Entrar em uma instituição como a UEL (Universidade Estadual de Londrina) é um sonho para muitos jovens, já que é uma das mais conceituadas do país. Por toda a sua tradição, conquistar uma vaga nem sempre é fácil. Apesar do medo que a palavra "vestibular" traz, o processo seletivo aprova candidatos com muita história para contar, que vai da superação à persistência em busca do sonho de se formar na profissão desejada.

Aos 20 anos, Rafaela Santana Fiorini de Oliveira ficou em primeiro lugar dentre os aprovados para o curso de medicina da UEL no Vestibular 2024. A moradora de Londrina conta que começou a prestar vestibular ainda quando estava no primeiro ano do ensino médio como treineira. Em 2020, quando se formou no colegial, decidiu que queria fazer medicina.

Segundo ela, o interesse pela área já vinha desde cedo e só foi amadurecendo com o tempo. “Depois de pensar muito sobre [o curso], eu vi que era a profissão que eu realmente me identificava e que eu achava que iria fazer alguma diferença para mim, na minha vida, e na vida dos outros”, conta, complementando que a vontade de ajudar outras pessoas foi a principal motivação para a escolha da área.

Rafaela Oliveira,  1º lugar  entre os aprovados do curso de Medicina, após três tentativas: "É um sonho"
Rafaela Oliveira, 1º lugar entre os aprovados do curso de Medicina, após três tentativas: "É um sonho" | Foto: Arquivo Pessoal

Oliveira afirma que, desde o início, já sabia que não seria fácil alcançar o sonho, já que o curso é o que tem a maior concorrência - neste ano foram 126 candidatos por vaga. Segundo a caloura, ela já tinha ciência de que talvez demorasse um tempo para conquistar a vaga, o que aconteceu em sua terceira tentativa, depois de três anos de cursinho preparatório.

Como seu primeiro ano de preparação foi durante a pandemia, Oliveira afirma que teve dificuldade de lidar com as aulas remotas, sendo que a rotina mais intensa de preparação para a prova foi durante o ano passado, em que focou nos principais pontos que precisaria aplicar na prova.

Ela ressalta que utilizou algumas técnicas durante os estudos. Ia para o cursinho todos os dias pela manhã, das 7h15 às 12h45, para assistir às aulas; a partir das 14h, retornava para o local para continuar estudando, principalmente os conteúdos que tinha mais dificuldade, sendo que, na maioria das vezes, retornava para casa somente após às 20h.

“Nesse ano eu foquei muito em fazer exercícios e nas matérias em que eu tinha mais dificuldade, como física, que eu sabia que para mim era um pouco mais difícil na hora da prova”, conta, complementando que também deu muito atenção aos conteúdos de química e biologia, que são disciplinas essenciais para quem busca uma vaga no curso de medicina.

Para memorizar os conteúdos, a jovem afirma que não tem segredo: é repetir as leituras e refazer os exercícios que errou. “Assistir as aulas com bastante atenção e anotar [os conteúdos] foi uma coisa muito importante para mim [também]”, explica.

Ao longo dos três anos de cursinho preparatório, ela admite que cogitou deixar de lado a medicina para tentar outras áreas, mas que, conforme o tempo ia passando, percebeu que não existia outra opção para ela: “era um sonho e eu ia ter que correr atrás dele”.

Apesar da rotina pesada de estudos, Oliveira garante que um dos seus objetivos era não deixar a família e os amigos de lado. Aos fins de semana, ela sempre buscava ir para a casa de parentes ou aproveitar alguma festa com os amigos. “Eu também precisava desse tempo de descanso para poder recomeçar a semana bem”, explica, ressaltando que o apoio da família e dos amigos foi muito importante para que pudesse alcançar o resultado positivo.

Mesmo com todo o esforço e preparação, Oliveira admite que não estava confiante de que seria aprovada. “Para mim foi uma surpresa gigantesca ter ficado em primeiro [lugar], eu não esperava isso e ainda parece muito um sonho”, conta.

Com interesse na área cardiovascular e de cirurgia, ela admite que ainda não tem certeza no que quer se especializar, já que ainda tem muito o que aprender ao longo dos próximos seis anos de graduação. “Ser aprovada na UEL é um sonho, é algo que eu sempre quis, sempre foi uma opção gigantesca para mim, senão a primeira opção, porque é uma faculdade de referência na região”, destaca.

DEDICAÇÃO COMEÇA CEDO

Dentre os 2.342 convocados na primeira chamada da UEL, Heloisa Casal Tonin, 15 anos, foi a candidata mais jovem a entrar na lista dos aprovados. Natural de Londrina, ela está indo agora para o segundo ano do ensino médio. A jovem conta que prestou vestibular para o curso de pedagogia porque queria saber como funcionava a segunda fase das provas.

“Como eu não sabia qual curso escolher, conversei com a minha amiga, que escolheu fazer pedagogia, e decidi fazer o mesmo”, explica, completando que ficou em terceiro lugar na classificação dos aprovados do curso. Ainda sem saber qual profissão quer seguir, ela admite que a expectativa é de descobrir neste ano, já que isso facilita na hora de fazer o vestibular, mesmo que ainda como treineiro. “Fiquei muito feliz [com o resultado], pois no meu primeiro ano fazendo vestibular já consegui uma aprovação”, conta.

Heloisa Tonin, 15 anos, a candidata mais jovem a entrar na lista dos aprovados: 3º lugar em pedagogia, como treineira
Heloisa Tonin, 15 anos, a candidata mais jovem a entrar na lista dos aprovados: 3º lugar em pedagogia, como treineira | Foto: Arquivo Pessoal

Para a jovem, o segredo para o resultado positivo é prestar o máximo de atenção nas aulas e evitar de acumular tarefas e trabalhos. Além disso, a revisão dos conteúdos na véspera das provas também ajuda. Agora, o objetivo da jovem é continuar focada nos estudos para que ela consiga novas aprovações.

Mãe de Heloisa, a contadora Luciana Américo Casal Tonin, 49, afirma que a filha presta bastante atenção nas aulas e tem facilidade para aprender, então consegue absorver os conteúdos em pouco tempo de estudo. A ideia de a jovem fazer a prova como treineiro foi uma forma de se familiarizar com o formato e tempo para a resolução, assim como para já conhecer a UEL. “Como ela foi bem na primeira fase, já fiquei super feliz e satisfeita, mas o resultado da aprovação e a terceira colocação [eu] confesso que foi muito emocionante. Muito orgulho da [minha] filha”, admite.

SONHO REALIZADO

Conquistando o terceiro lugar dentre os aprovados no vestibular para o curso de serviço social, o londrinense Samuel José Reis da Silva, 19, estudou parte do tempo em casa, com o auxílio do Youtube. O jovem conta que conciliava as aulas no Colégio Estadual Albino Feijó Sanches, na zona sul de Londrina, com a preparação para o vestibular em casa.

Nutrindo uma admiração grande pela profissão de assistente social, foi a partir daí que surgiu a motivação para atuar na área. Ele ressalta que nos primeiros meses de preparação, seis meses antes das provas, o Youtube era seu grande aliado, já que era lá que assistia aula, anotava o conteúdo e fazia a resolução de exercícios. “Porém, era muito difícil manter a concentração”, admite, complementando que os estudos não estavam trazendo os resultados que ele precisava para ser aprovado na UEL.

Um mês antes da primeira fase do Vestibular 2024, o projeto de extensão e pesquisa Práxis Itinerante: novas perspectivas para as juventudes e populações em situação de vulnerabilidade social da UEL, vinculado ao CLCH (Centro de Letras e Ciências Humanas), abriu uma turma no colégio em que o jovem estudava. Segundo Silva, o cursinho intensivo foi “perfeito”. “Não era tão longe de casa e eu não iria mais precisar estudar sozinho”, relata, afirmando que acredita que não teria conseguido a aprovação sem a ajuda dos professores.

Em alguns momentos, o jovem conta que nem tinha certeza se realmente queria cursar o ensino superior, então o fato de ter sido aprovado em terceiro lugar ainda parece “irreal” para ele. “Teve muitos dias que eu não tinha vontade de estudar, mas me esforcei para alcançar esse objetivo e deixar minha mãe orgulhosa”, afirma.

MAIORIA DOS APROVADOS É DO PR

Dados divulgados pela Cops demonstram que a grande maioria dos aprovados no Vestibular 2024 da UEL (1995) é do Paraná, seguido por São Paulo (310) e outros estados da federação (37). Entre os paranaenses convocados, 1260 são de Londrina. Como vem ocorrendo nos últimos concursos, o total de mulheres superou o de homens aprovados: são 1301 mulheres e 1041 homens.

Com relação às cotas, neste Vestibular foram aprovadas 32 pessoas com deficiência; 881 provenientes de escola pública, 289 negros de escola pública e 104 negros independentemente de percurso. O sistema universal registrou 1036 estudantes aprovados nesta 1ª fase.

Os aprovados neste processo seletivo começam o ano letivo 2024 em junho.

CURSINHO DA UEL APROVOU QUASE 100 CANDIDATOS

O Curso Especial Pré-Vestibular (CEPV) da UEL aprovou 97 estudantes na 1ª chamada do processo seletivo da instituição em cursos como Química, Física, Fisioterapia, Nutrição, Enfermagem, Farmácia, entre outros. Para a coordenadora do CEPV, Rita de Cássia Rodrigues Oliveira, o resultado positivo reflete a dedicação dos estudantes e da equipe. “Ambos não medem esforços para ver sonhos serem realizados”, comemorou. “Estamos com as inscrições abertas e nos preparando para acolher mais pessoas que queiram alcançar o ensino superior com a nossa ajuda”, complementou.

As inscrições para o Cursinho da UEL podem ser feitas ou pelo Número de Identificação Social (NIS), do Cadastro Único (CadÚnico), do Governo Federal, ou por processo seletivo próprio do Serviço de Bem-Estar à Comunidade (Sebec). Mais informações podem ser conferidas no site do Sebec. (com Agência UEL)