O secretário de Estado de Saúde, Beto Preto, decretou na quinta-feira (26) a suspensão temporária da realização dos procedimentos cirúrgicos eletivos hospitalares, em face do surto expressivo de casos de Covid-19 no estado do Paraná, colocando em risco o número de vagas para leitos de UTI e enfermaria. A medida entrará em vigor a partir do dia 1° de dezembro. Segundo o secretário, a resolução 1.412/2020 foi feita pensando em oportunidades de ampliar leitos nos hospitais do Paraná no combate ao coronavírus. “E também porque as equipes estão muito extenuadas: médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. O número de casos de coronavírus está crescendo neste momento e expor pacientes a cirurgias eletivas é expor a riscos. A resolução vale por 30 dias. Eu me coloco solidário a todos que tinham marcado cirurgias eletivas, que vão ficar para um primeiro momento pós- pandemia. Espero que compreendam que vivemos um momento muito difícil, que é a subida de casos”, declarou.

A partir do dia 1° de dezembro as cirurgias eletivas estarão suspensas.
A partir do dia 1° de dezembro as cirurgias eletivas estarão suspensas. | Foto: Sérgio Ranalli/Grupo Folha

Questionado se as cirurgias eletivas serão retomadas, ele respondeu que a Secretaria de Estado de Saúde, o Ministério da Saúde e as Secretarias Municipais de Saúde vêm conversando sobre a possibilidade de realização de um grande mutirão de cirurgias eletivas pós-pandemia. “Claro que gostaríamos de retomar essas cirurgias antes do fim da pandemia, mas neste momento o número de casos de coronavírus no Paraná subiu muito, por isso é importante restringir. Colocamos o prazo de 30 dias, mas se for necessário podemos ampliar esse período ou interromper após esses 30 dias.”

MEDIDAS MAIS DURAS

Interpelado sobre a possibilidade do Estado tomar medidas mais duras caso a curva de contaminação aumente, ele respondeu que a Sesa possui em seu radar tanto medidas de flexibilização como medidas de restrição. “A saúde pública não é entendida no primeiro momento, mas trabalhamos 100% do tempo tentando prevenir, remediar e principalmente garantir e salvar vidas dos paranaenses. Nesse momento em que os casos estão subindo, estamos analisando. Se for necessário tomar medidas mais duras estamos preparados para isso também”, declarou.

Questionado sobre a possibilidade de restringir a mobilidade por meio de decreto, o chamado lockdown, ele apontou que trabalhará para não optar por esse modelo de restrição. “Faremos isso no sentido de que o lockdown não aconteça. Por isso a necessidade de ganhar as pessoas pelo convencimento, pela opinião pública. Toda a possibilidade de levar informações se reveste de fundamental importância neste momento”, afirmou. Ele pede aos jovens para não participar de aglomerações de caráter algum, principalmente festas, aglomerações na frente dos bares ou churrascos entre os amigos. “Todas as ações que podem causar aglomerações são muito complicadas. A maior quantidade de casos de coronavírus no Paraná hoje é relacionada aos jovens de até 39 anos de idade. Precisamos de todos para não proliferar e não aumentar a velocidade de contágio, tendo em vista que ele está muito alto no Estado. A transmissão é comunitária e o vírus está circulando.

O secretário refuta a ideia de que o Estado está vivendo uma segunda onda da pandemia. “Pelo fato de não chegarmos à base, de quase zerar o número de casos por dia, nós não conseguimos caracterizar esse crescimento como uma segunda onda. Na verdade é uma reagudização do número de casos. Ainda estamos na primeira onda, o que não era esperado neste momento. Isso é fruto de feriados e do movimento eleitoral. Tudo isso culminou neste momento que estamos vivendo e se aproxima de uma ocupação grande de leitos hospitalares, principalmente na região de Curitiba e região metropolitana."

Ele ressaltou que todo esforço que a secretaria faz é de dotar a rede de capacidade de atendimento de casos de Covid-19. “Os hospitais têm reclamado que os leitos estão se exaurindo e não têm mais capacidade técnica de abrir novos leitos. Contratamos mais leitos e já voltamos a apresentar 38 leitos de UTI no Hospital de Reabilitação de Curitiba, que foram abertos há uma semana. Agora estamos comprando mais leitos e estamos fazendo novos contratos. Queremos ofertar até o fim desta semana mais 200 leitos na RMC (Região Metropolitana de Curitiba)", projetou. Ele garantiu que irá abrir mais leitos na região Oeste, na região de Guarapuava e na região de Maringá. "Estamos nos preparando para fazer isso na macrorregião Norte do Estado, caso o número de pessoas contaminadas pelo coronavírus volte a subir também naquela região", afirmou.

MATERIAL HUMANO E INSUMOS LIMITADOS

Embora a aquisição de novos espaços de internação esteja em curso, o secretário analisa que a quantidade de insumos e também de pessoas que trabalham na saúde é limitada. “Os trabalhadores da saúde, os hospitais, os insumos para o atendimento, sejam eles de enfermagem ou os medicamentos à disposição, tudo isso tem um limite e estamos próximos de bater esse limite”, alertou.

Ele chama a atenção para a possibilidade de reduzir os atendimentos de outras ocorrências que poderiam ser evitadas. “Enquanto trabalhamos contra o coronavírus, a vida continua seguindo o seu caminho. Algumas pessoas vão enfartar, outras vão ter AVC (acidente vascular cerebral) e isso não conseguimos prevenir. Já os acidentes de automóveis e motocicletas, acidentes com armas de fogo e com arma branca são preveníveis. Por isso a importância de não ficar na balada até de madrugada, não beber e depois sair para dirigir.” Ele ressaltou que os desentendimentos que ocorrem após a ingestão de bebidas alcoólicas podem acabar em briga, que pode ser com uso de arma de fogo ou arma branca. “Um acidentado ou baleado que chega na porta do hospital será atendido, mas isso faz com que muitas das estruturas de saúde sejam voltadas para esse paciente nesse momento que temos quantidades enormes de pessoas com tosse, febre e buscando informações para saber se o que possuem é coronavírus ou não”, afirmou. “À sociedade paranaense neste momento a minha palavra é de tentar conscientizar a opinião pública. Precisamos estar alinhados e eu conto com todos vocês”, concluiu.