Três pessoas acusam skinheads pela morte de adestrador; integrantes do grupo negam
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terça-feira, 08 de fevereiro de 2000
Por Renato Lombardi
São Paulo, 08 (AE) - A polícia continua em busca de mais provas contra os 18 skinheads acusados do assassinato do adestrador de cães Edson Neris da Silva, de 35 anos. Dois moradores de rua e um empresário foram ouvidos e teriam apontado alguns dos jovens presos como responsáveis pela morte. Outros estão procurando a polícia para contar o que viram, mas pedem anonimato com medo de serem expostos pela mídia e de ficarem marcados pelos skinheads em liberdade.
Dário Pereira Neto, amigo do adestrador de cães e testemunha das agressões, continua sendo procurado. Ele é funcionário da Credicard e está de licença médica. Em seu endereço, na Vila Medeiros, zona norte, os policiais souberam que ele está ausente desde a semana passada.
Juliano Filipini Sabino, de 28 anos, despachante aduaneiro, e José Nilson Pereira da Silva, de 27, corretor de seguros, dois dos acusados, negaram o crime no 4.º Distrito Policial da Consolação, onde estão recolhidos. Decidiram falar hoje depois que souberam das declarações à polícia de Fernando Azadinho Santos, de 19 anos.
Recolhido no 3.º DP, de Santa Efigênia, Santos negou sua participação, mas teria dito que viu o grupo, do qual fazia parte, espancar o adestrador de cães. Está assustado. "Estão dizendo que eu denunciei o grupo, mas não denunciei ninguém". Sabino e Silva alegaram não terem passado na madrugada de domingo pela Praça da República, onde ocorreu o assassinato.
Disseram que não conhecem Santos e estavam tomando cerveja no bar Recanto dos Amigos, na Bela Vista, com outros skinheads quando chegaram os policiais do Grupo de Operações Especiais (GOE). Segundo Sabino, os policiais cercaram o bar, por volta das 3h30, e levaram todos para o distrito. "A gente curtia um som, tomava cerveja e ninguém entendeu nada".
Ele está no grupo faz 15 anos e disse que pregam o "amor à bandeira do Brasil". "Nos identificamos com as idéias nacionalistas, mas não temos nada contra negros, prostitutas, homossexuais, judeus, e aqui na cela até conversamos com alguns travestis". Sabino repetiu que os participantes trabalham e não fazem nada "para destruir as pessoas". Negou que sejam violentos. "A política do grupo é trabalhar em prol do ideal nacionalista".
"Se nosso ódio fosse contra os negros, o José Nilson (Silva) não faria parte dos Carecas porque basta ver a cor dele", disse Sabino, algemado ao lado de Silva - que mora com a mãe e é filho de negros. Sabino mora com um tio e um irmão no Jabaquara, zona sul.
No sábado à noite foi para São Caetano, onde encontrou os integrantes do grupo. Por volta das 23h30, o grupo desceu na Estação da Luz, centro da capital. "A gente foi a pé para a Bela Vista, demos uma parada na porta do Madame Satã, onde não nos deixam entrar porque acham que vamos brigar, e seguimos para o bar".