A visibilidade da morte do neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vítima de meningite bacteriana na semana passada, ocasionou aumento na procura pela imunização contra a doença em instituições particulares como o Centro de Vacinas Pequeno Príncipe, em Curitiba.

A pediatra Heloísa Giamberardino, responsável técnica pelo Centro, estima que houve alta de cerca de 200% neste período. O pico ocorreu no sábado (2). A médica conta que ouviu relatos de corridas às clínicas no Brasil inteiro.

As instituições particulares oferecem a imunização para outros sorotipos além do C, mais comum na maior parte do País e, por isso, o único que integra o Calendário Nacional de Vacinação. O tipo B prevalece na Região Sul e precisa de uma vacina própria, que pode custar acima de R$ 600 por se tratar de um produto importado. Nas particulares, está disponível uma vacina que cobre os sorotipos A,C, W e Y do meningococo. Há incidência do sorotipo W no Sul.

Heloísa Giamberardino explicou que casos que ganham maior exposição costumam preocupar a população, mas não são automaticamente indícios de surto ou de aumento da incidência. No entanto, tampouco trata-se de uma doença rara ou desconhecida. "Ela nos visita endemicamente, todos os anos, e temos que prestar atenção", alertou a pediatra, que lamenta o que considera uma baixa procura mesmo pela imunização gratuita para o tipo C, oferecida pelo Calendário Nacional.

"Tivemos surtos nos anos 1990 e vimos muitas pessoas pedindo uma vacina. Hoje, ela existe, mas muitas famílias optam por não fazê-la", disse, apontando que a própria redução da incidência nos últimos 15 anos graças à imunização fez a população baixar a guarda. A pediatra também criticou os efeitos negativos causados por informações falsas de movimentos antivacinas.

A pediatra lembrou que também é frequente que se deixe de fazer os reforços a cada cinco anos - necessários até o fim da vida. "Para uma doença tão invasiva como essa, é preciso ter uma alta concentração de anticorpos. Caso contrário, não se consegue combatê-la", disse. Segundo ela, a meningite bacteriana é uma doença silenciosa, que manifesta poucos sinais no início, mas que pode evoluir para a morte em poucas horas.

De acordo com dados do Centers for Disease Control and Prevention, citados no Boletim Epidemiológico de janeiro de 2019 da Vigilância em Saúde, estima-se que a letalidade para doença pode chegar a 70% sem tratamento. A vacina pode ser tomada por adultos e é recomendada para profissionais de saúde.

De acordo com Giamberardino, a meningite bacteriana não pode ser totalmente eliminada, porque "faz parte da biologia do ser humano". Ela disse que as estimativas de pessoas "colonizadas" com meningococos chega a 10% - daí a contaminação de crianças a partir de adultos. "Devemos buscar a adesão de 100%", disse. "As crianças que estão hoje com 5 anos vão viver até os 100, e vão ter que estar mais protegidas. A vacina continua por toda a vida. As pessoas têm de se conscientizar disso."