Já passava das 22h desta quinta-feira (8) e Reginaldo Aparecido dos Santos, 42, conhecido como Javali, ainda não havia sido liberado da PEL (Penitenciária Estadual de Londrina) II. Ele foi o primeiro a ser apontado como suspeito das mortes de Marley Gomes de Almeida, 53, e da neta dela, Ana Carolina Almeida Anacleto, 11, em Jataizinho (Região Metropolitana de Londrina). Elas foram encontradas sem vida no dia 22 de março e, na casa, havia uma frase escrita em sangue: “Deculpa, mae. Marcos” (sic).

O pedido de revogação da prisão foi protocolado pela PCPR (Polícia Civil do Paraná) ainda pela manhã de quinta, após outra pessoa confessar o crime. O alvará de soltura foi expedido apenas no fim de tarde desta sexta-feira (9).

Javali foi preso pela PCPR quatro dias depois das mortes após ser espancado pela população de Jataizinho. Ele morava a poucos metros da casa de Marley e precisou passar pelo HU (Hospital Universitário) antes de ser levado à prisão. Era conhecido no Jardim Pombal e fazia pequenos serviços para sobreviver.

Desde o início, as investigações foram mantidas em sigilo pelas autoridades. O secretário de Segurança Pública, Hudson Leôncio Teixeira, veio para a região após o crime. No dia 4 de abril, o delegado Vitor Dutra de Oliveira, de Ibiporã (RML) confirmou que três facas e uma bermuda haviam sido apreendidas em endereços próximos da casa de Marley.

A reviravolta ocorreu na quarta-feira (7), quando a Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública) divulgou ter elucidado o caso com a prisão de um homem de 24 anos, que teria confessado o crime. “Em seu depoimento revelou detalhes totalmente compatíveis com os laudos periciais”, disse em nota a pasta.

O suspeito, que já havia sido ouvido durante as investigações e negado qualquer envolvimento, estava preso por tráfico de drogas e em “saída temporária” quando avó e neta foram assassinadas. A Polícia Civil está tratando o caso como latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte.

O advogado Claudinei Oliveira Cabral, que representa Javali, disse não entender “por que demorou tanto para que eles entendessem que ele era inocente”.

“É um caso muito complexo, a sociedade, com toda razão, se compadeceu e sofreu com a perda de uma avó e de uma neta. Mas nós temos um inocente com a sua liberdade tolhida pelo Estado por mais de um mês. A sociedade deve refletir sobre isso”, disse Cabral, pontuando que a resposta do Estado “foi a prisão de um inocente, de alguém extremamente vulnerável”.

‘SITUAÇÃO DE EXTREMA NECESSIDADE

O advogado conta que Reginaldo tem problemas hepáticos e está com ferimentos causados pelo linchamento. A casa em Jataizinho foi depredada, e seus objetos pessoais, queimados. “Ele tem medo, inclusive, da liberdade, daquilo que podem fazer com ele aqui fora. A situação dele é de extrema necessidade, de cuidados psicológicos e médicos quanto antes.”

De acordo com Cabral, Javali chegou a trocar palavras com o homem apontado como autor do duplo latrocínio. “Ele fez o depoimento para mim de que na cela ao lado se encontra o verdadeiro assassino. Essa pessoa teria pedido perdão... ele [Javali] chorou e perdoou”, revelou.

mockup