Londrina pode enfrentar o ápice da dengue nas próximas quatro semanas, com o número de casos ficando na casa dos dois mil por semana. O alerta é do secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, em coletiva na manhã desta segunda-feira (04). Por conta da situação, a decisão tomada pelo município foi de transformar a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim Sabará e a UBS (Unidade Básica de Saúde) do Ouro Branco em pontos exclusivos de atendimento a pacientes sintomáticos a partir desta terça-feira (05).

Por conta de dados técnicos e epidemiológicos preocupantes, o secretário explica que a decisão tomada foi de alterar a rede de atendimento da cidade. Com a mudança, a partir desta terça-feira (05) a UPA do Jardim Sabará e a UBS do Ouro Branco passam a atender, exclusivamente, casos de dengue. Qualquer paciente com sintomas ou sinais da doença deve procurar atendimento em um desses dois pontos, sendo que a UPA funciona 24 horas por dia e a UBS do Ouro Branco das 7h às 23h.

“As nossas equipes vão fazer o atendimento, o diagnóstico e aqueles casos em que necessitar o acompanhamento, que a gente chama de estadiamento, vão ser direcionados para fazer perto da sua residência nos postos de saúde”, ressalta, complementando que esse acompanhamento deve ser feito por, pelo menos, 10 dias após o início dos sintomas. O secretário reforça que as outras unidades de saúde permanecem realizando atendimentos para a dengue, mas naquele formado de consulta agendada ou com encaminhamento médico. A porta de entrada dos pacientes com dengue, a partir desta terça-feira, é a UPA do Sabará e a UBS do Ouro Branco.

“Nós estamos reforçando as equipes médicas, as equipes de enfermagem, as equipes administrativas, o pessoal da limpeza e também mudando a logística do transporte de exames para garantir que esses exames possam chegar rapidamente ao laboratório”, explica, complementando que serão utilizados carros exclusivos para esse serviço. Segundo ele, o objetivo é dar mais celeridade e comodidade aos pacientes com dengue.

A decisão foi tomada mediante ao número expressivo de casos, de acordo com Machado, que vem preocupando ”semana após semana”. “O pior é que os indicativos das nossas equipes técnicas e epidemiológicas apontam que ainda há um crescimento [no número de casos] por vir, em especial nas próximas quatro semanas. A expectativa é que a gente atinja o pico, o ápice da dengue, chegando a dois mil casos novos por semana”, relata. De acordo com os dados mais recentes da Sesa (Secretário do Estado da Saúde), até a última terça-feira, dia 27 de fevereiro, Londrina já tinha confirmado 4.057 casos e quatro mortes em decorrência da dengue.

Apesar do cenário preocupante à frente, o secretário afirma que ainda dá tempo de mudar, sendo necessário a ajuda e engajamento de todos. Ele ressalta que o município está com muitas ações em prol do combate ao mosquito da dengue, com agentes de endemia em campo, aplicação do fumacê e do veneno com a bomba costal, assim como da vacinação, que ele afirma ser uma nova ferramenta.

Mesmo com as ações e a vacinação em andamento, Felippe Machado aponta que nada disso substitui a participação de cada cidadão londrinense. “A gente novamente faz o apelo para que você possa nos ajudar nesse momento de tensão em relação ao nosso sistema de saúde, fazendo a sua parte, olhando o seu quintal e incentivando que o seu vizinho faça o mesmo para que a gente possa sair o mais rápido possível desse cenário de epidemia da dengue”, pede.

O cenário da dengue é preocupante em toda a cidade, segundo o secretário, mas o destaque vai para a zona sul, que é a região que lidera o número de casos da doença. Porém, bairros das zonas norte e leste também enfrentam um número crescente de confirmações de dengue após o feriado de carnaval. “A questão da vacina, que nós brigamos tanto para que Londrina recebesse a vacina agora e não em agosto, como estava previsto para o Ministério da Saúde, e conseguimos vencer essa etapa, não está tendo adesão”, afirma, ressaltando que, das 13 mil crianças na faixa-etária dos 10 aos 11 anos, pouco mais de três mil foram vacinadas “com muito esforço”. Na ação de sábado (02), no Shopping Boulevard, foram vacinadas apenas 115 crianças, sendo que a capacidade, segundo Machado, era de imunizar mais de mil.

Mosquitos estéreis

Como um projeto piloto de soltura de mosquitos estéreis no Mister Thomas, o secretário de Saúde de Londrina afirma que os dados apontam que houve a redução de 85% no número de casos de dengue no local. Sobre a ampliação, ele afirma que a continuidade do uso dessa tecnologia vem sendo analisada de acordo com o projeto que foi apresentado pela empresa Forrest Brasil Tecnologia, que tem duração de três anos. “Para garantir a efetividade disso, a empresa nos coloca a necessidade de ser um projeto contínuo, de três anos, e, para isso, haveria a necessidade de um aporte de recursos considerável”, explica, ressaltando que as equipes estão avaliando a efetividade da continuidade do projeto.

Além disso, segundo Machado, também está em andamento, junto à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e ao Ministério da Saúde, a implementação de uma tecnologia semelhante e que não traria custos ao município. Nesse caso, seriam soltos mosquitos contaminados com uma bactéria chamada Wolbachia, que pode contaminar 10 gerações seguintes dos mosquitos. “Nós estamos fazendo as avaliações com muita calma e de forma organizada para ver se nós vamos ou não implementar essa tecnologia como uma das políticas de enfrentamento à dengue aqui no município”, finaliza.