SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apenas 15,5% dos médicos brasileiros se sentem capacitados para atender casos suspeitos e confirmados de Covid-19, em qualquer fase da doença, inclusive quando graves, sob tratamento intensivo.

Um parte deles (11%) se diz disposta a querer aprender como lidar com a doença, mas quase um quinto (18,5%) não está disposto a fazê-lo.

Os resultados são de uma pesquisa realizada pela APM (Associação Paulista de Medicina) com 2.312 médicos de todo o país, entre 9 e 17 de abril. As respostas foram espontâneas, a partir de questionário estuturado online, via plataforma Survey Monkey.

De acordo com o levantamento, 65% dos entrevistados trabalham em hospitais e prontos-socorros que recebem pacientes com Covid-19 e 59% haviam atendido alguém desse grupo.

Outros 34% disseram ter cuidado de pessoas com confirmação da doença. E 13% relatam que acompanharam doentes que acabaram morrendo.

Segundo José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM, o despreparo é preocupante, mas a situação já pode te sido mudada nas últimas semanas porque existem várias iniciativas em curso para capacitar os profissionais de saúde.

Ele afirma que cursos rápidos, de 36 a 48 horas, já conseguem fornecer um treinamento ao profissional médico. "Você não vai conseguir formar um intensivista, porque isso vai demandar dois ou três anos, mas consegue treiná-los para ajudar nas UTIs."

Um outro dado que já pode ter sido mudado desde que a pesquisa foi feita, segundo Amaral, é sobre os serviços de saúde que não dispõem de áreas dedicadas a pacientes com Covid-19.

No levantamento, os médicos relataram que em 30% dos locais onde atuam não havia essa separação. "A pandemia é dinâmica, as coisas mudam rapidamente e essa situação também já pode ter sido mudada."

Conforme o levantamento, 90% dos médicos entrevistados ainda não se submeteram a qualquer tipo de teste diagnóstico para a Covid-19. Mais de um terço deles (34,8%) pertence a grupos de risco, sofrendo de doença cardiovascular, insuficiência renal, obesidade, doença respiratória, hipertensão e/ou diabetes.

Somente 14% dos entrevistados dizem que os locais em que atendem têm testes suficientes para todos os pacientes com sintomas de Covid-19.

Para Amaral, a pesquisa mostra que há carências importantes para um atendimento seguro e para uma prestação de assistência adequada.

"Ainda há pouca disponibilidade de testes, mesmo para os casos suspeitos. Eu mesmo tentei fazer o sorológico, para saber se já tive contato com a doença, e demorei uma semana para conseguir uma agenda", afirma.

A percepção de 86,6% dos médicos consultados é a de que seus colegas estão apreensivos, deprimidos, pessimistas, insatisfeitos e revoltados.

Só 13,4% registram sentir tranquilidade ou otimismo no ambiente de trabalho. Quase um quinto deles (18,5%) estão afastados de familiares para não colocá-los em risco.

Segundo Amaral, a apreensão é compreensível, mas as reações extremadas, que vão do otimismo exagerado à depressão e revolta, não são adequadas.

Para ele , são bem-vindas iniciativas que ofereçam ajuda psicológica aos profissionais de saúde nesse momento. "Eles precisam encontrar significados para si mesmos."

De acordo com Amaral, um fator grande de preocupação dos médicos que estão na linha de frente é em relação às famílias. "Muitos têm filhos pequenos. Mesmo que consigam se isolar, há uma desagregação familiar."