Davos, Suíça, 01 (AE) - Os governos pouco podem fazer para regular a nova economia e, por isso, devem ceder mais poderes a instituições como a Organização Mundial do Comércio e o Fundo Monetário Internacional, avalia o economista Lester Thurow, professor de Administração e Economia no Instituto de Tecnologia de Massachussetts. Assuntos como padrões trabalhistas e proteção ambiental só poderão ser tratados com eficácia se isso ocorrer, argumenta o professor Thurow, porque leis sobre o trabalho infantil, por exemplo, são encontradas em muitos países
mas aplicadas somente em alguns.
A reunião da OMC em Seattle fracassou, segundo Thurow, não por causa de protestos nas ruas, mas porque norte-americanos e europeus se recusaram a abandonar parte de seus poderes soberanos.
A regulação internacional tenderá a desenvolver-se, de acordo com o economista, provavelmente da mesma forma como evoluíram as normas dentro de cada país: como resposta a problemas graves e, em muitos casos, como reação às crises. Assim se desenvolveram instrumentos como leis de proteção social e normas de segurança para o sistema financeiro.
Os governos nacionais, disse Thurow, pouco podem fazer, diante da economia global e caracterizada por novas tecnologias de informação e de comunicação. Resta-lhes criar plataformas de competição, investindo em fatores como educação, pesquisa e infra-estrutura.
Há muitas décadas, nos Estados Unidos, as pessoas ainda se idenficavam como trabalhadoras deste ou daquele Estado ou desta ou daquela região.
Depois sua referência se tornou nacional. Hoje, segundo Thurow, já não se trabalha em economias locais ou nacionais e isso limita severamente as possibilidades de intervenção dos governos.
Thurow participou, hoje de manhã, de um debate sobre a "nova economia" e suas condições de regulação. Nesta reunião do Fórum Econômico Mundial, temas como ordenação internacional da economia ou mesmo, mais ambiciosamente, "governança global"
se alternaram com discussões sobre os novos papéis dos governos e do setor privado. Boa parte do triunfalismo liberal de anos anteriores desapareceu, depois das turbulências financeiras dos últimos anos. Também se perdeu boa parte da confiança na capacidade dos mercados de criar, automaticamente, prosperidade para todos os participantes do jogo.
O primeiro-ministro britânico,Tony Blair, resumiu, ao discursar na sexta-feira, a mudança do ambiente. "O instinto das pessoas em relação ao governo está-se alterando sutilmente"
afirmou. Elas se afastaram de um individualismo "muito estreito, talvez egoista", para idéias de vinculação, de comunidade, de interesses recíprocos. As empresas provavelmente continuam desejando livrar-se do peso do governo. A maior parte das pessoas, no entanto, procura segurança econômica, para si e para as famílias, "por estabilidade social, por alguns pontos fixos, por alguns regras".
Não se trata, disse Blair, de um "desejo de grande governo". A intervenção estatal pesada e a batalha entre socialismo e capitalismo nos velhos termos está morta, segundo o primeiro-ministro, "mas a idéia de valores, de propósito coletivo e, portanto, de comunidade, de ação coletiva e de vínculos não está". De fato, acrescentou, "está sendo renovada".
Há uma função importante para o governo, disse Blair, e consiste em administrar as mudanças na economia, em vez de deixá-las simplesmente arrastar as pessoas. Isso se faz por meio e reformas e de ações para ajudar a adaptação das pessoas e dos pequenos empreendimentos às novas demandas, tornando menos penosa a transição.
Blair e Thurow participaram do fórum em dias diferentes e abordaram as questões a partir de perspectivas e interesses diversos, mas convergiram em pontos importantes, ao tratar do papel do governo e da caracterização da nova economia.
Nessa economia, a informação tem posição central (é a mercadoria mais importante, segundo Blair), o poder de competição depende de fatores novos e as condições de acesso ao mercado de trabalho se alteraram radicalmente.
Mais do que nunca, a qualificação dos trabalhadores determinará tanto as suas possibilidades quanto as de seus países. Economias como a da China, com ampla base de trabalhadores educados, têm boa possibilidade de ocupar um espaço na nova economia, comentou Thurow. Blair dedicou parte importante de seu discurso à descrição das mudanças educacionais em curso na Grã-Bretanha ou ainda em preparação. "Cada aluno ao qual se negue uma educação decente é um recurso nacional desperdiçado", disse Blair.
Se isso for verdadeiro, a "nova economia" torna indissociáveis, muito mais do antes, as chamadas políticas sociais e as políticas de desenvolvimento. E não se trata, aí, só de educação, mas de educação da melhor qualidade.