A professora e pedagoga Gilmara Lupion Moreno é mãe de uma menina de 14 anos e de um menino de dez. Os dois foram adotados bem pequenos. A mais velha, com dois anos e 11 meses, e o caçula, com um ano e três meses. Depois de passar duas vezes pelo processo de adoção, Moreno avalia que a espera é o maior desafio. "É angustiante, é demorada, causa um desgaste muito grande para quem espera e para as crianças que esperam uma família", relata.

Ter de lidar com a expectativa de tornar-se pai ou mãe é muito complicado. Demanda muita informação e exige preparo. "Quando a pessoa não está preparada é um grande desafio porque vai acolher uma criança e um adolescente na casa e na família. Tornar-se pai ou mãe demanda investimento emocional. Filho adotivo é simplesmente filho, mas tem especificidades."

A gravidez é a primeira delas. "Só você sabe que está grávida. Fica anos na fila e, quando o telefone toca, dá um desespero. Não tem enxoval, não tem o preparo de uma mãe biológica. O nosso enxoval é a poupança. A gente vai guardando. Quando chega, muda tudo."

Derrubar mitos e enfrentar preconceitos também faz parte da rotina de mães e pais adotivos e Moreno defende a construção de uma cultura de adoção na escola para que as crianças possam, desde pequenas, entender o processo. "É preciso tirar a imagem de uma maternidade ou paternidade de segunda categoria e colocar como uma outra forma de ser pai e mãe."

Dentro da família, ressalta a professora, os pais precisam estar preparados para lidar com algumas questões que surgem na relação com os filhos adotivos. Uma das que mais geram receio é a curiosidade que as crianças têm de saber quem são seus pais biológicos. "É uma curiosidade humana e as famílias precisam estar preparadas para falar a verdade."

Apesar dos percalços, Moreno está realizada com a decisão pela adoção. "Faria tudo de novo. Entraria na fila, passaria por toda essa angústia, pelo sofrimento da espera. Me sinto realizada como mãe e não tenho problema em dizer que sou mãe por adoção. Meus filhos também lidam bem com essa questão", afirma. "É muito gratificante poder ter essa disponibilidade e ter essas crianças conosco", diz o marido de Moreno, o administrador de empresas José Wilson de Souza, que tem dois filhos biológicos. "Não tem diferença nenhuma os filhos adotivos. São todos iguais, as mesmas dificuldades, os mesmos desafios."

ENCONTRO ESTADUAL
A professora e o marido fazem parte do Instituto de Apoio a Adoção de Crianças e Adolescentes Trilhas do Afeto, do qual Souza é presidente. O grupo londrinense surgiu por incentivo da Vara da Infância e Juventude de Londrina e, além de apoiar os projetos da vara, como o Entrega Legal e o Abrace o Futuro, para apadrinhamento afetivo, também ajuda na preparação dos futuros pais adotivos.

Nos dias 7 e 8 de setembro, o Instituto promove o 3º Encontro Estadual de Adoção com o tema "Cuidado, Afeto e Família: um direito de toda criança e adolescente". O evento é um encontro anual dos grupos de apoio à adoção do Paraná e, nos últimos dois anos, foi realizado em São José dos Pinhais (Região Metropolitana de Curitiba). O encontro funciona como um espaço de troca de experiências, fortalecendo os grupos de apoio à adoção, e apresentação do tema à comunidade. "Nosso objetivo é que as crianças consigam ter suas famílias e que a gente possa contribuir na preparação dos pretendentes à adoção", explicou Moreno.

Toda a comunidade pode participar do encontro, mas o foco principal são os pretendentes à adoção e os profissionais que atuam na área, como psicólogos, advogados, assistentes sociais e pedagogos. Nos dois dias, serão realizadas palestras e mesas redondas com especialistas no assunto de várias partes do País. O evento será realizado no Hotel Crystal, na rua Quintino Bocaiuva, 15.

SERVIÇO - Mais informações sobre o Encontro Estadual de Adoção estão disponíveis no site www.sympla.com.br, clicando em Congresso e Seminário. Informações sobre o Instituto Trilhas do Afeto pelo telefone (43) 3325-0762.