O Tribunal do Júri condenou o professor Laurindo Panucci Filho por homicídio triplamente qualificado do diretor do campus da UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná), Sérgio Roberto Ferreira, no município de Cornélio Procópio (Norte Pioneiro). O conselho de sentença admitiu como qualificadoras o fato do professor ter matado por motivo fútil, ter usado meio cruel e também foi levado em conta que a vítima não tinha como se defender. A pena foi estabelecida em 21 anos e quatro meses de reclusão. O julgamento teve início às 10 horas e seguiu noite adentro. O crime ocorreu em dezembro de 2018.

Crime que ocorreu em Cornélio Procópio chocou a comunidade acadêmica
Crime que ocorreu em Cornélio Procópio chocou a comunidade acadêmica | Foto: Gustavo Carneiro/12-2-2018

Do lado de fora do Fórum manifestantes estenderam uma faixa com os dizeres “Justiça pelo professor Sérgio, diretor da UENP, assassinado cruelmente!”. Parentes e amigos da vítima vestiram camisetas com a foto do diretor, com os dizeres “Queremos Justiça”. Parte da família entrou na sessão na condição de assistente da promotoria.

Na manhã desta quinta-feira foram ouvidas duas testemunhas de acusação. No período da tarde um médico perito foi arrolado pela defesa para dar um parecer sobre o laudo emitido pelo IML (Instituto Médico Legal) e logo após o próprio Laurindo Panucci Filho deu a sua versão dos fatos. Em seu depoimento ele fez uso do direito de não responder perguntas do juiz ou da promotoria.

O advogado do réu, Diego Moreto Fiori, questionou os jurados sobre qual o motivo que Laurindo teria para fazer algo intencional com o Sérgio. "Essa relação entre os dois estava bem, eles tinham a mesma formação universitária e se entendiam nesse sentido. Sérgio não era uma má pessoa. Mas quem de vocês nunca se alterou um pouco. Isso torna a pessoa má? Não! Todo mundo tem um dia ruim. Pode estar cansado de uma situação”, destacou.

Ele argumentou que Panucci Filho recebeu uma advertência na última hora do último dia do ano letivo, o que o impossibilitava de recorrer. Segundo Fiori, o crime não foi premeditado e os golpes ocorreram em legítima defesa.

Para defender esse argumento ressaltou que o segurança teria dito à Polícia Militar que houve indícios de luta corporal, fato que o promotor José Paulo Montesino refutou, alegando que o mesmo segurança disse que a sala ainda estava organizada quando ele chegou ao local. “Quero que ele prove que a pancada atrás foi com machado. Pode ter sido na queda”, declarou.

Diante dos argumentos da promotoria de que Ferreira era calmo e de tom conciliador, Fiori pediu para executar os áudios dos telefonemas que o diretor gravou. Um foi com Panucci Filho e outro com o professor Fernando Antonio Sorgi, diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), que foi a pessoa que aplicou a advertência.

“Que cara complicado. Foi muito difícil falar com ele. Já fiz tudo o que podia fazer. O negócio é dar um susto nele e criar sindicância”, afirmou Ferreira no áudio anexado ao processo. Ele alega que quando saiu do local, o diretor estava vivo. “Qual a diferença de homicídio e a lesão corporal seguida de morte? É a intenção. Ele pode ter golpeado e a vítima ter sofrido um infarto”, declarou Fiori. O advogado também afirma que dois médicos deram parecer que não houve meio cruel no ato.

Montesino disse que depois de ter sido golpeado, o diretor ficou 20 minutos agonizando até o socorro chegar, o que configura meio cruel. O promotor utilizou imagens de câmeras de segurança da universidade para estabelecer um cronograma. “Às 18h50 o Focus Prata de Laurindo saiu da faculdade, logo depois de ele ter tomado a advertência. Quatro minutos depois ligou para o Sérgio dizendo que queria falar com ele. Sérgio já estava em casa e falou que poderia voltar. Três minutos depois de ligar para o diretor ele foi a uma loja de ferramentas e pagou R$ 19 por um machadinho. Às 19 horas Laurindo voltou para a UENP e quatro minutos depois o diretor chegou à universidade. O carro de Laurindo saiu da universidade às 19h16 e ele foi encontrado em Teodoro Sampaio, a 240 km de distância. O professor alegou que se perdeu quando estava indo para a casa de sua mãe, em Nova Esperança. “Quem se perde indo para casa da mãe? Ele fugiu e está preso até hoje”, declarou o promotor.

“A defesa argumenta que o crime não foi premeditado, mas ele planejou esse crime dez minutos antes do fato”, argumentou Montesino. "O próprio réu se contradiz em um monte de coisa. No interrogatório ele confessou. Disse que tinha dado machadadas. Ele disse que marcou encontro pessoal com a vítima após contato telefônico. E enquanto aguardava o reitor adquiriu a machadinha para a defesa pessoal. Comprou a machadinha para cortar árvores na casa da mãe ou para defesa pessoal? Nenhum dos dois. Comprou para matar o Sérgio”, argumentou o promotor.