Os dados referentes ao novo coronavírus no Paraná, assim como no Brasil, confirmam o crescimento exponencial da Covid-19. Entre 12 de março, quando foram registrados os primeiros casos no estado, e 12 de abril, as confirmações da doença saltaram de seis para 750. O número de óbitos também está em crescimento, embora menos acentuado, com ascensão um pouco mais expressiva a partir de 5 de abril. Até o último domingo (12), a Sesa (Secretaria Estadual de Saúde) contabilizava 31 mortes no Paraná, 27 delas, em dez dias. Nesta terça-feira (14), os casos positivos somavam 803 e os óbitos, 39. Em dois dias, houve alta de 7% nos novos casos e de 25% nas mortes.

Imagem ilustrativa da imagem Um mês após chegar ao Paraná, curva do coronavírus ainda acelera

“O número de casos novos no Paraná aumenta e depois cai, o gráfico mostra picos. Talvez esses picos possam estar relacionados com a liberação dos resultados dos exames”, avalia o professor do Departamento de Estatística da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Silvano Cesar da Costa. Junto com outros cinco professores do departamento, Costa criou uma página na internet onde estão agregadas as informações da Covid-19 no Brasil, no Paraná e nos municípios do estado, atualizadas diariamente. Os dados convertidos em gráficos e que permitem uma melhor visualização da evolução da pandemia em todas as regiões do País são compilados pelo site Brasil.IO. O endereço da página é bit.ly/coronalondrina.

Mesmo com um gráfico que alterna subidas e descidas no número de novos casos no Paraná, formando uma linha semelhante a de um ecocardiograma, Costa destaca a tendência de aumento das confirmações. “Esse crescimento é normal. É o comportamento do vírus em toda epidemia. Seria possível fazer uma projeção sobre o que vai acontecer. O comportamento, até o período da estabilização, é um cálculo matemático, mas acho perigoso porque depende de outros fatores, como o isolamento social. O nosso objetivo maior é mostrar a situação de forma descritiva, sem pensar em projeções.”

O Paraná, com uma população de mais de 11,4 milhões de pessoas, segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2019, tem uma média de casos abaixo da média nacional. As confirmações da doença no Estado correspondem a 0,006% da população e os óbitos equivalem a 4,3% do total de casos positivos. No Brasil, esses percentuais são de 0,011% e 5,6%, respectivamente. “Tem muitas cidades paranaenses que ainda não têm confirmação da doença”, ressaltou Costa.

O professor chama a atenção, no entanto, para um dado que requer uma análise mais aprofundada da doença no Estado, representado na tabela que mostra a taxa de letalidade da Covid-19 em cada cidade onde há óbitos decorrentes da doença. Desconsiderando-se os municípios onde há apenas um ou dois casos confirmados e uma morte, Paranaguá, Pato Branco, Campo Mourão, Maringá e Campo Largo têm os mais altos índices de letalidade. Dos oito casos confirmados em Paranaguá, dois evoluíram para óbito – uma taxa de mortalidade de 25%. Em Pato Branco, com cinco casos e uma morte, a taxa é de 20%; em Campo Mourão, com 21 casos e quatro mortes, o índice é de 19,04%; e em Maringá e em Campo Largo, 16,66%. Londrina tem taxa de 5,33%.

Médico sanitarista e professor do curso de medicina da PUC em Londrina, Gilberto Berguio Martin considera fundamental esclarecer que o Brasil, em razão principalmente do baixo índice de testagem, tem subnotificação dos casos de Covid-19 e considera imprecisa qualquer análise baseada no número de casos confirmados. Martin prefere olhar para os dados de mortalidade e estabelecer um indicador por grupos populacionais para que se possa ter clareza sobre a disseminação do vírus pelo País. “A gente precisa ter a referência dos casos confirmados. Olhar para essas informações, é importante. Mas a gente não consegue saber quantos casos existem não confirmados para cada confirmado. Por isso, o parâmetro do número de óbitos é um pouco mais objetivo.”

O cálculo do índice de mortes por milhão de habitantes revela que a taxa de mortalidade por Covid-19 no Paraná é de 3,23%, a metade da observada no País, que é de 6,48%, e que Londrina tem uma taxa acima da média nacional, de 7%. “Esse é um dado que a gente deve prestar atenção. Não sei se é preocupante, ainda é cedo para dizer, são números ainda muito pequenos, mas merecem uma avaliação”, diz Martin.

‘Ainda não é hora de relaxar as medidas de isolamento’, diz médico

Os números assustadores do coronavírus em países como Itália e Espanha, com altas taxas de mortalidade, fez com que o Brasil adotasse rapidamente medidas de isolamento social para conter a disseminação da Covid-19. “O isolamento foi fundamental para a doença ter uma evolução que aos olhos das pessoas leigas parece leve, mas pelas estatísticas, o avanço não é tão leve assim”, afirma o médico sanitarista Gilberto Berguio Martin.

Como a doença não avança com uma “agressividade visual”, diz Martin, começa a ganhar força a pressão do setor produtivo para a retomada das atividades econômicas, mas ele alerta que essa pode ser uma decisão arriscada, considerando que o ápice da epidemia deverá ocorrer nas próximas semanas. “Não sei o que as pessoas esperavam ver. Cadáveres nas calçadas? A doença começou em uma camada social com maior poder aquisitivo, com pessoas que têm condições de fazer isolamento, e mesmo assim teve essa evolução. Agora é o momento de evitarmos que a doença se alastre nas periferias, onde a possibilidade de isolamento é menor, pela quantidade de pessoas, tamanho dos domicílios e condições de saneamento. O isolamento precisa continuar para evitar que a doença avance entre as populações periféricas. Se isso ocorrer, vai ser uma situação muito trágica e desumana.”

Percentual de casos confirmados em Londrina supera taxas estadual e nacional

Enquanto o percentual de casos confirmados de coronavírus no Brasil em relação ao número de habitantes é de 0,012%, Londrina tem uma taxa de 0,013%, quase o dobro da observada no Paraná, de 0,007%. O percentual de óbitos em relação aos casos confirmados também é maior no município do que no estado – 5,33% em Londrina, onde foram computados 75 casos e quatro mortes, contra 4,85% no Paraná, com 803 casos e 39 mortes, segundo dados da Sesa (Secretaria Estadual de Saúde).

“É um ponto que achamos interessante destacar”, diz o professor do Departamento de Estatística da UEL Silvano Cesar da Costa, que sugere uma investigação maior sobre as razões que levaram o município a ter taxas da doença mais elevadas do que no Estado.

“Nosso problema é que a gente tem que fazer com que se tenha a estrutura para que se morra o mínimo de pessoas. Se sobe tudo de uma vez, o sistema não tem condição de dar atendimento a todo mundo. E vamos chegar em um ponto no qual vamos ter de escolher quem vamos pôr no respirador e quem nós vamos condenar à morte”, destaca o médico sanitarista Gilberto Berguio Martin.