A greve dos professores das creches filantrópicas de Londrina, que chegou ao terceiro dia nesta quinta-feira (15), deve continuar ao menos nesta sexta (16). Uma reunião entre o Sinpro (Sindicato dos Profissionais das Escolas Particulares de Londrina e Norte do Paraná), o vice-prefeito Júnior Santos Rosa (PL) e secretários municipais foi realizado na quinta, mas não houve acordo. O encontro foi marcado às pressas diante de um protesto da categoria no Centro Cívico, pela manhã.

As professoras pedem, via sindicato, uma reposição salarial no percentual da inflação para 2025 e de 15%, além da inflação, para 2026 e 2027, além de outros 10% para 2028, de forma que a diferença salarial em comparação com uma professora de um centro municipal de educação infantil concursada caia de 80% para 40%.

A prefeitura argumenta que repassou para as entidades filantrópicas que mantêm os CEIs (Centros de Educação Infantil) um reajuste de 4,77%, que cobriria a inflação, e que negociações salariais deveriam ficar entre sindicatos patronais e de trabalhadores. O Sinpro, porém, afirma que a construção dos aumentos têm de ser desenvolvidos com a prefeitura, que faz os repasses para as entidades e estas são obrigadas a cumprirem.

NOVA DECISÃO JUDICIAL

Após a reunião a portas fechadas, o presidente do Sinpro, André Cunha, disse que o único avanço foi que a prefeitura assumiu que a conversa tem de ser com a administração municipal. “[Os secretários] dizem que querem diálogo, porém, não sinalizaram com proposta. Ao menos, reconheceram que, antes do início da greve, já estávamos com negociação com a prefeitura, apresentando, até, sugestão [de evolução salarial] por escrito”, afirmou.

Imagem ilustrativa da imagem Sinpro mantém greve das professoras de creches filantrópicas
| Foto: Jéssica Sabbadini

Ele também disse que foi notificado de uma nova decisão judicial que reconheceu a legitimidade do movimento paredista e que vai apresentar uma solução para manutenção de 60% dos serviços nas creches, conforme determinado anteriormente pelo Judiciário, sob pena de multa diária de R$ 5 mil. “Mas, entendemos que as entidades [filantrópicas] e a Secretaria de Educação têm de se envolver para resolver essa situação, para poder saber como vai ser gerido esse trabalho de regime mínimo. Acredito que nem amanhã será resolvido isso”, afirmou.

Cunha também disse que lamenta o transtorno dos pais de alunos, mas afirmou que houve a participação de alguns na manifestação com as professoras, o que demonstra reconhecimento da importância da greve.

“As professoras tiveram a oportunidade de dizer aos secretários um pouco da realidade delas. Eles se sensibilizaram, ninguém teve coragem de dizer que essa situação não precisa ser resolvida. Então, a população sabe disso, que trabalhar com educação é vocação, mas a vocação tem um limite e ele foi ultrapassado”, disse. O Sinpro representa as cerca de 1, 4 mil professoras dos 63 CEIs.

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| Foto: Jéssica Sabbadini

PREFEITURA APOSTA NO DIÁLOGO

Após a reunião, o secretário de Gestão Pública de Londrina, Leonardo Carneiro, reforçou a necessidade de retomar o diálogo, já que, na visão da prefeitura, a greve começou de maneira irregular pelo fato de que nem todas "as conversas foram esgotadas de forma pacífica". Segundo ele, durante a reunião com o sindicato que representa os professores, a prefeitura solicitou também a participação do sindicato patronal, o que não foi aceito pelo Sinpro. "Por lei, a convenção coletiva de trabalho estabelece o salário dos professores, então não tem como ter essa discussão sem a presença da entidade patronal", aponta.

O secretário ressalta que a prefeitura vai seguir fomentando o diálogo entre os sindicatos para que existe essa convenção coletiva de trabalho para chegar a um piso salarial para a categoria. "A gente não pode pular etapas", pontua.

Sobre a situação das creches que estão fechadas, Carneiro afirma ser irregular, já que a liminar expedida pela Justiça determina que pelo menos 60% dos professores devem continuar trabalhando. Quem e como deve ser feito esse trabalho é de responsabilidade do Sinpro definir, alerta o secretário. "Esses 60% dos professores precisam garantir o atendimento de 100% das crianças porque é uma atividade essencial", afirma.

Ele complementa que o município deve acionar, se necessário, em segunda instância, a Justiça para garantir o cumprimento dessa parcela mínima de professores em sala de aula.

NÚMEROS

De acordo com balanço divulgado pela prefeitura pela manhã, 23 CEIs estão fechadas, sendo 12 na zona norte, quatro na zona sul e outras quatro na zona leste e três na zona oeste. Na zona norte, sete instituições estão atendendo, sendo uma total. Na região sul, oito estão em atendimento, sendo duas totais; na leste são 16 CEIs atendendo, sendo 5 total; na oeste são sete em atendimento, sendo cinco total e na zona rural são duas instituições atendendo totalmente.

Apesar de o Sinpro afirmar que a negociação precisa acontecer com a prefeitura, Carneiro pontua que as propostas de reajuste devem ser debatidas com os sindicatos patronais, que vão ver, junto às entidades, a viabilidade econômica. “Agora a gente espera uma demonstração de boa vontade de, primeiro, cessar essa greve que, no nosso entendimento, é ilegal, e estabelecer um ambiente pacífico para uma conversa, para um diálogo”, ressalta.

Carneiro afirmou que existe a possibilidade de o município sentar com as entidades para rever os valores repassados em contrato, mas que esse “problema histórico” não pode ser resolvido “em três meses de gestão” sem antes avaliar os impactos jurídicos e técnicos.

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| Foto: Jéssica Sabbadini

NA LINHA DE FRENTE

Professora há três anos, Juliana Ribeiro pontua que o trabalho desenvolvido nas creches filantrópicas é o mesmo que nas instituições municipais, o que levanta a discussão sobre a disparidade salarial dos docentes. "A gente está aqui para lutar pelos nossos direitos", reforça, acrescentando que a cor preta, trajada pelas professoras, representa a união em prol do reajuste salarial para toda a categoria.

"O sentimento é de desvalorização", garante a professora Aline Deolindo de Oliveira, 38, em relação à disparidade salarial. "Amamos o nosso trabalho, damos a vida, mas nós precisamos ser valorizadas. Se a gente não vem à frente buscar o melhor para a categoria, nada vai mudar", aponta Oliveira, que é professora há seis anos.

"A gente exerce um trabalho muito bonito com as crianças, se preocupa, se doa para eles, deixa os nossos próprios filhos em casa para cuidar deles, o que a gente faz com muito amor", reforça Pamela Santos, 27, há nove anos na profissão. Segundo ela, muitas vezes as professoras tiram dinheiro do próprio bolso para comprar materiais para fazerem alguma atividade diferente com as crianças.

Também há nove anos atuando nas creches filantrópicas de Londrina, Lindaura, 54, disse ter ficado desapontada com o prefeito Tiago Amaral por não ter cumprido a promessa de reajuste da categoria feita durante a campanha eleitoral. "Uma pessoa falar tudo o que ele falou e depois não cumprir é uma tristeza para nós, que trabalhamos com tanto carinho", afirma. (Colaborou Luis Fernando Wiltemburg)

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