Temperatura média em Londrina foi de 29,9 ºC em 2024
Seguindo a tendência mundial, foi o ano mais quente da história do município, alcançando 2,4ºC acima da média histórica
PUBLICAÇÃO
domingo, 12 de janeiro de 2025
Seguindo a tendência mundial, foi o ano mais quente da história do município, alcançando 2,4ºC acima da média histórica
Reportagem local

O município de Londrina teve em 2024 o ano mais quente da sua história, com média das temperaturas máximas de 29,9 ºC, 1 grau acima do último recorde em 2020 que era de 28,9 ºC e 2,4 graus acima da média histórica. "Parece pouco mais não é, em se tratando de média anual", afirma a agrometeorologista do IDR-Paraná Heverly Morais.
Segundo a pesquisadora, nos últimos seis anos foram quebrados quatro recordes de temperaturas em Londrina e ondas de calor têm se tornado cada vez mais frequentes, intensas e duradouras.
Heverly Morais coloca que, nos últimos seis anos, o clima de Londrina foi caracterizado por verões e primaveras muito quentes. Em outubro de 2020, o termômetro bateu a marca de 40°C, um recorde histórico.
"Esse aumento de calor não se deu apenas em pontos isolados, mas refletiu uma mudança sistemática no padrão climático local, com uma combinação de fatores como o aumento da emissão de gases de efeito estufa, ampliação da urbanização e da pavimentação, redução da área verde, o desmatamento das áreas de entorno, entre outros", explicou a pesquisadora.
O cenário reflete uma tendência global. De acordo com as informações divulgadas pelo centro europeu Copernicus, o ano de 2024 foi o mais quente da história e a emissão de gases de efeito estufa foi identificada como a principal causa do aquecimento, com concentrações de dióxido de carbono atingindo 422 ppm em 2024, o maior aumento anual já registrado.
Redução de chuvas
"Essas temperaturas elevadas em Londrina também decorreram de outra evidência climática observada nos últimos anos no município que foi à redução da precipitação. Houve formações frequentes de bloqueios atmosféricos fortes e duradouros, que são massas de ar quentes e secas que impedem a ocorrência de chuva", explicou Heverly Morais.
Segundo ela, o ano de 2020 foi marcado como o mais seco na história de Londrina desde 1976, quando iniciaram os registros no IDR-Paraná. Choveu 964,4 mm durante todo o ano de 2020, ficando 40% abaixo do esperado que é 1614,2 mm. No ano anterior, em 2019, e em todos os anos subsequentes (2021 a 2024) também foi constatada essa condição de chuva abaixo da média histórica.
A pesquisadora lembra também que além da chuva abaixo do normal, observou-se má distribuição das precipitações, "as quais frequentemente se concentraram em poucos dias havendo longos períodos de estiagem, o que é extremamente desfavorável para a saúde e agricultura".
Outro problema, alerta a agrometeorologista, é a incidência frequente de umidade do ar muito baixa. "Em agosto de 2024 o índice foi extremamente crítico, atingindo 12%, similar ao clima de deserto, deixando a população vulnerável a problemas de saúde, como desidratação, exaustão pelo calor e doenças respiratórias", afirma.
Temperatura no mundo
Além do observatório Copernicus, da União Europeia, várias instituições independentes, incluindo a Nasa (agência espacial americana) e a OMM (Organização Meteorológica Mundial), vinculada à ONU (Organização das Nações Unidas), confirmaram na última sexta-feira (10) que 2024 foi o ano mais quente da história da humanidade, ultrapassando 2023, o recordista anterior.
Em um movimento coordenado inédito, as entidades —as principais em termos de dados de monitoramento climático no mundo— decidiram concentrar a divulgação de seus relatórios. A decisão foi um esforço para chamar a atenção para a gravidade da situação do aquecimento global.
As instituições trabalham com diferentes fontes de dados, além de usarem metodologias distintas para o cálculo das temperaturas do passado. Por isso, há diferenças quanto aos níveis de aquecimento identificados.
Para a maior parte dos conjuntos de dados, 2024 foi o primeiro ano com temperatura média global superior a 1,5°C em comparação aos níveis pré-industriais e, portanto, anteriores à emissão em larga escala de gases causadores de efeito estufa.
No limite
Esse valor, que é considerado pelos cientistas como o limite para impedir as piores consequências do aquecimento do planeta, é também a meta preferencial pactuada no Acordo de Paris, de 2015.
As estimativas mais altas foram as do observatório Copernicus, que calculou que o ano teve aquecimento de 1,6°C em relação ao período anterior à Revolução Industrial, e a da Universidade da Califórnia em Berkeley, com 1,62°C.
A OMM, que analisa os seis principais conjuntos de dados internacionais, indicou que esse aquecimento foi de 1,55°C.
Por outro lado, a Nasa estimou que o incremento em relação aos níveis pré-industriais foi de 1,47°C.
Todas as entidades foram unânimes, contudo, em destacar que os níveis de calor são recordes. Os últimos dez anos (2015-2024) foram os dez mais quentes já registrados no planeta.
"A história do clima está se desenrolando diante de nossos olhos. Não tivemos apenas um ou dois anos recordes, mas uma série completa de dez anos. Isso foi acompanhado por eventos climáticos devastadores e extremos, aumento do nível do mar e derretimento do gelo, todos impulsionados por níveis recordes de gases de efeito estufa vinculados às atividades humanas", disse a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo.
`Cada fração de grau de aquecimento importa´
Os cientistas têm destacado que, embora 2024 tenha provavelmente ultrapassado a cifra de 1,5°C de aquecimento, isso não significa que essa barreira tenha sido definitivamente rompida. Para isso acontecer, seriam necessários vários anos acima desse número.
"É importante enfatizar que um único ano com mais de 1,5°C não significa que falhamos em alcançar as metas de temperatura de longo prazo do Acordo de Paris, que são medidas ao longo de décadas, não de um ano individual. No entanto, é essencial reconhecer que cada fração de grau de aquecimento importa. Seja abaixo ou acima de 1,5°C de aquecimento, cada incremento adicional aumenta os impactos em nossas vidas, economias e no planeta", afirmou Saulo.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também se manifestou nesse sentido e convocou os países a entregarem, neste ano, novos planos de ação climática que permitam limitar o aquecimento em 1,5°C.
"Anos individuais ultrapassando o limite de 1,5°C não significam que a meta de longo prazo foi abandonada. Significa que precisamos lutar ainda mais para voltar aos trilhos. Temperaturas escaldantes em 2024 exigem ações climáticas revolucionárias em 2025", afirmou. "Ainda há tempo para evitar o pior da catástrofe climática. Mas os líderes precisam agir agora."
O fenômeno climático El Niño, que esteve presente no primeiro semestre de 2024, contribuiu para a elevação recorde das temperaturas até a metade do ano. Ainda que tenha favorecido o cenário, os pesquisadores reforçam que os níveis recordes de gases de efeito estufa na atmosfera são os principais responsáveis pela situação de aquecimento do planeta.
Neste começo de 2025, porém, o mundo está sob o efeito do fenômeno inverso, o La Niña, que contribui para temperaturas mais amenas.
Por conta disso, "é menos provável que 2025 seja mais quente [que 2024]", disse Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais, da Nasa.
Ainda assim, reforçou o cientista, o aquecimento do planeta só será verdadeiramente freado com uma redução significativa das emissões de gases-estufa. (Com Giuliana Miranda, da Folhapress)

