UEL registra 36% de abstenções na primeira fase do Vestibular
Dos mais de 20,8 mil inscritos, 7.628 não compareceram aos locais de prova neste domingo (5); resultado será divulgado em 20 de março
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domingo, 05 de março de 2023
Dos mais de 20,8 mil inscritos, 7.628 não compareceram aos locais de prova neste domingo (5); resultado será divulgado em 20 de março
Simoni Saris - Grupo Folha
A primeira fase do Vestibular da UEL (Universidade Estadual de Londrina) registrou um índice de abstenção de 36%. Dos mais de 20,8 mil inscritos, 7.628 não compareceram aos locais de prova neste domingo (5). Embora na semana passada a Cops (Coordenadoria de Processos Seletivos), responsável pela organização do concurso, tenha afirmado que a taxa de ausentes deveria ficar entre 16% e 20%, a coordenadora, Sandra Garcia, considerou que os 36% não surpreenderam. O índice é semelhante ao registrado no primeiro vestibular realizado em meio a pandemia, em 2020.
“(O índice) de 36% não é o que esperávamos nem queríamos, mas temos um número de estudantes que fizeram a prova, que são mais de 13 mil candidatos. É muito superior a outras universidade no próprio Paraná. E tem o número de inscritos, um fator que temos que abordar. Somos a segunda universidade do Paraná em número de inscritos, só perdemos para a Universidade Federal do Paraná”, avaliou a coordenadora da Cops, que considerou positivo o concurso. “A gente espera que os candidatos venham para a segunda fase.”
Garcia apontou três possíveis razões para o alto índice de ausentes. O primeiro foi o Sisu, que divulgou a lista dos aprovados antes do vestibular da UEL. Quem se inscreveu no concurso, mas garantiu uma vaga pelo Sistema de Seleção Unificada, deixou de realizar a prova.
O segundo motivo seria a data das provas. A UEL foi uma das últimas instituições a aplicar o vestibular. “Quando as outras universidades soltam o resultado antes, o candidato já faz a matrícula e acaba não comparecendo.”
Por fim, e considerado o fator “mais grave” por Garcia, é a constatação da falta de perspectiva dos jovens pós-pandemia. “Estamos recebendo, neste ano, os alunos que iniciaram o ensino médio na pandemia e isso vai ter custo para a sociedade. Não é um problema só que a UEL vai enfrentar, mas toda a sociedade”, ressaltou a coordenadora.
CRISE
“Todos estamos passando por uma certa crise. Tanto a educação básica, nesse processo de formação, quanto o ensino superior. Todas as outras instituições de ensino superior passaram pela mesma condição de inscrição e presença no vestibular. Nós ainda tivemos um índice muito positivo. Os nossos índices de presença são maiores do que o índice de inscritos em outras instituições”, comparou a reitora, Marta Favaro.
Neste ano, a UEL retomou o vestibular em seu formato tradicional, dividido em duas fases. Neste domingo, os candidatos fizeram uma prova com 60 questões objetivas, que tiveram como tema o conhecimento. Segundo Garcia, a intenção dos elaboradores foi trazer uma discussão sobre a questão do conhecimento científico e a universidade como geradora de conhecimento. “Foi um tema importante para que os jovens possam entender que o conhecimento científico é essencial para uma sociedade justa e igualitária."
A prova aconteceu em 37 locais, sendo cinco em outras cidades do Estado: Curitiba, com dois locais, Umuarama, Guarapuava e Cascavel, com um cada. De acordo com Garcia, o concurso ocorreu sem contratempos.
DIFICULDADE
Alguns vestibulandos tiveram mais dificuldade do que esperavam na resolução das questões. Candidato a uma vaga na faculdade de jornalismo, Mauro Moraes Neto considerou a prova mal elaborada, em comparação com a da Unesp (Universidade do Estado de São Paulo), em Bauru (SP), onde concorreu a uma vaga no mesmo curso. “Nunca tinha feito vestibular aqui na UEL e achei que eles misturaram muito as questões. Lá (Unesp) é separado por área de conhecimento e as questões são mais abertas, te levam a pensar mais. Aqui, achei muito fechado o tema”, avaliou.
Arthur André de Oliveira, candidato a uma vaga no curso de engenharia civil, saiu do local de prova confiante na aprovação à segunda fase. Segundo ele, a prova requeria “um certo nível de preparo e de estudo”. “Eu imagino que vou para a segunda fase, estou torcendo, estava preparado para o vestibular”, comentou o estudante, que prestou o concurso pela primeira vez.
Ainda cursando o último ano do ensino médio e participando como treineira, Mariana Gonçalves Rodrigues está inscrita no curso de medicina e fazer a prova deste domingo mostrou a ela que ainda é preciso um período maior de estudo e preparação para conseguir a tão sonhada aprovação. “Se eu estivesse mais preparada, teria ido melhor. Achei que seria um pouco mais fácil, a prova. Preciso de muito mais estudo do que já tenho. A parte de química foi a mais difícil.”
APOIO
Enquanto os candidatos se esforçavam para realizar a prova, do lado de fora, no calçadão do campus da UEL, muitos familiares aguardavam ansiosos. A coordenadora pedagógica Vânia Hirata esperava a filha, Maria Clara, candidata a uma vaga em medicina. Elas chegaram a Londrina no sábado (4), vindas de Paraguaçu Paulista (SP), onde residem, e ter a companhia e o apoio da mãe, acredita Hirata, ajuda a controlar um pouco o nervosismo. “Ela não quis nem almoçar. A gente também fica nervosa. Mas falei para ela fazer a prova com calma, com tranquilidade.”
José Jorge, filho do professor José Jorge Teixeira, também concorre a uma vaga em medicina. O pai fez questão de vir de Nova Odessa (SP) acompanhando o rapaz para dar a ele mais tranquilidade na hora da prova. “Ele vai fazer o seu melhor. Sabe que as chances são poucas, não fez um ano inteiro de cursinho ainda, mas está animado e vai fazer o seu melhor. Faltaram 30 pontos para ele entrar em medicina pelo Enem, está perto de alcançar o objetivo que já é da família toda. Está todo mundo engajado.”
O gabarito da prova da primeira fase fica disponível às 21 horas de domingo. Os candidatos terão dois dias para entrar com recurso e a apreciação do questionamento é feita em cerca de dez dias. O resultado da primeira fase será divulgado no próximo dia 20 de março e quem passar para segunda etapa, fará provas nos dias 2, 3 e 4 de abril. No primeiro dia, serão aplicadas as provas de língua portuguesa, literatura, língua estrangeira e redação; no segundo dia, acontece a prova com 12 questões discursivas específicas; e para alguns cursos, como design gráfico e moda, o terceiro dia é para as provas de habilidade.
‘É preciso recompor a expectativa do jovem’, diz reitora
Ao comentar o índice de abstenções na primeira fase do Vestibular da UEL, a reitora da instituição, Marta Favaro, defendeu que seja feito um trabalho para “recompor a expectativa do jovem e a possibilidade de ele sonhar com o curso superior”. “Mas um curso superior que venha provocar uma mudança positiva na sua vida e na possibilidade de inserção no mundo do trabalho. E é isso o que foi abalado intensamente na pandemia.”
Reconstruir a relação de pertencimento e de responsabilidade com o processo de formação e a perspectiva de formação profissional, apontou a reitora, é um compromisso da UEL, de toda a organização educacional, desde a educação básica, e um compromisso social.
No que compete à universidade, afirmou Favaro, a atuação se dá em diferentes frentes. Uma delas é intensificar a ação extensionista, promover a formação continuada de professores e acompanhar a formação e o trabalho com os alunos do ensino médio. Para isso, uma equipe da Cops (Coordenadoria de Processos Seletivos), por meio de um coletivo instituído, tem se dedicado a essa aproximação da educação básica. Os meios de comunicação de que dispõe a universidade também têm sido utilizados para divulgar a instituição. “Estamos mostrando que existem caminhos que podem ser abraçados pelos nossos jovens do ensino médio e que esse é um bom caminho. Fazer a UEL, fazer um curso superior, pode permitir ao estudante uma perspectiva de vida diferenciada.”(S.S.)
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