Para além da religião, Irmã Dulce é reconhecida por suas obras sociais e amor ao próximo. Porém, apesar de ser considerada a primeira santa brasileira, em muitos cantos do País ainda se sabe pouco sobre ela. Com a canonização, membros da igreja e devotos acreditam na popularização daquela que ficou conhecida como Anjo Bom da Bahia.

O padre Luiz Laudino, de Alvorada do Sul, vai acompanhar de perto a canonização. Ele e dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de Salvador, que mora em Londrina, foram para o Vaticano. “Eu penso que ela é um ícone da espiritualidade no exercício da caridade, penso que vai irradiar para o Brasil todo a informação sobre quem foi Irmã Dulce, o que ela simboliza para a Bahia e também para a igreja em geral”, afirmou Laudino.

O padre comentou que é preciso olhar para o fato com mais proximidade. “A gente tinha um olhar para fora de casa, como para a Madre Teresa de Calcutá, agora a gente se alegra que dentro de casa temos uma atitude semelhante”, apontou.

Mas o olhar para dentro atravessa sentidos. Ivonoy Couto, 63, vive em Salvador (BA), região em que a beata é mais conhecida, e conta que a sua devoção se iniciou após problemas de saúde na família. “Minha mãe teve um câncer no intestino em 2010 e precisou de uma cirurgia com muita urgência. No dia seguinte da descoberta da doença dela, eu também passei por uma colonoscopia e fiquei o dia todo no hospital pensando em como conseguir uma cirurgia para a minha mãe tão rápido. Então, na antessala, eu vi uma freira”, relatou.

A visão se repetiu, levando a advogada aos prantos. “Eu fiquei impressionada com aquilo, retornei depois para ver se eu não estava confundindo com alguma foto no hospital.” Naquele mesmo dia, recebeu um telefonema e conseguiu a cirurgia para a mãe em menos de uma semana. Além da conquista, também atribui à beata a rápida recuperação da mãe, que tem hoje 90 anos.

Só então Couto passou a procurar saber mais sobre Irmã Dulce, por meio de pesquisas e relatos de pessoas que conviveram com ela. Com os dados, chegou a escrever um esboço intitulado "A Santa Ecumênica do Brasil". “Para mim, ela não tinha sexo, cor, religião, tinha apenas vida, DNA do amor e filha do redentor e nada mais”, afirmou.

Com tantos depoimentos, a advogada se viu mergulhada em uma história profunda. “Não era uma santa que só ficava ajoelhada, ela rezava também, claro, mas ela fazia muita caridade. Ela era santa em vida, todo dia fazia milagres, transformava tristeza em sabedoria. Isso me fez acreditar que qualquer pessoa pode ser santo aqui na Terra.”

O olhar para dentro de si e repensar as atitudes para devolver amor ao próximo. Para seguir esses caminhos, a devota adotou um questionamento que sempre faz a si mesma. “Eu não peço nada, eu pergunto: ‘se ela estivesse em meu lugar, o que ela faria?’”, explicou. Foi essa pergunta que se fez quando o filho, no auge dos 20 anos, passou por uma leucemia. “Eu sempre conversava com Irmã Dulce, não pedindo, mas perguntando o que ela faria se estivesse em meu lugar.” Com esses caminhos, teve serenidade para acompanhar o filho que hoje vive com saúde.

A crença de que qualquer pessoa pode ser uma pessoa do bem é o que faz Couto continuar buscando por mais informações. A devota é defensora da popularização de Irmã Dulce, sendo uma das articuladoras na produção cinebiográfica da beata. Com a canonização, espera que a mensagem seja vista por mais pessoas. “A canonização não é surpresa para mim, porque para mim ela é santa independentemente de tudo isso”, afirmou.

Para Padre Laudino, a canonização é consequência de um processo natural de repercussão importante. “Não tenho dúvida de que isso vai levar ao conhecimento dela em mais locais. Ela já está sendo mais pesquisada e até eu estou descobrindo coisas que eu não sabia”, comentou.