Testemunha faz novas acusações contra delegado2/Mar, 22:38 Por Wilson Tosta, enviado especial Curitiba, 02 (AE) - Roubo, prisão arbitrária, tortura, provas forjadas. Novas acusações contra o delegado João Ricardo Kepper de Noronha, ex-delegado geral da Polícia Civil do Paraná, foram feitas hoje à noite na CPI do Narcotráfico, desta vez por uma testemunha que se apresentou mascarada para depor. Segundo o homem, que chorou muito durante o depoimento, Noronha, que é acusado de envolvimento com o crime organizado e teve a prisão provisória decretada hoje, comandou uma equipe que em 1994 invadiu a sua residência, apoderou-se de bens e dinheiro e o acusou falsamente de portar 1 quilo de cocaína. O depoente contou que Noronha e os três policiais foram à sua residência, um apartamento no centro de Curitiba, em agosto daquele ano, para supostamente investigar de onde teria partido um tiro que teria atingido um prédio vizinho. Eles não permitiram que o dono da casa acompanhasse a busca pela suposta arma. Depois dela, o dono da casa, que trabalhava fabricando jóias, deu por falta de R$ 7.500, duas pulseiras de ouro, um relógio e objetos pessoais. Por causa disso, começou uma discussão, na qual chamou um dos policiais de vagabundo. Noronha, que estava em um cômodo longe de onde o bate-boca aconteceu, veio e o convidou para acompanhá-lo a uma delegacia. "No carro, uma Parati cinza sem emblema da Polícia, fui espancado", contou o depoente, chorando. O mesmo aconteceu na delegacia, onde, depois de apanhar novamente, foi levado para o "Ponto Quatro", nome que os policiais davam a uma sala de tortura, onde foi submetido a pau-de-arara, choques elétricos, afogamento com mangueira, golpes nas solas dos pés. Também foi obrigado a assinar documentos sem ler e teve duas costelas quebradas. "Batiam em mim e achavam o meu sofrimento motivo de alegria" contou a testemunha, que tirou parcialmente o capuz para depor, mas ficou de costas para o plenário e foi o tempo todo protegida por dois seguranças, que impediam com seus corpos que seu rosto fosse fotografado. Segundo o depoente, ele também foi jogado em uma cela cujos chão, paredes e camas estavam besuntados com fezes, o que o impedia de deitar para dormir. Foi ali que um policial o ameaçou com uma arma e disse que, como não queria confessar a autoria do suposto tiro, seria obrigado a "segurar" um flagrante de 1 quilo de cocaína. O presidente da CPI, deputado Magno Malta (PTB-ES), disse que o caso do mascarado não era um caso de narcotráfico, mas para as comissões de Direitos Humanos da Câmara e da Assembléia Legislativa do Paraná. Ele contou que a CPI do Narcotráfico tem recebido dezenas de denúncias que não têm nenhuma relação com o tráfico de drogas. "Estou com meu bolso cheio de bilhetes", contou. "São casos de delegacia." Ele atribuiu o fenômeno à esperança que a comissão despertou, de acabar com a impunidade. Outra testemunha apresentou-se mascarada para prestar depoimento ontem. Era um informante policial, que contou ter participado de extorsões ao lado de policiais, geralmente envolvendo drogas. O informante contou que muitas vezes os agentes anotavam os números de série das cédulas, para facilitar os flagrantes e extorquir dinheiro de pessoas envolvidas com drogas. Ele disse que muitas vezes ferquentou normalmente delegacias e chegou a se passar por policial, até atendendo ao público. "Atendi queixas", contou. O secretário da Segurança Pública do Paraná, Cândido Martins de Oliveira, ficou em situação ainda mais constrangedora com o depoimento das testemunhas mascaradas, que reforçaram os indícios de envolvimento da Polícia Civil local - inclusive de Noronha, que ele nomeara delegado-geral - com o crime. Convovado hoje pela CPI para depor, o secretário até a noite não se apresentara. Ele propôs, por um intermediário, um acordo: deporia, mas em sessão secreta. Os deputados resolveram que ele só terá esse direito se renunciar ao cargo. "Autoridade pública dá depoimento público", resumiu o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS).