Brasília, 06 (AE) - A diretora de saúde pública da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Alice Mochel, teme que a ocorrência de casos de febre amarela em Goiás acabe contaminando a população da capital da República. "Temos fronteira seca com Goiás e, obviamente, a doença pode avançar para o Distrito Federal", comentou. Ano passado, esse Estado registrou sete casos. Hospitais brasilienses começaram a tratar, nesta semana, quatro pacientes com suspeita de terem contraído febre amarela. Um deles, Allison da Costa Neres, morreu na terça-feira.
Ele e a irmã Andréia, com residência em Brasília, viajaram para São Jorge, a cerca de 250 quilômetros da cidade, logo após a ceia de Natal. Voltaram doentes. Os outros dois pacientes também vieram de Goiás da região próxima a São Jorge: um de Colinas do Sul e outro de Cavalcanti. Os exames laboratoriais estão sendo feitos no Instituto Evandro Chagas, em Belém, e Adolfo Lutz, em São Paulo, para confirmar a febre amarela silvestre transmitida pelo mosquito haemagogus depois de contato com macaco contaminado. A febre amarela não é transmitida de pessoa a pessoa diretamente, como uma gripe, é necessário haver a picada do mosquito infectado pelo vírus.
A febre amarela urbana está erradicada desde 1942, mas não deixa de preocupar as autoridades no Distrito Federal porque
além da chegada de pacientes com o quadro clínico de febre amarela (vômito escuro, febre, dor de cabeça e dores pelo corpo)
há na cidade focos do Aedes egypti, vetor transmissor da doença na cidade. Em novembro passado, o Lago Norte, bairro da classe média alta em Brasília foi o local mais infectado: em 15% das edificações encontrou-se a larva ou o próprio aedes.
A diretora de saúde pública acha um absurdo esse resultado porque nesse bairro moram pessoas esclarecidas e mesmo assim não dão o tratamento adequado aos vasos, pneus e vasilhas, reservatórios de água onde o mosquito prolifera. A Secretaria de Saúde passou hoje o dia fazendo visitas a casas no Lago Norte, Planaltina, Candangolândia e vários pontos da cidade para combater o Aedes. Recomendou ainda que as pessoas tomem vacina. "A população tem idéia de que somente deve tomar a vacina quando vai ao exterior ou ao Norte do País". Perda - Morando há mais de 20 anos em Brasília, o bancário Raimundo Nonato Neres, pai do jovem que faleceu com suspeita de ter contraído a doença, diz que nunca imaginou que ele e sua família pudessem ter febre amarela. Na opinião dele, faltaram campanhas de esclarecimento. A filha ainda está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Luzia, sem previsão de alta. O diagnóstico de febre amarela somente será confirmado com o resultados dos exames que levam 15 dias para ficar prontos. Mas o hospital já notificou os casos dos irmãos à Secretaria de Saúde como suspeita de febre amarela.
Neres reclamou hoje do atendimento dado a seu filho em outro hospital, o Santa Helena. Segundo ele, o médico fez diagnóstico errado, atribuindo os sintomas à gastrite e infecção intestinal e não internou Allison. "Perdemos 30 horas, se ele tivesse sido medicado a tempo teria resistido", contou, lembrando que os filhos saíram para São Jorge, logo após a ceia de Natal, e voltaram no dia 1º. Para Neres, o médico agiu com imperícia e estuda a possibilidade de processá-lo. A direção do hospital não quis se pronunciar sobre o caso.
O diretor do Centro Nacional de Epidemiologia da Fundação Nacional de Saúde, Jarbas Barbosa, recomenda a quem faz turismo rural ou se desloque para as regiões onde há febre amarela - oeste do Maranhão, Centro-Oeste e Norte do País - deve tomar vacina com validade por dez anos e que pode ser aplicada a partir de seis meses de idade. Os moradores dessas localidades também devem procurar um posto de saúde.
Há 40 milhões de doses disponíveis. Segundo Barbosa, estima-se a ocorrência de 120 casos por ano, de variados graus de gravidade. A forma mais branda pode ser confundida com uma virose qualquer, já a aguda afeta principalmente o fígado, provocando hemorragia e pode levar à morte. A maioria dos casos não é notificada.