Universidades avaliam novo formato de ingresso definido pelo governo
Prova Paraná Mais passa a ser usada como critério para acesso junto ao vestibular e Enem
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 21 de maio de 2024
Prova Paraná Mais passa a ser usada como critério para acesso junto ao vestibular e Enem
Jessica Sabbadini - Especial para a FOLHA
O governador Ratinho Jr (PSD) assinou na segunda-feira (20) um decreto (N° 5.835/24) que institui a Prova Paraná Mais como uma forma de ingresso de alunos da rede pública nas sete universidades estaduais. O formato já vem sendo discutido desde o ano passado com representantes das instituições superiores, da Seed (Secretaria da Educação) e da Seti (Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior).
Miguel Sanches Neto, reitor da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) e presidente da Apiesp (Associação Paranaense das Instituições de Ensino Superior Público), reforça que é fundamental ampliar as vagas nas universidade ao maior número de pessoas, principalmente aos estudantes de escolas públicas.
“Vejo o processo como algo extremamente positivo se respeitadas as particularidades das universidades e se respeitados os critérios de seleção de cada uma das universidades para que haja uma isonomia no processo de entrada no ensino superior”, aponta. Segundo ele, a Prova Paraná Mais pode ser um bom instrumento para a captação de alunos das escolas públicas paranaenses para levar para dentro das universidades.
Pró-reitor de ensino da UEM (Universidade Estadual de Maringá), Marcos Vinícius Francisco explica que todas as universidades estaduais foram procuradas pelo governo do Estado durante a elaboração do decreto, que prevê que 20% das vagas devem ser destinadas aos estudantes das escolas públicas selecionados através da Prova Paraná Mais. Segundo ele, a UEM instituiu uma comissão para avaliar e debater sobre esse novo formato, que foi aprovado pelo Cepe (Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão).
Ele aponta que, se construída em conjunto entre as universidades estaduais e em articulação com a Seed e com a Seti, a Prova Paraná Mais vai ser um mecanismo para democratizar o acesso à universidade pública. “Democratizar outras formas de ingresso na universidade significa trazer outras possibilidades, outros olhares que, às vezes, não estão dados no imaginário dos jovens do ensino médio”, aponta.
Cada universidade conta com um representante para dar andamento nos desdobramentos do novo formato de ingresso ao ensino superior. “A ideia defendida pelas universidades é a de construção coletiva da prova e dos instrumentos”, reforça. A UEM oferta, anualmente, cerca de 3.800 vagas, sendo que, a partir de agora, 760 vão ser destinados ao ingresso pela Prova Paraná Mais.
A reportagem procurou a UEL (Universidade Estadual de Londrina) que, por meio da assessoria, disse que só vai comentar sobre a novidade após a reunião do Conselho Universitário, marcada para a primeira semana do mês de junho.
Economista da educação e professora da Ebape (Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas) da FGV (Fundação Getulio Vargas) do Rio de Janeiro, Tássia Cruz aponta que oferecer diferentes formas de ingresso ao ensino superior pode ajudar a reduzir "a ansiedade e a angústia dos estudantes que aguardam uma aprovação para entrar em um curso de graduação". “Tira o peso de uma prova única”, aponta.
A Prova Paraná já é aplicada há vários anos para alunos do ensino fundamental e médio das escolas públicas como forma de avaliar a qualidade do ensino e da aprendizagem dos estudantes. A partir de agora, a Prova Paraná Mais vai ser um instrumento seletivo de ingresso ao ensino superior, o que pode fazer com que os alunos enxerguem a avaliação com outros olhos. “Eles vão estudar para aquela prova”, aponta.
Cruz ressalta, no entanto, que a prova precisa ser reformulada para atender essa nova demanda. A prova avaliativa, segundo ela, tem um caráter diferente de uma que vai ser utilizada para selecionar os estudantes que vão entrar no ensino superior. “Não é só acrescentar outras disciplinas, mas o formato da prova precisa ser diferente, ela precisa ser capaz de discriminar no sentido de selecionar, de diferenciar quais são as habilidades que se espera de um aluno para entrar no ensino superior”, opina.