Tóquio, 02 (AE-ANSA)- O suicídio do diretor de uma escola secundária de Hiroshima, que não conseguiu fazer com que os professores aceitassem a execução do hino nacional durante uma cerimônia, voltou a abrir o debate sobre esta questão que, junto com o uso da bandeira japonesa, simboliza as ambiguidades e as feridas ainda não cicatrizadas do Japão de pós-guerra.
O hino "Kimigayo" (A Era de Sua Majestade) e o "Hinomaru" (Sol Levante) nunca foram oficialmente reconhecidos pela Constituição ou por qualquer outra lei.
Ainda que têm sido usados durante 54 anos por costume, continuam sendo rechaçados por grande parte da esquerda, que vê neles um sinal da continuidade do passado imperialista.
Hoje, aproveitando a situação criada pelo trágico gesto do diretor da escola, o porta-voz do governo, Hiromu Nonaka, anunciou a intenção do executivo de eliminar qualquer dúvida sobre a questão com uma lei.
"Chegou o momento de esclarecer a questão do hino e da bandeira, que há muito tempo foram aceitos como tal", afirmou Nonaka, acrescentando que recebeu do primeiro-ministro Keizo Obuchi a tarefa de ocupar-se pessoalmente da questão.
A disputa é revivida todo ano nesta época, com as ceremônias de entrega de diplomas celebradas nas escolas.
O Ministério de Educação Pública pede que se exponha a bandeira nacional, modificada depois da Segunda Guerra Mundial apenas com a eliminação dos raios solares, e se cante o hino, que continua sendo o mesmo de antes e durante o conflito.
Embora que nacionalmente 80% das escolas respeitem a orientação, nas grandes cidades só numa pequena minoria de colégios se canta o Kimigayo. Menos de 4 por cento em Tóquio e menos de 20 por cento em Hiroshima.
Nos anos 60 e 70, os ativistas do sindicato dos professores Nikkyoso, dominado pela esquerda, chegaram a expressar sua oposição queimando a bandeira.
Este ano as autoridades da prefeitura de Hiroshima insistiram que fosse cantado o hino. O diretor Takenori Kanzaki, de 58 anos - pressionado pelo pedido superior e pelo rechaço dos professores e depois de dias de tentativas - se enforcou no domingo, na véspera da cerimônia.
O "triste incidente", como o definiu Nonaka, poderia permitir agora uma clarificação, em um país onde as regras não escritas e os costumes valem às vezes como leis.
O líder do Partido Comunista, Tetsuzo Fuwa, afirmou recentemente que estava pronto para discutir uma lei sobre a matéria. O Partido Socialista reconheceu o hino e a bandeira em 1994, quando seu líder Tomiichi Murayama foi nomeado primeiro-ministro.