Soldado acusa PM de AL de omissão sobre ameaças de morte
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quarta-feira, 29 de março de 2000
Por Ricardo Rodrigues
Maceió, 30 (AE) - O comando da Polícia Militar de Alagoas omitiu, durante oito meses, as ameaças de morte que vinha sofrendo o soldado Josemar Faustino dos Santos, ex-segurança do empresário Paulo César Farias, o PC. A revelação foi feita hoje pelo militar ao juiz Alberto Jorge Correia Lima, durante a audiência dos quatro PMs acusados de ter assassinado PC Farias e a namorada dele, Suzana Marcolino, em 23 de junho de 1996.
O comandante da PM, coronel Ronaldo dos Santos, foi questionado, na época, pela imprensa sobre as ameaças de morte que familiares de Faustino dos Santos haviam comentado com vizinhos, no bairro do Ponta da Barra, periferia de Maceió. Ronaldo dos Santos disse, naquela ocasião, que, "oficialmente"
não havia tomado conhecimento das ameaças.
"Extraoficialmente, não tomo conhecimento de nada", comentou Ronaldo dos Santos. Para o juiz, a revelação de Faustino dos Santos foi o fato mais relevante dos depoimentos dos quatro PMs. O militar revelou pela primeira vez, em juízo, que foi ameaçado de morte, quatro vezes, logo após a reabertura do caso. Ele disse que tão logo recebeu a primeira ameaça, comunicou o fato ao Serviço de Inteligência da PM, mas não soube dizer quais as providências tomadas.
O juiz estranhou porque a PM não comunicou o fato à Justiça. Ele vai pedir informações ao comando da PM e pedir a quebra de sigilo telefônico de Faustino dos Santos para tentar identificar quem e porquê ameaçou. Os depoimentos dos demais PMs acusados (Reinaldo Correia de Lima Filho, Adeilton Costa dos Santos e José Geraldo da Silva) não revelaram novidades.
Segundo Faustino dos Santos, a primeira ameaça foi em 29 de junho de 1999, às 15h17, para o telefone da mãe dele, Maria Nalva Faustino. A ligação foi a cobrar e partiu de um celular. Do outro lado da linha, uma voz masculina fez a ameaça de morte. Em 14 de julho, às 13h38, outra ameaça. Desta vez, quem ao telefone supostamente deu mtiro e disse: "Tá ouvindo?; a outra bala é para o Josemar."
Em 17 de julho, a família recebeu outra ligação ameaçadora, também de celular. A última ameaça foi em 27 de novembro, o que deixou a família do militar preocupada. "Tenho plena convicção de que as ameaças não partiram dos familiares do dr. Paulo César", disse o militar para o juiz.
À tarde, o juiz ouviu os outros quatro ex-funcionários que trabalhavam para PC e que estavam na casa no dia do crime: a caseira Marize Vieira de Carvalho, o marido dela, Leonino Tenório de Carvalho, o garçon Genival da Silva França e o vigia Manoel Alfredo da Silva. Os quatro, a exemplo dos PMs, são acusados pela morte de PC e Suzana. Todos foram denunciados por co-autoria do duplo homicídio e formação de quadrilha.