A inclusão de pessoas com comorbidades graves na próxima etapa de vacinação contra a Covid-19 pode aliviar o aumento do número de casos e mortes e ainda diminuir a lotação de hospitais. Nessa quinta-feira (29), o Brasil atingiu a trágica marca de 400 mil mortos pela doença. Apesar da gravidade das doenças elencadas pelo Ministério da Saúde no PNI (Plano Nacional de Imunização), a vacinação desse grupo de pacientes traz mais benefícios do que riscos à saúde. A Prefeitura de Londrina abriu cadastro para esse público na última terça-feira (27), mas ainda não tem prazo para iniciar a vacinação.

A Secretaria de Saúde de Londrina promete rigor na análise dos atestados médicos de pacientes com comorbidades atendidos na rede particular e planos de saúde
A Secretaria de Saúde de Londrina promete rigor na análise dos atestados médicos de pacientes com comorbidades atendidos na rede particular e planos de saúde | Foto: Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress

“Algumas comorbidades estão associadas a formas mais graves da Covid-19, portanto, com risco maior de internação em UTI e necessidade de ventilação mecânica, além de maior frequência de eventos tromboembólicos. Portanto, são pessoas com maior risco de óbito pela Covid-19”, analisa a médica e infectologista pediátrica do HU (Hospital Universitário) de Londrina, Jaqueline Dario Capobiango.

De acordo com Capobiango, entre as comorbidades, “os dados têm mostrado que os pacientes com cardiopatias, hipertensão arterial grave, diabetes mellitus, obesidade, insuficiência renal crônica, hepatopatia crônica, pneumopatia crônica, imunossuprimidos, síndrome de Down e anemia falciforme têm maior risco de internar e falecerem”. Quanto às pessoas imunossuprimidas, como aquelas com câncer, transplantados, com HIV ou em uso de medicamentos imunossupressores, eles poderão ter uma menor resposta à vacina, mas a imunização deve conferir algum grau de proteção.

Questionada sobre um possível risco da vacina para pessoas com comorbidades, a infectologista é enfática. “Até o momento nenhuma doença é considerada de risco para receber a vacina. As vacinas são seguras, o risco de ter uma complicação pela doença Covid 19 é muitas vezes maior que qualquer possibilidade de evento adverso após as vacinas . Quando ocorrem, as reações vacinais são leves e transitórias, sem sequelas.” Ela observa ainda que a Covid 19 tem deixado sequelas graves e até irreversíveis em algumas pessoas.

Capobiango destaca também que a imunização será benéfica para mulheres grávidas. “A OMS (Organização Mundial de Saúde) e várias sociedades médicas internacionais já recomendam a vacinação para gestantes, em especial para as gestantes com alguma comorbidade associada. A justificativa é a constatação de que a Covid 19 causa trabalho de parto prematuro, alterações de coagulação, pneumonia grave e óbito materno e/ou fetal.” A proteção se estende ao futuro bebê. “A gestante imunizada produzirá células de defesa e anticorpos, que passarão para o feto. Portanto, o RN de mãe vacinada já nasce com algum grau de proteção, que somado aos fatores de proteção transferidos pelo leite materno, são certamente benéficos”, explica ela.

ATESTADOS

A Secretaria de Saúde de Londrina promete rigor na análise dos atestados médicos de pacientes com comorbidades atendidos na rede particular e planos de saúde que estão se cadastrando no site da prefeitura para vacinação contra a Covid-19. Quem recebe acompanhamento ou retira medicamentos nas unidades municipais de saúde já tem validação automática de seus cadastros.

“Buscamos orientar os médicos de forma antecipada à abertura do cadastro, enviando ofício para a Associação Médica, operadoras dos planos de saúde e os médicos da rede municipal para facilitar os pedidos desses atestados que serão solicitados pelos pacientes", reforça o secretário municipal de Saúde, Felippe Machado. “Se houver algum cadastro/atestado fraudado, serão tomadas as medidas cíveis e criminais como qualquer falsificação”, alerta.

A presidente da Associação Médica de Londrina e conselheira do CRM-PR (Conselho Regional de Medicina), Beatriz Tamura, acredita na lisura dos médicos quanto às informações fornecidas no atestado médico para confirmar as comorbidades beneficiadas com a vacinação contra a Covid-19. “A forma como o município está fazendo esse cadastro com o paciente tendo de comprovar a comorbidade com exames e medicações (prescritas), dificilmente ocorrerá alguma fraude”, afirma.

Tamura observa que ainda, em caso de alguma ocorrência, o médico pode infringir o Código de Ética Médico e ser penalizado se houver alguma denúncia ao CRM. “Todo documento para qualquer declaração implica legalmente para o médico”, completa.

Para ela, os pacientes com comorbidades requerem consultas frequentes aos médicos especialistas para acompanhar essas patologias. “É um paciente até costumeiro. Não dá, por exemplo, para emitir um atestado para um paciente que há cinco anos não faz uma consulta”, diz.

Tamura destaca ainda que a AML vem orientado os médicos e disponibilizou um formulário on-line no site da entidade para facilitar tanto o trabalho dos associados como para evitar que pacientes se aglomerem nos consultórios. A ferramenta foi criada após um acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. Depois de preenchido, o documento atestando a comorbidade é encaminhado eletronicamente (e-mail ou WhatsApp) sem que os pacientes precisem sair de casa.

PÚBLICO-ALVO

O cadastro on-line foi liberado para indivíduos entre 18 anos e 59 anos com comorbidade elencada no PNI (Plano Nacional de Imunização) do Ministério da Saúde, como: diabetes; doenças pulmonares crônicas graves; hipertensão arterial; doenças do coração; enfermidades cerebrovasculares; doenças renais crônicas; anemia falciforme; obesidade mórbida; síndrome de Down; cirrose hepática; e imunossupressão (pacientes transplantados, com HIV ou câncer). Também estão incluídos entre os cadastrados mulheres grávidas e puérperas (que tiveram filhos nos últimos 45 dias), independentemente da idade. No total, estima-se que entre 22 e 25 mil londrinenses estejam incluídos nessas categorias.

Somente com a chegada de novas remessas de vacinas é que as pessoas com comorbidades serão vacinadas, O município espera uma nova remessa de vacinas para a segunda quinzena de maio para finalizar a vacinação da população com mais de 60 anos.

Segundo o secretário de Saúde, a vacinação será iniciada pelas pessoas que estão em tratamento de hemodiálise, que têm síndrome de Down e pelas gestantes e puérperas. Na sequência, a vacinação passará a ser por idade, focada naqueles que tenham entre 55 e 59 anos, com comorbidades.