Murilo Fiuza de Melo
Agência Estado
Do Rio
O supervisor de operação de Dutos e Terminais do Sudeste (DTSE) da Petrobras, José Hermes Valle Lima, admitiu ontem, em depoimento à Polícia Federal, que falhou no controle da entrada e saída de combustível do duto PE-2. O rompimento do duto provocou o vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara, dia 18 de janeiro.
Na primeira verificação de bombeamento de óleo, às 3 horas da madrugada do dia 18, já era possível verificar falha no sistema. Os dados apontavam para uma diferença de cerca de 650 mil litros, mais de 15% do volume total de óleo bombeado da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), na Baixada Fluminense, para o terminal de abastecimento da Ilha D’Água, perto da Ilha do Governador.
Lima, o chefe da equipe de plantão no dia do acidente, subestimou essa diferença no volume de óleo e só tomou uma atitude na segunda verificação, duas horas depois, quando o problema era muito maior. O erro da equipe de plantão não evitaria o acidente, mas poderia ter impedido o derramamento de 600 mil litros.
Como o inquérito policial está correndo em segredo de Justiça, o depoimento de Lima, prestado ao Núcleo de Prevenção e Repressão a Crimes Ambientais da Polícia Federal, foi sigiloso. Segundo fonte da PF, o supervisor confirmou que naquela madrugada o bombeamento de óleo da Reduc até a Ilha D’Água funcionou manualmente. ‘‘O sistema on line está com problema e esporadicamente ele pára de funcionar’’, disse.
O problema também foi citado pelo supervisor de turno do DTSE, Pedro Ferreira, em seu depoimento à PF na quinta-feira. As declarações dos dois funcionários derrubam o relatório da Petrobras sobre as causas do derramamento, divulgado no dia 25 de janeiro.
No documento, assinado por Laércio Rodrigues Horta, chefe da Assessoria de Segurança e Meio Ambiente de Abastecimento, a comissão interna montada para investigar o acidente afirma que o software de bombeamento da Central de Controle da Reduc – o Gerenciador Operacional Local (GOL) – estava em ‘‘plena normalidade’’. ‘‘O analista de sistema que implantou o GOL na Petrobras há dez anos verificou o software e chegou à conclusão de que ele estava correto’’, disse Horta na ocasião.
A procuradora da República Gisele Elias Porto, que preside inquérito sobre supostas licenças falsas de funcionamento para unidades de produção da Reduc, determinou que a Petrobras providencie ‘‘imediatamente’’ a troca de uma bomba de querosene da refinaria, que está com vazamento. ‘‘A bomba já contém etiqueta de interdição, que indica a necessidade de manutenção, mas continua no local e vazando combustível’’, afirma a procuradora, em seu relatório.
Gisele recomenda ainda que a estatal limpe a área onde está instalado o ‘‘flare’’ – equipamento utilizado para descartar os derivados não utilizados no refino. O local, segundo a procuradora, está ‘‘tomado pela vegetação, que esconde e dificulta o acesso e manipulação dos equipamentos’’.
A Petrobras terá 30 dias para cumprir as recomendações do Ministério Público Federal. Gisele voltou ontem à Reduc para uma segunda inspeção. Na próxima segunda-feira, ela deverá fazer nova recomendação à estatal, sobre o funcionamento dos fornos da refinaria.