Os trabalhadores da Usina Central Paraná, produtora de açúcar e álcool de Porecatu (85 quilômetros ao norte de Londrina), fizeram ontem uma greve de advertência para reivindicar o salário de janeiro e o recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). No final da tarde, pressionada também pelos trabalhadores rurais que saíram dos canaviais e foram para a frente da empresa, a direção autorizou apenas o pagamento do salário dos funcionários que trabalham por hora. A usina se comprometeu a acertar com os mensalistas no dia 2 de março. Os funcionários decidiram acatar a proposta e devem retornar hoje ao trabalho.
No início do mês, após intermediação do procurador do Ministério do Trabalho da 9ª Região, Gláucio Araújo de Oliveira, de Curitiba, a usina apresentou uma contraproposta que pôs fim à greve de mais de 20 dias, que mobilizou cerca de sete mil funcionários. De acordo com a proposta patronal, o FGTS, e todos os direitos trabalhistas seriam garantidos. Segundo os empregados, pouca coisa mudou. ‘‘Dá para contar nos dedos quem recebeu FGTS. A maioria vai ao banco e não encontra nada’’, disse um trabalhador rural. A ‘‘rifa’’ compulsória, imposta no ato da contratação continua sendo cobrada, segundo os empregados. ‘‘Agora descontam apenas R$ 20,00 no primeiro pagamento. Se a gente não aceita eles não ficham’’, disse um trabalhador, referindo-se ao contrato de trabalho.
O coordenador da mobilização ocorrida ontem, o sindicalista Daniel Malaquias, de Florestópolis, norte do Estado, comentou: ‘‘O compromisso foi firmado, mas parece que ficou só no papel.’’ Segundo Malaquias, uma comissão formada por sindicalistas vem averiguando as denúncias de irregularidades trabalhistas. ‘‘Estamos levantando os casos para depois encaminhar as soluções. Mas não temos dado conta da missão diante de tantos problemas’’, informou.
Revoltado com o descaso da empresa para com os funcionários, o padre Giancarlo Villa, de Porecatu, disse que a situação é caótica. Com os baixos salários e o pagamento irregular as famílias estão passando necessidades. ‘‘As obras assistenciais da Igreja não conseguem auxiliar a todos. Eu mesmo já transportei no meu carro doentes que precisavam de tratamento fora da cidade’’, disse o padre, que deverá relatar os problemas ao arcebispo de Londrina, dom Albano Cavallin.
No mês passado, a Delegacia Regional do Trabalho de Londrina constatou irregularidades e estipulou multas ao Grupo Atalla, proprietário da usina. O processo investigatório empreendido pela Procuradoria do Trabalho ainda não foi concluído. Os trabalhadores ameçam paralisar as atividades caso a usina não cumpra as promessas feitas ontem.