km/h), na posição 12o13 norte. Vale lembrar que o Marujo sempre chega atrás, mas leva a melhor no tempo corrigido. E que as informações são fornecidas pelos próprios veleiros.
Velejando a 15 nós (27,8 km/h) de velocidade, o trimarã Bahia, único multicasco da regata, já estava na latitude 09o09 norte. Ele nem concorre com os demais porque é de outra categoria e sua velocidade é incomparável.