São Roque, 02 (AE) - O cônsul-geral da Alemanha em São Paulo, Hans Ulrich Spohn, disse hoje acreditar que os blocos União Européia (UE) e Mercosul vão firmar um acordo em 10 a 15 anos. "Mais do que relações comerciais, teremos intercâmbio cultural, político e econômico, um acordo biregional", afirmou. A primeira rodada de negociações do acordo acontecerá nos próximos dias 6 e 7, em Buenos Aires, e as seguintes estão agendados para junho ou julho, em Bruxelas, e em novembro, no Mercosul.
"A Europa não começa com uma proposta de livre comércio
mas com um acordo de cooperação para acompanhar as negociações futuras. Não somos como o bloco das Américas, onde 34 países negociam com os Estados Unidos. Vamos negociar de bloco para bloco", afirmou o cônsul.
Na reunião em Buenos Aires serão definidos os princípios gerais da negociação, o cronograma de trabalho e será feita a revisão de todas as barreiras não tarifárias de cada bloco. "As barreiras não tarifárias serão tratadas primeiro, porque o Mercosul aponta nossas normas fitossanitárias como protecionismo", explicou Hans Spohn. "O Mercosul tem que aceitar que não pode exigir o fim das barreiras já. É um processo que vai demorar", alertou.
O principal problema a ser resolvido, observou, é o dos produtos agrícolas. Na Alemanha, por exemplo, a população não aceita a entrada dos alimentos transgênicos, embora outros países como França e Itália já importem esse tipo de produto. A soja representa 42% de tudo o que a Alemanha importa do Mercosul. "Na Europa a maior parte dos consumidores não quer alimentos transgênicos", informou Spohn. No Brasil ainda é proibido o cultivo de soja transgênica.
Mas, a multinacional Monsanto anunciou investimentos de US$ 800 milhões, desse ano até 2002, para desenvolver sementes geneticamente modificadas e o defensivo Roundap, único eficiente em lavouras de transgênicos. Segundo a empresa, o investimento deve-se à aposta de que o cultivo de trangênicos no País pode ser liberado ainda este ano.
A soja transgênica já é cultivada nos Estados Unidos, e a Argentina não restringe esse tipo de cultura. Hans Spohn não soube avaliar que tipo de negociação poderá ser feita com o bloco, caso os transgênicos sejam liberados, e a Europa venha a ficar sem opção de compra da soja não modificada.
Na União Européia, disse ele, a soja representa 30% de todas as importações. O imposto de importação sobre o produto é um dos mais baixos, de 7%, frente a tarifas que variam de 10% a 25%, e podem chegar a 120%, como é o caso do açúcar, exemplificou.
Esclarecimento - "No Brasil, a população não foi consultada sobre os transgênicos. A Câmara vai solicitar ao governo brasileiro que haja o máximo de esclarecimento possível", afirmou o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, Ingo Ploger, durante seminário promovido pela entidade..
No ano passado, 29% das exportações brasileiras tiveram como destino a União Européia, e 23% os Estados Unidos. Das importações que o Brasil fez, 24% vieram do bloco europeu, e 24% dos Estados Unidos. Para que uma zona seja considerada de livre comércio pela Organização Mundial do Comércio, ela tem que ter 90% dos produtos (de um bloco e outro) isentos de barreiras tarifárias e não tarifárias, e o período de transição se chegar a esse resultado não pode ultrapassar 10 anos. "Nesse caso, a questão relacionada à agricultura poderá atrapalhar", prevê Hans Spohn.