Com o lançamento oficial das obras de ampliação e modernização do Aeroporto Governador José Richa no mês passado, em Londrina, um vizinho próximo da obra pode perder mais de um terço de seu espaço. O Tiro de Guerra vai precisar ceder cerca de 35% de sua área, que hoje é de 42 mil m², para que a obra do aeroporto tenha andamento. De acordo com oficiais, o campo de futebol, a quadra, o pátio de formatura, o estacionamento e a casa de um instrutor devem entrar no pacote de desapropriação. A expectativa deles é de que seja feita uma readequação no local para que o contrato entre o município e o Exército possa ser renovado no final do ano.

O subtenente do Tiro de Guerra de Londrina, Leonardo Martins, explica que é firmado um acordo de cooperação entre o Exército e os municípios para que seja criado um Tiro de Guerra. Em Londrina, o primeiro acordo foi assinado em 1946 e a renovação é feita a cada cinco anos, sendo que a próxima será no final de 2023. Os militares são designados para atuar por dois anos em cada localidade, sendo transferidos para outras cidades após 24 meses.

Por meio do acordo, ele explica que é de responsabilidade do Exército ceder os militares, que fazem cada um a instrução de até 50 jovens atiradores, assim como a farda, o armamento e a munição. Como contrapartida, o município é responsável por oferecer o terreno, instalações, material de expediente e a manutenção geral. No espaço em que o município está cedendo para que as obras do aeroporto possam acontecer, estão incluídos a casa de um instrutor, o estacionamento, pátios de entrada, de treinamento e de formatura, quadra poliesportiva, campo de futebol e depósito.

“Pelo acordo de cooperação, a prefeitura tem que manter o Tiro de Guerra em condições de funcionamento, mas estamos perdendo a casa e o pátio, por exemplo, que são coisas que estão no acordo. Se a prefeitura não conseguir arcar com o novo acordo [que vai ser assinado no final do ano], o Exército não assina e a tendência é que [o Tiro de Guerra] feche”, explica. O subtenente explica que a equipe conta com quatro oficiais, que atendem 200 jovens atiradores por ano.

A possibilidade de não renovação do contrato é uma decisão do Exército, aponta Martins, que vai avaliar as condições de cumprimento do contrato e se a estrutura oferecida é condizente para a continuidade dos trabalhos. Segundo ele, sem o Tiro de Guerra em Londrina, o Exército convocaria os jovens de 18 anos para servir em outra cidade, sendo Apucarana o local mais próximo.

Diferentemente do que acontece em quartéis, o Tiro de Guerra tem carga horária reduzida, sendo duas horas diárias de trabalho, das 6h às 8h da manhã, e no restante do dia os jovens podem estudar, trabalhar e realizar qualquer outra atividade. As aulas acontecem entre os meses de março e novembro.

O subtenente disse que entrou em contato com o prefeito de Londrina no começo do ano, quando Marcelo Belinati (PP) teria pedido o projeto da readequação do Tiro de Guerra. Por conta disso, ele buscou ajuda do Rotary Higienópolis, que desenvolveu o projeto, que já foi entregue à prefeitura. Estão previstas novas construções na parte de trás do Tiro de Guerra. “Eu entendo que o secretário de Obras deve ser bem ocupado, então eu corri atrás para fazer o projeto e entreguei para ele [prefeito]. Agora é a parte dele”, afirma, acrescentando que já está há dois anos na cidade e em breve deve ser realocado para Brasília, mas que gostaria de retornar para conhecer o novo espaço do Tiro de Guerra de Londrina.

Engajado na causa, Fernando Forin, presidente do Rotary Higienópolis, ressalta que a questão da reforma do aeroporto e da desapropriação de parte do terreno do Tiro de Guerra não é nova, mas que até o momento o município não apontou uma solução para o problema, assim como alegou que não tinha ninguém disponível para elaborar o projeto de readequação do espaço.

Taliana Cabrera, arquiteta e integrante do Rotary Higienópolis, foi a responsável por desenvolver o projeto. “O trabalho que eles desenvolvem na parte de formação dos jovens é muito importante, então conseguir preservar essa operação é fundamental para a cidade e por isso temos nos dedicado a ajudar”, explica Forin.

Por meio da assessoria, a Prefeitura de Londrina disse que tem interesse em manter o Tiro de Guerra na cidade e que “tem o compromisso de construir na área que ficará reservada ao Tiro de Guerra”. Segundo o município, já foi protocolado um projeto de readequação “que está sob análise da Secretaria de Obras”. Na sequência, será feito o orçamento para que a obra seja licitada nos próximos meses.