Em uma das palestras com maior procura, a professora e pesquisadora Cláudia Costin se apresentou na manhã desta sexta-feira (18) no Londrina Mais para falar sobre os desafios para uma educação pública de qualidade. O evento mostra trabalhos de alunos de 139 instituições de ensino.

“Com as escolas em tempo integral é mais simples, mas mesmo no período parcial, dentro de uma sala de aula, o professor tem que ser apoiado”, destaca Costin
“Com as escolas em tempo integral é mais simples, mas mesmo no período parcial, dentro de uma sala de aula, o professor tem que ser apoiado”, destaca Costin | Foto: Jéssica Sabbadini

Em sua terceira passagem como palestrante pela cidade, ela ressaltou a importância de se investir em escolas de tempo integral para que o aluno tenha um aprendizado efetivo e desenvolva suas habilidades.

Atualmente, Costin é presidente do Instituto Singularidades, mas já teve passagens como diretora global de educação do Banco Mundial, como professora na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e como secretária de Educação no Rio de Janeiro e secretária de Cultura do Estado de São Paulo.

Com uma palestra intitulada “Agenda 2030 e o futuro da Educação Básica: por uma escola pública de qualidade”, a professora ressaltou aspectos importantes que devem ser adotados pelos governantes.

Segundo ela, a educação pública no Brasil apresentou avanços, inclusive chegando a colocar todas as crianças na escola no final do século 20 e tinha bons números para o ensino médio, o que ela considera que ainda era pouco para um país que é a 13ª nação em termos de PIB (Produto Interno Bruto).

Com a chegada da pandemia, ressalta, o Brasil foi um dos países que mais tempo ficaram com as escolas fechadas, trazendo perdas preocupantes na aprendizagem.

Para recuperar o que foi perdido na pandemia, Costin afirma que o Brasil precisa seguir o exemplo de países com bons sistemas educacionais, assim como de regiões dentro do próprio país, como Pernambuco.

O diferencial, segundo ela, são as escolas em tempo integral. “Nenhum dos 40 primeiros colocados no Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Alunos] tem menos de sete horas de aula [por dia]. [No Brasil] a aula tem que ser muito mais dialogada, tem que ser uma educação ‘mão na massa’, com mais aulas de laboratório, com mais experimentação”, afirma.

Junto a isso, a professora também acrescenta que é necessário mudar a formação inicial dos professores, que hoje ainda é precária e muito afastada da prática, com sete em cada dez professores se graduando por meio da educação à distância.

Segundo Costin, ainda falta muito para que a educação pública brasileira seja exemplo, tanto dentro quanto fora de sala de aula. E a valorização do professor começa, de acordo com ela, com o olhar da sociedade, que precisa ser de admiração e respeito, assim como com melhores salários. “Com as escolas em tempo integral é mais simples, mas mesmo no período parcial, dentro de uma sala de aula, o professor tem que ser apoiado para alfabetizar novamente os alunos, promover um vínculo maior entre o aluno e a escola, mostrar para as famílias porque a criança deve permanecer na escola em vez de ir para um trabalho infantil”, destaca.

AUTISMO

Neurocientista e com diversos trabalhos voltados sobre pessoas dentro do Transtorno do Espectro Autista, Anita Brito ministrou palestra sobre a temática no Londrina Mais. A pesquisadora ressalta que a sociedade precisa parar de padronizar e entender que um austista é diferente do outro.

“O autista não é simplesmente um autista, ele é uma pessoa que também é autista. Ele pode ter altas habilidades, deficiência intelectual, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno do déficit de atenção associado à hiperatividade”, detalha.

Por conta disso, aponta, é necessário primeiro entender o que significa o autismo para que, então, exista uma inclusão social e escolar.

Na escola, ela ressalta que o primeiro passo é o professor ter afetividade pelo que ele está fazendo e ter o objetivo de transformar vidas. “Quando você protege [um aluno autista], você tira ele do caminho dele, então a gente tem que trabalhar para que elas sejam autônomas e felizes e que façam o máximo que conseguirem. Quanto mais a gente protege, mais a gente tira a chance de ela ter autonomia”, destaca.

A falta de aceitação das pessoas e a resistência de médicos em dar o diagnóstico de autismo ainda atrapalham, segundo a pesquisadora. Ela destaca que as coisas mudaram, que a ciência mudou, mas que muitos ainda estão parados no tempo: “muitos médicos se acomodaram e ainda acham que a residência que eles fizeram lá em 1980 está tudo bem para hoje, mas não está, as coisas andaram e a gente precisa andar também”.

UMA BOA HISTÓRIA

“Ler, contar e encantar com histórias” foi o tema da palestra apresentada pela atriz, designer, escritora e youtuber Flávia Scherner, mais conhecida como Fafá Conta. Pela segunda vez no Londrina Mais, ela ressalta que sempre busca estimular os professores a se libertar do pensamento de que para contar uma boa história é necessário usar fantasias, adereços e acessórios. “A gente já tem tudo o que precisa para contar uma boa história, que é a nossa voz e o nosso corpo”, afirma.

Segundo ela, a contação de história proporciona ao aluno entender que ele precisa ter um momento de escuta, de foco e de atenção, que é uma prática, já que ninguém nasce sabendo sentar e escutar: “é insistência, constância e repetição”.

O importante, para ela, é ter esse momento de conexão com os alunos. “A contação de histórias ajuda na criatividade, imaginação, memorização e na solução de problemas”, acrescenta.

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A atriz ressalta que criar rituais com os alunos que demonstrem que aquele é o momento de ter algo diferente em sala de aula é importante, assim como mudar a disposição das cadeiras, sentar no chão ou em uma roda. “O interessante é criar um ritual, mas deve ser algo que funcione para o professor, que pode ser tanto a contação de história quanto cantar uma música ou tocar um instrumento”, explica.