São Paulo, 07 (AE) - Olhares incrédulos, choros contidos
conversas reservadas. O enterro do adestrador de cães Edson Neris da Silva, hoje, às 11 horas, no Cemitério Municipal de Itapevi, foi marcado pela indignação de parentes, amigos e conhecidos. Aos 35 anos, ele foi assassinado, na madrugada de domingo, na Praça da República, por um grupo de skinheads.
Cerca de 60 pessoas acompanharam o enterro. O pai de Neris, o pedreiro João Gabriel Raulino, estava abalado. A mãe, Aurelina Neris de Oliveira, carregou durante todo o tempo um buquê de crisântemos que, ao final da cerimônia, depositou sobre a sepultura número 274.
O bispo Hernâni de Araújo Barros, da Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias, do qual Silva era adepto, fez uma oração. Não estavam ali nem o amigo Dario Pereira nem os dois filhos de Silva. Pereira, também atacado pelos carecas, conseguiu fugir.
Entre os presentes, o inconformismo diante da brutalidade. "Não tenho explicação para o que aconteceu, mas acho que a polícia e o governo deveriam dar um fim nisso, nessa gangue, porque meu filho não foi a única vítima", disse a mãe. "Ele era caseiro, delicado e tudo na vida para nós." Aurelina contou que era Silva quem ajudava a família. "Agora, quem é que vai dar um pedaço de pão para eu comer?" O pai e o irmão não quiseram falar com a reportagem.
Os amigos lembram do Silva alegre, generoso, extrovertido e romântico, que gostava de música clássica e divertia todos com histórias sobre sua ostra de estimação. "Ele tirava a roupa do corpo para dar para você", diz a vizinha Jurema Cristina de Oliveira Melo, de 23 anos.
Silva morava num quarto, nos fundos do terreno da família, no Jardim Julieta, em Itapevi. Segundo conhecidos, gostava de sair nos fins de semana, e, na última semana, andava feliz da vida. No sábado à noite, Silva ouviu a recomendação da mãe para não sair. Mas disse que viria a São Paulo e voltaria a tempo para participar de uma festa em Itapevi.