A pesquisa para o desenvolvimento do imunizante nasceu no departamento de Bioquímica da Federal do Paraná
A pesquisa para o desenvolvimento do imunizante nasceu no departamento de Bioquímica da Federal do Paraná | Foto: Marcos Solivan/Secomo/UFPR
A pesquisa para o desenvolvimento do imunizante nasceu no departamento de Bioquímica da Federal do Paraná
A pesquisa para o desenvolvimento do imunizante nasceu no departamento de Bioquímica da Federal do Paraná | Foto: Marcos Solivan/Secomo/UFPR

As pesquisas que poderão resultar na criação de um imunizante contra a Covid-19 “100% paranaense” estão entre as cinco mais avançadas do País e a expectativa é que o pedido para o início da fase clínica dos estudos, ou seja, com testes em humanos, seja protocolado em até seis meses na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Em fase de testes nos laboratórios da UFPR (Universidade Federal do Paraná), o imunizante demonstrou ser capaz de estimular o desenvolvimento de anticorpos do vírus que causa a Covid-19 em maior quantidade na comparação com a desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica Astrazeneca. O autor das otimistas afirmações é o reitor da instituição, Ricardo Marcelo Fonseca, em reunião com os deputados da Frente Parlamentar do Coronavírus, da Alep (Assembleia Legislativa do Paraná), na manhã desta segunda-feira (29).

De acordo com o reitor de uma das mais antigas e importantes universidades públicas do País, a previsão é de que o imunizante seja disponibilizado no ano que vem. Em sua fala, Fonseca destacou que pouco se sabe sobre o tempo de imunização ofertado pelas vacinas que já estão sendo aplicadas, o que somado ao surgimento das novas cepas, fazem com que o Brasil tenha que empregar todos os seus esforços no desenvolvimento de "todos os tipos de vacinas", frisou.

No final da semana passada, a criação de um grupo de trabalho paralelo capitaneado pela Seti (Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) e pelo Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná) também foi anunciada. O grupo contará com pesquisadores indicados por seis universidades estaduais do Paraná e três bolsas para pesquisadores com pós-doutorado serão ofertadas através da Fundação Araucária para a reunião de esforços.

Conforme afirmou à FOLHA o superintendente da Seti, Aldo Bona, os nomes já foram indicados e o grupo vai atuar como um conselho.

Na manhã desta segunda-feira, a reunião virtual também foi marcada pela aprovação de um requerimento para o envio de R$2 milhões do orçamento da Assembleia Legislativa do Paraná para o custeio do trabalho que vem sendo desenvolvido na UFPR. As discussões antecederam a assinatura de um acordo entre a instituição e o Governo do Paraná, o que deverá ser formalizado nesta semana.

Sobre a vacina da UFPR, o reitor aproveitou para destacar os motivos que a fazem ser considerada 100% brasileira. O destaque para a “nacionalidade” do imunizante foi feito em alusão à revelação de uma parceria entre o Instituto Butantan e o Hospital Mount Sinai, de Nova York, no desenvolvimento da Butanvac, anunciada como a primeira 100% nacional, o que mais tarde não se confirmou.

“Essa sim é 100% brasileira. Ela deriva de pesquisas que o nosso pessoal da bioquímica, orgulho da universidade há mais de 30 anos, com pesquisas de ponta sobre uma bactéria chamada Azospirillum na questão da fixação do nitrogênio vegetal. E a partir dos resultados destas pesquisas consolidadas é que eles derivaram essa pesquisa para a tecnologia de vacina específica”, explicou Fonseca.

Ainda de acordo com ele, a vacina utiliza insumos que já são amplamente produzidos no Brasil, fazendo com a vacina tenha seu custo estimado de cerca de R$ 10 por dose.

Paralelamente, o estado do Paraná segue aguardando o andamento do processo de transferência de tecnologia com o Instituto Gamaleya, da Rússia, para uma eventual produção pelo Tecpar da Sputnik V. "Mas o grande mote nosso é a atração de investimentos", destacou o chefe da Casa Civil, Guto Silva.

Questionado sobre a disposição do Governo Federal em colaborar para a transformação do Tecpar em mais um laboratório público de referência nacional na produção de vacinas, Aldo Bona lembrou que o Instituto já tem condições de adaptar procedimentos técnicos da produção de vacina animal para a humana e que o Governo Federal "tem interesse em investir", avaliou.

PESQUISA

As pesquisas do desenvolvimento da vacina da UFPR contra o Sars-CoV-2 nasceram em meados de março do ano passado, quando os professores Emanuel Maltempi de Souza, coordenador da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19, e Marcelo Müller, ambos do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecar da UFPR, decidiram unir esforços para dar respostas à sociedade a partir de sua experiência com um biopolímero bacteriano já utilizado na industria farmacêutica, o polihidroxibutirato (PHB), já aprovado pela agência norte-americana FDA. A FOLHA solicitou entrevistas aos professores. No entanto, foi informada de que a coordenação da pesquisa decidiu aguarda o anúncio oficial do governador Ratinho Junior (PSD).

“A ideia do professor Marcelo foi construir uma nanoesfera e colocar as proteínas do vírus ao redor dessa nanoesfera. Não é uma partícula viva do vírus, mas mimetiza o vírus com a proteína S, da espícula, na superfície. Ela é uma proteína altamente Antigênica e tem vários anticorpos neutralizantes mapeados contra essa proteína”, explicou Souza aos deputados.

Marcelo Müller destacou que o antígeno paranaense possui vantagens como uma longa estabilidade térmica, o que dispensará estrutura laboratorial sofisticada para sua acomodação e transporte. "Eventualmente poderemos ter uma preparação que pode ser transportada em temperatura ambiente, por exemplo, na forma de um pó que pode ser solubilizado na hora da administração", comemorou.

Por entanto, três ensaios já foram realizados e a vacina se mostrou capaz de produzir anticorpos em maior quantidade do que a produzida pela Universidade de Oxford. Responsável pelos estudos em animais, o pesquisador Beno Beirão, do Departamento de Patologia, destacou que a plataforma vacinal que está sendo utilizada também poderá ser eficaz contra outras doenças, como a dengue. "Temos resultados bastante consistentes em animais, que se replicaram ao longos dos testes e o nosso esforço agora é concluir e iniciar a série clínica. Estamos muito próximos disso e buscamos esse impulso agora para auxilar a população", afirmou.

Atualmente, entre oito e dez pesquisas estão sendo desenvolvidas no País. Na ocasião, o chefe da Casa Civil, Guto Silva (PSD), também afirmou que o Governo do Paraná já iniciou tratativas com o Ministério da Saúde para a instalação de uma fábrica de vacinas no Paraná, com previsão de investimentos totais de cerca de R$ 1 bilhão.